Lorrane Silva, a Pequena Lo, de 24 anos, natural de Araxá, Minas Gerais, já deve ter aparecido nas suas redes sociais, ou chegado em formatos de vídeo nos aplicativos de mensagens fazendo performances. Responsável por animar milhares de seguidores e engajar outros milhares, a psicóloga virou referência para o público que adora um humor criativo e espontâneo, carregado de uma narrativa que aproxima e, na maioria das vezes, identifica. Quem nunca mandou um áudio com uma gargalhada para os amigos, teve problemas no envio e precisou refazer a empolgação, gravar e enviar novamente?
São edições assim, que deixam os vídeos da psicóloga Lorrane Silva dinâmicos, chamativos e que nos transportam para alguma ocasião já vivida. Somando Instagram, Twitter e Tik Tok, ela tem mais de 2 milhões e 875 mil seguidores.
Durante live no Instagram do O POVO, Lorrane falou da sua síndrome rara que até hoje não foi identificada, mas está associada com a displasia óssea, das lutas como Pessoa com Deficiência e de como a psicologia tem ajudado, além do novo momento nas redes sociais.
O POVO: Em que momento você decidiu que ser psicóloga?
Lorrane Silva: Costumo falar que eu escolhi a Psicologia, mas ela também me escolheu. Eu não imaginava que seria psicóloga. Pensei em Comunicação Social/Jornalismo e Arquitetura. Resolvi fazer o teste vocacional e deu Psicologia e Jornalismo. Comecei a pesquisar sobre a Psicologia e comecei a me identificar muito. É uma profissão maravilhosa. Você aprende sobre o outro, mas você também se conhece. Penso em atuar, mas não sei, porque cada dia que passa as coisas mudam. No futuro, eu acho que vou atuar. Cheguei a pensar em atuar no início da quarentena. Porém, decidi me dedicar aos vídeos e foi quando minha vida mudou completamente do dia para a noite.
OP: Como você organiza a distribuição dos seus vídeos em cada rede social?
LS: A maioria dos vídeos do Tik Tok eu trago para o Instagram. Não coloco todos por que cada rede social tem seu público. Lá no Tik Tok, o alcance é muito rápido. Já no Instagram, depende muito do vídeo. Mas a maioria dos meus vídeos está alcançando inúmeras pessoas. Eu tento gravar uns quatro vídeos por dia, para deixar guardado e ir soltando durante a semana. Preciso ter essa organização, além de estudar e pensar nos temas dos conteúdos. Meus vídeos geram identificação nas pessoas. Então, minha cabeça não para.
OP: Seus vídeos são espontâneos e geram identificação com o público. O grau de dificuldade é maior?
LS: Eu sempre gostei de me expressar muito. Eu sou muito expressiva. E essa espontaneidade é algo que tenho comigo desde que eu era criança, por que eu sempre tive uma veia cômica e isso veio desde criança. Então, eu acho que essa minha espontaneidade e essas minhas caras e bocas ajudam na atuação e dão um up nos vídeos.
OP: Como foi entrar nas redes sociais sendo uma pessoa com deficiência? De que forma você se posicionou para mostrar que você tem o espaço?
LS: Quando eu comecei, eu pensei em como as pessoas iriam reagir quando me vissem na internet. No início teve comentários maldosos, piadas, porque gerou um certo impacto. As pessoas não estão acostumadas. Quando você foge do padrão da sociedade as pessoas se assustam. Causa estranheza. Mas em nenhum momento eu pensei em desistir por conta dos comentários maldosos. Hora nenhuma eu pensei de parar por comentários assim. E a psicologia me ajudou e me ajuda principalmente hoje, que a minha visão é a seguinte: quando uma pessoa vem te criticar - mesmo que você seja uma figura pública ou não - mas quando uma pessoa te crítica, é uma pessoa que está mal com ela mesma. Então eu não ligo. Não sou eu o problema. É ela.
OP: Quanto à acessibilidade do nosso País, o que precisa melhorar?
LS: A falta de acessibilidade no Brasil é muito grande. Ainda tem muita cidade que não tem rampa. Um simples detalhe como o elevador: para nós que somos baixinhos, dependendo do elevador, a gente não alcança os botões. Prateleiras de supermercados também. Não é errado pedir ajuda, não é isso. Mas queremos ter a nossa independência. Eu ainda consigo me locomover de muletas e com a motinha. Mas têm pessoas que não conseguem sair da cadeira de rodas. Então, precisam chamar as pessoas da rua para carregar. E dependendo da pessoa, ela fica envergonhada de pedir ajuda.
OP: Você tem recebido mensagens de pessoas com deficiência?
LS: Recebo muitas mensagens de deficientes, me agradecendo por levar essa mensagem de representatividade. Além do humor, automaticamente, estou levando as mudanças para as pessoas terem uma visão sobre os deficientes. A gente pode, sim, se expressar na internet. Somos capazes de realizar nossos sonhos. Eu fico muito feliz de estar levando o nome dos PCDs.
OP: Quais os planos para o próximo ano, você pretende seguir trabalhando com redes sociais? Ouvi dizer que você gostaria de ser atriz. É verdade?
LS: Quero muito ser atriz. Até mesmo ter um programa meu, quem sabe. Fazer stand up também é um dos meus projetos. Mas a primeira coisa que quero fazer é teatro, e a partir disso eu vou ver pra onde vou me direcionar, se é atriz ou ter um programa de televisão. Eu gosto muito de encenar.
OP: Como é inspirar uma geração em 2020?
LS: Vou levar esse ano pra sempre na minha vida. No início da pandemia, eu fiquei perdida no que iria criar pra eles. Por que não teria mais as novidades para mostrar, principalmente nos stories. Só dentro de casa o emocional fica abalado, a saúde mental fica um pouco afetada. Quando eu vi que estourou os vídeos e que celebridades e digitais influencers estavam compartilhando, meu público foi aumentando e pra mim foi um prazer enorme ajudar as pessoas com meu humor, em pleno 2020. E gravar me faz muito bem. Quando estou nervosa, irritada ou triste com alguma coisa, vou gravar meus vídeos. Por ser algo que eu gosto, eu esqueço do que estava me fazendo mal. Melhoro totalmente.