Logo O POVO+
Especialistas criticam falta de políticas voltadas a populações-chave
DOM

Especialistas criticam falta de políticas voltadas a populações-chave

O País tem apresentando um recrudescimento de casos entre pessoas mais jovens.
Edição Impressa
Tipo Notícia Por

Tendo apresentado queda no número de mortes por Aids, nos últimos cinco anos, passando de 12,5 mil em 2014 para 10,9 mil em 2018, no Brasil, a população entre a faixa etária de 20 a 34 tem preocupado. No período de 2007 a junho de 2019, essa faixa etária concentrou a maioria dos casos de infecção pelo HIV, com percentual de 52,7% dos casos - 18,2 mil pessoas infectadas. Especialistas também indicam um crescimento dos casos em adolescentes e um retorno de aumento de confirmações em homens que fazem sexo com homens (HSH), e apontam como causas um "desmantelamento" de políticas públicas para atingir os públicos mais suscetíveis.

O País experimentou avanços jurídicos, científicos, medicamentosos, e se tornou referência ainda na década de 1990 no tratamento e na disponibilização universal de medicamento. Contudo, para o psicólogo, doutor em Saúde Coletiva e vice-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), Veriano Terto Jr., o Brasil nos últimos dez anos, e ainda mais acentuadamente desde 2018, tem sofrido uma estagnação e, em certos pontos, retrocessos.

Ele cita a falta de apoio a movimentos da sociedade civil - que inclusive impulsionaram a conscientização sobre a doença e ajudaram na mobilização para pressionar indústrias farmacêuticas a reduzir preços -; a retirada de um setor de Direitos Humanos de dentro das políticas de enfrentamento a Aids; a falta de modelos consolidados e disseminados de educação sexual; e, mais recentemente, a mudança, em maio de 2019, no Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das ISTs, do HIV e Hepatites Virais que foi transformado no Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, que também agrupou tuberculose e hanseníase, que não são de transmissão sexual.

Além disso, Veriano aponta a fala do presidente da República, no início deste ano, que disse que "uma pessoa com HIV é uma despesa para todos". "Saímos dos anos (19)90 em que o soropositivo é chamado de cidadão, e portanto, possuidor de direitos, inclusive do direito à vida, ao tratamento, e a saúde, para anos depois ser tratado como uma despesa, um gasto", criticou.

As campanhas feitas pontualmente, em fevereiro, no Carnaval, no Dia Mundial da Aids, em dezembro, e de forma genérica, sem dialogar com públicos LGBT e outras populações-chave, também é alvo de críticas. "Não adianta dizer que tem acesso universal ao medicamento, se a gente não está prevenindo que infecções aconteçam. Nunca se teve tanta clareza de que a prevenção combinada funciona e, de repente se tem uma interrupção de construir campanhas focadas nessas populações em que tem tido aumento de novo de casos", observa o infectologista Guilherme Henn, que também assinala o subfinanciamento e os corte em pesquisa em curso de pós-graduação.

O que você achou desse conteúdo?