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Personagem: Incertezas que permeiam a vida profissional
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Personagem: Incertezas que permeiam a vida profissional

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João Gabriel Soares, 25, estudante universitário, demitido no início da pandemia (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE João Gabriel Soares, 25, estudante universitário, demitido no início da pandemia

O estudante universitário João Gabriel Soares, 25, foi demitido do estágio no último mês de abril. Ficar ansioso foi inevitável, em meio a uma situação que descreve como “muito solitária” e repleta de incerteza, solidão, medo, frustração e impotência. À situação econômica do atual contexto, soma-se o receio de não encontrar empresas que o aceitem como é.

“É uma incerteza muito grande que acho que vai permear a minha vida toda e permear a vida de muitos como eu”, afirma. Isso porque, ele conta, pessoas LGBTQIA+ muitas vezes precisam adequar-se a padrões. “Principalmente para quem é da periferia, para quem é LGBT negro e para quem é trans, que é muito marginalizado, isso é muito pior.”

Por morar com a avó, ele restringiu muito as saídas de casa durante o lockdown — um período que caracteriza como “sufocante”. Não poder ver os amigos, que considera família, também o afetou. Estar perto de outras pessoas com vivências parecidas é importante para João Gabriel, e a pandemia o deixou com medo de não mais poder vê-las.

"Gosto muito de estar próximo dos meus amigos que também são LGBTs, nós somos muito unidos. Já sofremos tanto com isolamento, falta de afeto, com essas inseguranças, e ainda mais isso, sabe? Fiquei muito pensativo”, conta.

Hoje mais seguro sobre si e sobre a própria sexualidade, o estudante de Publicidade e Propaganda já viveu momentos complicados em que a autoestima, a autoconfiança, a segurança em si mesmo e a capacidade de confiar nas pessoas foram afetadas por episódios de bullying.

Dos oito aos 15 anos, ele viveu uma fase crítica em que era desrespeitado pelos colegas do bairro onde mora. “Já cuspiram em mim, já me empurraram na parede, todos os dias quando me viam me xingavam”, lembra. Só pararam quando a mãe de João descobriu e brigou com eles. “Mas até lá o estrago já estava feito. Isso causou muitos danos à minha saúde mental.”

Com todo esse cenário, João considera-se privilegiado por ter sido aceito pelos familiares — algo que não é comum a todas as pessoas LGBTQIA+. A mãe, que “de cara” o apoiou, também ajudou no processo de cuidado com a saúde mental.

Por anos, o estudante teve acompanhamento psicológico e psiquiátrico por casos de automutilação e tentativa de suicídio. “Às vezes eu não conseguia respirar por conta de picos de ansiedade, que era algo constante todos os dias. Já passei anos me tratando com medicamentos. Hoje em dia não preciso mais.”

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