Há mais de quatro décadas, Klebér Tani dedica sua trajetória profissional ao ensino da meditação transcendental. Já formou mais de 18 mil alunos a partir do seu programa, considerado o mais antigo do Brasil. Com sede no Rio de Janeiro, o curso atua em diversas áreas da sociedade. Formado em Educação Física, Tani é um divulgador da importância da meditação e do descanso na rotina diária e até para o desporto de alto nível.
Sua carreira, entretanto, começou a ser construída ainda na adolescência. Aos 17 anos, adotou um estilo de vida monástico em busca do autoconhecimento. Durante a vida na floresta, recebeu uma pessoa que o ensinou sobre as várias perspectivas do amor. Impressionado, aprofundou a conversa até conhecer a meditação transcendental. Essa mudança foi tão profunda que decidiu encontrar o guru indiano Maharishi Mahesh Yogi pessoalmente. Após um pedido por carta para morar com ele, foi aceito.
A experiência durou oito meses. Além de ter sido treinado e capacitado como professor, viajou para diversos lugares, como a Índia e Porto Rico. Somente depois, formou-se em educação física. Com isso, passou a orientar atletas e, posteriormente, adentrou no universo empresarial. Convidado do Festival Costume Saudável, realizado em edição on-line neste fim de semana, batemos dois dedos de prosa com ele:
O POVO - Quais são as características da meditação transcendental?
KLEBÉR TANI - A meditação transcendental é uma técnica milenar, que vem de uma tradição consagrada, reconhecida mundialmente. Ela é extremamente natural. Por isso, é possível ensinar para uma criança a partir dos cinco anos. Dá para fazer no metrô, em qualquer lugar, porque é muito bem adaptada à vida moderna. Ainda provoca efeitos em um espaço de tempo muito curto, em questão de dias.
OP - Como a técnica surgiu?
KT - A técnica chegou no ocidente na década de 1960 por meio do físico Maharishi Mahesh Yogi. Este, por sua vez, aprendeu através de seu mestre. Essa tradição é um dos aspectos que diferenciam a meditação transcendental. Aqui no Brasil, a técnica surgiu provavelmente no início da década de 1970. Eu aprendi um pouco depois.
OP - Quais são as mudanças que a meditação transcendental provoca na mente e no corpo?
KT - Ela diminui a excitação mental e aumenta o estado de clareza mental. Melhora a memória, a concentração, a criatividade e torna o raciocínio mais rápido. O nível de memória também cresce muito. No que tange a fisiologia, provoca um estado de relaxamento mais profundo que o sono. É um antídoto para o estresse. As pessoas que seguem a técnica regularmente após os 40 anos têm mais longevidade. Por melhorar o comportamento e a estabilidade, é utilizada em empresas. No Rio de Janeiro, por exemplo, é praticada pela Polícia Militar para diminuir o estresse pós-traumático.
OP - Qual a relação entre meditação, repouso e atividade física?
KT - Para você aumentar a sua carga de atividade física, o que chamamos de sobrecarga, é necessário uma grande capacidade de recuperação. Caso contrário, a carga vai causar lesões e gerar doenças no corpo devido ao excesso de estresse. A meditação transcendental traz um nível de relaxamento tão profundo que a recuperação do atleta é extremamente eficiente. Não adianta você dar muito estímulo se a qualidade do repouso não for pertinente. Outro exemplo é uma pessoa que trabalha incessantemente, que tem filhos, etc. Se ela não tiver um sono noturno bom, vai adoecer. Como normalmente não dormimos profundamente, precisa-se de um agente coadjuvante. É nesse momento que a meditação transcendental entra. Assim, a técnica não serve apenas para atletas, mas para qualquer pessoa que esteja sobrecarregada.
OP - Como a pandemia alterou a forma que nos relacionamos com a mente e o corpo?
KT - As pessoas não têm o hábito de parar. Todos os dias, são compulsivamente levadas à atividade por causa da velocidade com que as informações passam de um local para o outro. Basicamente, o que você tem é um cérebro sobrecarregado. Por isso, o pensamento não consegue se desenvolver de forma harmoniosa. Quando isso acontece, a ideia de ficar em casa sozinho remete à solidão. Mas, na verdade, as pessoas deveriam se sentir bem por estarem sozinhas. Estar só não deveria ser uma ameaça para sua felicidade. Se você fecha os olhos e se sente mal, é porque algo está errado. Acredito que esse seja o grande problema do mundo moderno. O desenvolvimento tecnológico não traz um sentimento de bem estar. A tecnologia deveria estar ao nosso favor, para termos tempo para aproveitar a vida. Porém, parece que quanto mais a tecnologia avança, menos tempo temos para nós mesmos. Com isso, a pessoa fica projetada para o lado de fora, como se ela só encontrasse felicidade nos outros e nas coisas, mas esse sentimento nasce dentro de nós. Não precisamos entender muito para perceber que a felicidade mora dentro da gente.
OP - De que maneira a meditação transcendental contribui para manter o equilíbrio em períodos tão extremos quanto a pandemia?
KT - É no intervalo entre dois pensamentos que reside a profunda paz interior. Encontra-se um espaço de paz imenso. No nível metabólico, a meditação transcendental auxilia para que o estresse seja eliminado. Quando você está menos estressado, você vai se abalar menos com os impactos à sua volta e terá mais condições de lidar com as pressões diárias. De uma forma muito generalizada, essa é a contribuição para a pandemia.