João Milton Cunha de Miranda é bacharel em Direito e licenciado em Educação Física pela Universidade de Fortaleza, mestre e doutor em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará e atualmente é diretor executivo do Instituto de Estudos e Pesquisas sobre o Desenvolvimento (Inesp), órgão da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. O instituto lançou nesta semana o Inesp Ciência, projeto que tem com objetivo tornar as olimpíadas científicas mais acessíveis a alunos da rede pública e privada, assim como analisar dados e resultados de exames educacionais, como o Enem.
Servidor de carreira do Poder Executivo, João Milton acumula experiências vividas em diversos postos que assumiu na Secretaria de Educação (fundou e dirigiu o Centro de Educação de Jovens e Adultos Professor Milton Cunha), Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Coordenadoria de Políticas sobre Drogas, Assessoria para Relações Internacionais e na docência em universidades. "Primeiro funcionário que chega e o último que sai", como faz questão de dizer, se realiza em ser um articulador de pessoas e em envolvê-las por meio do diálogo, qualidades que evidenciou durante a realização desta entrevista.
O POVO - O Inesp consolidou alguns dados sobre os bons resultados que o Ceará tem obtido na educação, mais especificamente no desempenho em olimpíadas científicas e em exames como o Enem. Como se explica isso?
João Milton Miranda - De acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), no ensino fundamental, de 2005 até 2017, o estado que mais conseguiu melhorar o desempenho da 4ª série (5º ano) foi o Ceará. Também foi aqui que se encontrou a melhor rede municipal do Brasil: Sobral, que teve uma média final de 9,1. Imagine uma cidade com mais de 200 mil pessoas ter uma média dessa. Para se ter ideia, o 2º lugar foi uma cidade que não tem nem 5 mil habitantes, que é mais fácil de ter um padrão de qualidade. Entre as 10 melhores, não tem nenhuma outra que tenha sequer 70 mil habitantes. Aliás, a próxima live do Inesp Ciência será com o secretário de Educação de Sobral (no Instagram @joaomilton_inesp_oficial, às 19h de 22 de julho).
OP - Pessoas têm vindo ao Ceará para estudar nos cursos preparatórios daqui.
João Milton - Sim, viramos uma espécie de "hub da educação". É um dos melhores lugares para se preparar para os vestibulares do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e Instituto Militar de Engenharia (IME) e Enem.
OP - Por que o Inesp Ciência está trabalhando a questão das olimpíadas científicas?
João Milton - A partir dos resultados delas (olimpíadas), já se começa a identificar estudantes com alto rendimento. Há meninos que vêm de municípios pequenos do Ceará, de origem humilde, e conseguem medalhas em competições nacionais e internacionais. Os que ganharam as internacionais, a grande maioria está estudando hoje em dia em universidades renomadas como Oxford e Harvard, ou no ITA ou no IME ou nos cursos mais concorridos do País. Queremos massificar no Ceará a participação em olimpíadas científicas e preparar os meninos que não necessariamente ganham prêmios, mas que demonstram ter brilho. Eles são as fagulhas que precisam de incentivo. Queremos aumentar a divulgação e a participação das olimpíadas no Estado.
OP - Qual a estratégia para alcançar esse objetivo?
João Milton - Melhorar a divulgação e fazer que cada vez mais alunos conheçam as olimpíadas. Outra questão é garantir que os inscritos consigam fazer as provas, que precisam ser 100% digitais (algumas já são realizadas via aplicativo de celular), porque distribuir provas de papel no Interior demanda uma logística muito grande. E por fim, colocar pessoas voltadas exclusivamente para as olimpíadas na coordenação delas. Para alcançar estes objetivos, estamos em interlocução com prefeituras, governo, secretarias e diversos outros órgãos, além de políticos e pessoas dos mais diversos setores.