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Casos de HIV crescem e os de Aids seguem estáveis
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Casos de HIV crescem e os de Aids seguem estáveis

Falhas na disponibilidade de assistência estão entre as queixas de usuários e de especialistas da área da saúde
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Metade das pessoas registradas com HIV no Ceará não chegaram à fase de Aids. Entre 2009 e 2019, o Estado contabilizou 11.132 casos de Aids e 11.123 casos de HIV - sendo a notificação compulsória do HIV, especificamente, a partir de 2014. Conforme Telma Martins, articuladora do Grupo de Trabalho IST/Aids e Hepatites Virais, da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), amparada em números divulgados no boletim anual, tem se observado uma estabilização dos número de Aids, com declínio a partir de 2012.

Contudo, tem-se aumentado a taxa de detecção de pessoas com sorologia positiva para o vírus - passando de 2,5 casos/100.000 hab. em 2009 para 21,0 casos/100.00 hab. em 2018. Nos seis primeiros meses de 2020, foram registrados 504 novos casos de HIV no Estado.

O aumento da detecção é explicado por Telma por dois fatores principais: a testagem ampliada e a percepção da diminuição do uso de preservativos. Já para número de casos de Aids, Telma explica que o acesso e a adesão ao tratamento medicamentoso cresceram. Ainda assim, o Ceará mantém uma média de 340 óbitos pela doença por ano - foram 3.440 mortes registradas nos últimos dez anos. A articuladora mensura que o abandono da terapia, que chega a 10% anualmente, e o diagnóstico tardio podem ser entendidos como causas.

O teste por fluído oral, feito por ONGs parceiras em populações-chave, e os autotestes que devem ser disponibilizados a partir de agosto, são algumas das medidas indicadas pela articuladora para mitigar a descoberta tardia da doença. Para o médico infectologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) Guilherme Henn, o fator vulnerabilidade social tem de ser levado em conta tanto na descoberta quanto no abandono ao tratamento.

"Imagina um paciente com HIV que está na zona rural de um município pequeno de interior. Ele chega na fase de Aids pra saber que foi infectado, porque tem algum sintoma, e está há muito tempo sem procurar um serviço de saúde. Essa pessoa vai precisar de consulta com frequência e de remédio antirretroviral e pras infecções oportunistas em um serviço de referência, que não vai estar nem na sede do município dele", observa o infectologista, salientando que, pela dificuldade de acesso, a taxa de letalidade em extratos sociais mais baixos é muito maior do que nos extratos sociais mais altos.

O Ceará tem atualmente 31 Serviços de Assistência Especializada em HIV/Aids (SAE) - 15 deles na Capital e outros 16 em cidades do Interior. O número, considerado baixo, é uma das principais queixas de Credileuda Costa de Azevedo, 49, secretaria política do Movimento nacional das Cidadãs Positivas. Com diagnóstico de soropositividade há 27 anos, Credileuda ainda aponta deficiências nas equipes multidisciplinares completas e na estruturação física dos centros de atendimento. A Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PEP), implementada desde 2017, por exemplo, só está em 13 dos SAE do Estado

As reivindicações também são compartilhadas pela enfermeira coordenadora da casa de adultos da Casa Sol Nascente, Bruna Nojosa. Apesar de salientar a boa tratativa no tratamento dos 20 adultos acolhidos pela casa, feita pelo Hospital São José, a enfermeira afirma que há falhas na rede de assistência, e destaca que não há no Ceará um abrigo público voltado a acolher somente a população vulnerável com HIV. Telma assente quanto à insuficiência de SAE, mas afirma haver um trabalho constante de conscientização das redes municipais para implantação do serviço. E, durante a pandemia de Covid-19, serviços como a distribuição de medicação estão presentes em 21 das 22 regiões de saúde do Estado. 

 

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