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"Meu plano é continuar incentivando mulheres"
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"Meu plano é continuar incentivando mulheres"

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Com apenas 18 anos, Ivna Ferreira virou representação para outras mulheres (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Com apenas 18 anos, Ivna Ferreira virou representação para outras mulheres

Feminista, determinada e forte. É dessa maneira que a cearense Ivna Gomes, de 18 anos, responde quando perguntam como ela se classifica. Não à toa, as três características se entrelaçam no destino da garota que, há dois anos, venceu a 50° International Chemistry Olympiad (ICHO), olimpíada de química que ocorreu na Eslováquia e deu a Ivna o título de primeira mulher brasileira a conquistar uma medalha de ouro em competições internacionais desse porte.Quase um ano após a vitória, a estudante passou em medicina na Universidade Federal do Ceará (UFC) e foi convidada para participar de um projeto de pesquisa da instituição, que utiliza pele da tilápia para tratar queimaduras.

O POVO - O que representou para você, à época com apenas 16 anos, se tornar a primeira mulher brasileira a ganhar uma medalha de ouro em olimpíada internacional?

Ivna Gomes - Significou muito pra mim no sentido de mostrar que era possível algum brasileiro chegar lá, alguma mulher brasileira chegar lá. Essa representatividade foi o que mais me impactou. Essa imagem que eu passei de estar ocupando o lugar onde muitos jovens querem estar. Para mim, essa conquista foi como abrir portas para que outras pessoas, outras meninas, viessem e fizessem coisas tão ou mais incríveis quanto essa. Muito além de uma vitória pessoal, por se tratar de algo que eu sempre almejei, essa conquista é algo que eu uso para motivar outras pessoas.


OP - Você se considera feminista e fala sobre isso nas redes sociais. A consciência de lutar pelo direito das mulheres veio depois dessa conquista ou era algo que já tinha?

Ivna - Não. Sempre fui antenada nessa causa e debatia a importância do feminismo. Quando eu ganhei o prêmio, muitas mulheres me procuraram para dizer que se sentiram representadas e eu percebi que o grande ponto dessa conquista, a grande questão dessa premiação, era a representatividade que existiu. Isso foi um peso mais importante para mim do que a própria medalha.


OP - Como foi a sua trajetória no ensino e quais as dificuldades que você enfrentou para chegar onde está hoje?

Ivna - Eu sempre estudei no ensino particular, mas todo o meu ensino médio eu estudava com bolsa total. Uma coisa que pesou bastante foi essa falta de representatividade, a falta de conhecimento sobre o que eu podia fazer. Entrei no mundo das olimpíadas quando ainda estava no ensino fundamental e eu não sabia aonde ia, não tinha ideia de que podia chegar tão longe. Acho que isso impacta muita gente. Essa falta de informação, de saber o que pode ser feito, de descobrir onde se pode chegar.


OP - Sua família é de Sobral. Como foi que eles receberam a notícia da sua primeira medalha de ouro internacional? O que isso representou para eles?

Ivna - Eles sempre sabiam que eu estudava muito, mas acho que nem eu nem eles acreditavam que isso podia virar algo tão grandioso, que foi tão veiculado. Eles ficaram bem impressionados na época. Alguns dos meus parentes não tiveram noção do que se tratava isso tudo, mas eu expliquei e eles ficaram bem orgulhosos de mim. Foi uma conquista para todo mundo.


OP - Quais portas se abriram pra você depois da medalha de ouro?

Ivna - Os efeitos dessa conquista são muito grandes para mim até hoje. Eu tive a oportunidade de, logo depois de entrar na UFC, ser chamada para participar do processo científico que usa pele da tilápia para tratar queimaduras, no desenvolvimento também de outros produtos. Tive ainda a oportunidade de lecionar no colégio que estudava. Então, hoje eu dou aula de olimpíada e de monitoria. Várias oportunidades se abriram. Eu consegui passar meus conhecimentos para outras pessoas e ganhar mais visibilidade dentro da universidade.


OP - Hoje você serve de inspiração para muitas mulheres. E para Ivna adolescente, quem serviu de inspiração? Em que você se espelhou para seguir estudando e correr atrás das suas conquistas?

Ivna - Na minha escola eu tinha uma professora, a Vitória Nunes, que era a minha inspiração. Tinha muitas amigas também que me inspiravam, que se destacavam em outras olimpíadas. Alguns outros professores também me serviram de inspiração no processo.


OP - O nordeste tem um histórico positivo em olimpíadas, mas ainda é visto com preconceito em alguns estados do Brasil. O que significa para você, como nordestina, ter alcançado esse prêmio?

Ivna- Você sendo mulher e nordestina conseguindo isso, para mim é uma representação muito grande. É uma região que é estigmatizada, que sofre preconceito e muitas coisas rolam por ai que não é muito legal, sobre a nossa cultura, sobre nosso sotaque e sobre as mulheres, em relação à nossa capacidade e aptidão por ciência. Conseguir essa medalha é algo muito grande para mim, muito importante ver essa “surpresa” de que, como nordestina, ocupo um lugar visto para mim como “improvável”.


OP - Com 18 anos você já tem, no histórico, muitas histórias de conquista. Estuda medicina, participa de um projeto renomado. Quais são os planos da Ivna para o futuro?

Ivna - Eu sou uma pessoa muito indecisa para falar de planos, pois ainda não sei direito o que quero fazer. O que sei é que quero continuar repassando todo conhecimento que adquiri para as pessoas. Quero continuar espalhando essa mensagem de representatividade, de motivação, de inspiração. Espero ser uma médica realizada, uma médica feliz e talvez uma professora feliz. Acho que sempre quero continuar passando essas mensagens para outras pessoas, principalmente para as meninas. Ser essa inspiração para as meninas é algo muito importante para mim. O meu plano é continuar incentivando meninas e mulheres a crescerem.

 

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