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Sinais para a depressão e ansiedade no idoso devem ser observados (Não
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Sinais para a depressão e ansiedade no idoso devem ser observados (Não

Os caminhos para afastar os transtornos da depressão e ansiedade, em um fase da vida em que se precisa de mais atenção e cuidados, são diversos. Os idosos necessitam do apoio familiar e profissional para não esquecerem o autocuidado
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A pandemia rompeu a rotina de Eleonora Veras, 70. Professora aposentada há mais de 20 anos, a mulher preenchia todo o seu tempo livre, entre os cuidados com a casa e com os netos, com atividades: fazia natação, hidroginástica e aulas de geromotricidade, no Serviço Social do Comércio (Sesc), na Parangaba. “Eu adorava trabalhar e me arrependi de ter me aposentado. Com a pandemia, todas as minhas atividades, tudo mesmo parou”, lamenta. No mês de fevereiro último, ela foi visitar os filhos e netos em São Paulo e, quando voltou para casa, a pandemia acabava de ser decretada pelo Governo do Estado.

Antes da pandemia, a semana era completamente preenchida. Reuniões e filmes às sextas, com o Trabalho Social do Idoso, do Sesc. De segunda a quinta, natação e hidroginástica. Aos sábados, não perdia uma sessão do Café com Cinema, de exibição de filmes, também no Sesc. A tristeza e a falta de esperança foram invadindo a vida da mulher.

Uma dos cinco filhos mora bem próximo à casa de Eleonora. Agora na pandemia, os contatos com a neta mais nova, de 17 anos, era somente de longe, pela janela. Os pedidos de bênção e os desejos para Deus abençoar saíam com a voz trêmula e entre olhos marejados. A tristeza que deveria ser passageira foi se transformando em depressão. “Foi ruim demais. Eu sei, não estou sendo grata a Deus pela minha saúde. Não tinha como não entrar em depressão. Sair das minhas atividades, não poder colocar os pés na calçada. Comecei a ter insônia, passava a noite acordada, só pensando em quando tudo isso ia passar”, conta ela. Somente com a ajuda de um profissional médico é que a mulher conseguiu romper com a angústia.

Perceber que há algo de diferente com um idoso é papel de cada adulto que convive com ele. Para a terapeuta ocupacional Kamylle Guanabara, especialista em gerontologia, nem sempre a pessoa com depressão ou ansiedade pede auxílio. Então é fundamental estar atento aos sinais. “Perceber como está o idoso, se ele está mais calado que antes, se não está mais socializando, envolvido em atividades como, por exemplo, antes da pandemia”, elenca.

E é neste momento que entra o apoio de filhos, netos e companheiros. A terapeuta diz que o sinal mais claro desse tipo de transtorno é a falta de socialização, a princípio, dentro do próprio ambiente familiar. “Se o idoso não está mais envolvido a fazer as atividades que realizava antes da pandemia é um sinal de alerta. Delegar tarefas a essa pessoa pode fazer com que ela se sinta útil e importante”, completa.

Atividades como jogos de tabuleiro, em que toda a família participe junto podem ajudar o idoso a se ver como parte e atuante dentro do grupo. Outro exercício importante para ser estimulado, ainda de acordo com a especialista, é a de contação de histórias. “Todo idoso gosta de repartir as suas experiências para filhos e netos. Assim, ele vai se sentir valorizado e protagonista em relembrar grandes momentos de suas vidas”. Reforçar a conquista pessoal em outras fases pode ajudar a dar estímulo. Em tempos de pandemia e de distanciamento social, os exercícios físicos leves e moderados, como uma caminhada, podem fazer a diferença.

A dica da terapeuta é em os familiares reforçarem as conquistas do passado da pessoa idosa e mostrar a ela que, assim como conseguiram superar os problemas do passado, a fase ruim de agora também vai passar.

Tentar favorecer novas aprendizagens e o uso das novas tecnologias, como tablets e celulares pode fazer com que o idoso se sinta participante da vida social. “Usar ferramentas de tecnologia, como as vídeochamadas deixa o idoso mais próximo dos familiares e amigos, para que ele não se sinta tão afastado dos vínculos sociais”.
A busca deve ser em construir atividades significativas e o mais importante: que o idoso goste de realizar e o faça se sentir mais produtivo e integrado.

Um ponto importante a ser observado é que no atendimento ambulatorial das unidades de saúde em geral e, em particular, do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), ligado à Universidade Federal do Ceará (UFC) é o do impacto emocional da pandemia para a população idosa. O médico João Macedo, diretor da Faculdade de Medicina da UFC e professor de geriatria do curso destaca o aumento de casos de idosos com sintomas depressivos durante o pico da pandemia. “Chama a atenção para a importância do contato social. Todos sabemos da relevância do contato social para a vida em sociedade, sobretudo a do idoso.

“Durante o pico da pandemia foi possível verificar ainda mais a dimensão do convívio social em pessoas de idades avançadas influenciando diretamente sintomas emocionais e até doenças físicas”, relata. Isso leva à reflexão, ainda de acordo com o geriatra, da necessidade fundamental que a sociedade tem em desenvolver cada vez mais redes de apoio para pessoas idosas numa população que está cada vez mais envelhecida.

Muitos idosos vivem sozinhos por serem solteiros, viúvos ou ainda por não terem o apoio familiar. É dever da sociedade, ainda de acordo com o professor, criar condições e espaços, seja em centros de convivência para idosos seja em clubes comunitários e recreativos para essa população. “Em menos de 50 anos, teremos mais idosos do que jovens na população. Temos que nos preparar, enquanto sociedade. Isso não é somente uma questão do ponto de vista humanista, de dar apoio e suporte, mas é tão importante para a saúde pública quanto a vacina”.

O idoso que participa de atividades sociais tem menor taxa de hospitalização e melhor estabilização das doenças. Isso ocorre porque, de acordo com o geriatra, o paciente que se envolve em tarefas é mais presente em clínicas médicas e consultórios, não deixa de tomar as medicações, se alimenta de forma mais saudável. Os exercícios físicos tem uma função biológica, de acordo com o professor, que é a liberação de endorfinas e a inibição da recaptação de serotonina.

A prática de atividades físicas realiza outro ofício, além da prevenção de doenças. Ela tem o papel de estabelecer tarefas o que, segundo o geriatra, ajuda a afastar os transtornos da mente. Tentar delegar tarefas para o idoso, como a de ir fazer pequenas compras no supermercado é uma alternativa apontada pelo professor para fazer com que a pessoa se sinta mais útil. “O idoso já pode sair, usando máscara, por ir caminhar na praça, em ambientes abertos, claro, mantendo o distanciamento social”, recomenda.

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