Um estrondo foi ouvido em pelo menos oito municípios do Ceará, na manhã de ontem, 10. O barulho foi causado pela queda de um pequeno asteroide, de acordo com o Brazilian Meteor Observation Network (Bramon - Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros). Segundo o astrônomo Lauriston Trindade, os relatos indicam que o meteoro surgiu ao Sul de Fortaleza em direção ao Noroeste, sobre o Maciço de Baturité. Em alguns locais, também houve tremor de terra. O local da queda, no entanto, ainda não foi identificado. A equipe busca mais informações para calcular o destino do objeto.
Pelas informações apuradas, é possível afirmar que o evento foi de grande magnitude, explica Lauriston, astrônomo que faz parte da equipe da Bramon. Embora o asteroide que caiu seja pequeno, ele foi visto em rápido deslocamento, como um meteoro muito luminoso, facilmente visto à luz do dia. "Como o meteoro ocorreu de dia, as nossas câmeras estavam desligadas. Então, precisamos que relatos cheguem. Com imagens, fotos, vídeos…", afirma.
O satélite GOES-16, monitorado pela Bramon, captou a energia liberada pelo meteoro às 6h40min. O equipamento registra a energia de fenômenos como relâmpagos. Contudo, como não houve tempestade, a única explicação para a energia captada seria a entrada do asteroide na atmosfera. "Com o relato da população, não há dúvidas", garante Lauriston, descartando a possibilidade do estrondo no Maciço de Baturité ter sido causado por uma queda de avião. O último evento de queda de meteoro no Ceará ocorreu em Campos Sales, em 1991.
Lauriston explica que, como o som é mais lento que o próprio evento, o estrondo só foi percebido minutos depois da queda. "Pela velocidade que foi relatada por testemunhas, como Orlando Lima, que estava na (avenida) Bezerra de Menezes, o asteroide surgiu ao sul de Fortaleza e desapareceu mais ao oeste", conta o astrônomo.
Lauriston explica que o objeto deve ter se fragmentado no deslocamento em estado de superaquecimento. "Sendo uma rocha espacial, ela aquece muito e começa a se fragmentar, gerando esse estrondo todo. Pela característica, foi um pequeno asteroide que entrou na atmosfera e deve ter gerado meteoritos", detalha. A equipe da Bramon acredita que tenha material em solo, na região do Maciço de Baturité. No entanto, só irão se deslocar até a região, após identificar, por meio de cálculos, onde o asteroide caiu.
De acordo com o astrônomo e professor de Física, Dermeval Carneiro, pelo plasma registrado pelo GOES-16 da Bramon, é possível afirmar "sem dúvida" que a queda do asteroide se tratou de um evento atmosférico intenso.
"Vamos aguardar também relatos de algum achado de meteoritos", acrescenta. "Se caiu em região serrana, o que é provável, fica mais difícil sem algum morador ter encontrado algo". A equipe da Bramon está refinando a localização da área dos fragmentos. Para isso, precisa da contribuição da população, a partir de relatos e imagens capturadas por câmeras que estavam direcionadas para a direção do evento para calcular a trajetória de possíveis fragmentos do meteoro.
O astrônomo Lauriston Trindade explica que também aguarda dados de infrassom do Center for Near-Earth Object Studies (em português, Centro para Estudos de Objetos Próximos à Terra), da Nasa, para verificar a velocidade e calcular a possível área de fragmentos. (Ismia Kariny/Especial para O POVO, Lígia Grillo/Especial para O POVO, Demitri Túlio e Ana Rute Ramires)