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Defensor dos indígenas, Dom Pedro Casaldáliga morre aos 92 anos
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Defensor dos indígenas, Dom Pedro Casaldáliga morre aos 92 anos

| Memória | Nascido na Espanha e um dos principais representantes da Teologia da Libertação na América Latina, o religioso deverá ser enterrado amanhã em São Felix do Araguaia
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Dom Pedro Casaldáliga era bispo 
emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil Dom Pedro Casaldáliga era bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia

O bispo espanhol Dom Pedro Casaldáliga, fervoroso defensor dos indígenas da Amazônia e um dos principais representantes da Teologia da Libertação da América Latina, faleceu ontem, aos 92 anos, no Brasil, onde estava instalado desde 1968. A prelazia de São Félix do Araguaia, no estado de Mato Grosso, da qual Dom Casaldáliga era bispo emérito, anunciou em nota que o falecimento ocorreu pela manhã, no hospital onde estava em terapia intensiva por problemas respiratórios, em Batatais, próximo a São Paulo.

Dom Casaldáliga sofria do Mal de Parkinson. Nascido em 1928 em Balsareny, na Catalunha, foi ordenado padre em 1952 e partiu em missão a São Félix do Araguaia, no coração da Amazônia, em 1968, em plena ditadura militar. Ele se opôs ao regime, aos grandes proprietários de terras e até ao Vaticano, defendendo os trabalhadores sem terra e os povos indígenas.

Vivendo sob a constante ameaça de assassinos de aluguel contratados por latifundiários, o religioso foi um dos fundadores da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Conselho Indígena Missionário (Cimi), duas organizações-chave na luta pela reforma agrária.Em 1998, Dom Pedro Casaldaliga foi chamado a Roma, onde foi submetido a duros interrogatórios do então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Joseph Ratzinger, que 7 anos depois se tornou papa Bento XVI.

Na Espanha, onde a notícia da morte de Casaldáliga ocupou grande espaço na mídia, a porta-voz do governo, María Jesús Montero, manifestou no Twitter seu "reconhecimento e gratidão" ao bispo, por dedicar sua "vida ao serviço dos pobres". Quim Torra, presidente regional da Catalunha, de onde o religioso era originário, agradeceu-lhe no Twitter por "uma vida inteira de luta pela causa do mundo indígena, a igreja dos mais pobres, a paz como resultado da justiça, a libertação de povos oprimidos. Uma vida plena, comprometida e solidária".

No final de julho, ele assinou com 150 outros bispos brasileiros uma crítica aberta ao presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, criticando, em particular, sua "incompetência" e sua "incapacidade" para administrar a crise de saúde do coronavírus, que deixou quase 100.000 mortos em Brasil, incluindo várias centenas de indígenas.lg/mrImagem

O bispo chegou a fazer o teste de covid-19 quando ainda estava em Mato Grosso e o resultado foi negativo. Em função do quadro de saúde, Casaldáliga não conseguia mais falar nem andar. Ele vivia no interior de Mato Grosso assistido por cuidadores. As visitas haviam sido ainda mais restringidas em função do novo coronavírus.

De acordo com o padre Reni Bresolin, missionário claretiano, o corpo de Casaldáliga será embalsamado e velado em três cidades. O primeiro velório começou na tarde de ontem sábado na capela do Claretiano, no Centro Universitário de Batatais, e deve seguir na tarde deste domingo, quando será celebrada uma missa de corpo presente.

De Batatais, o corpo seguirá para Ribeirão Cascalheira (MT). Lá, o velório está marcado para ocorrer no Santuário dos Mártires, a partir de segunda, 10, ainda sem previsão de horário. E, por fim, a última homenagem ao bispo será feita em São Félix do Araguaia, no Centro Comunitário Tia Irene, também sem previsão de data ou horário, seguida do sepultamento. (das agências)

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