Além do impacto para a saúde do paciente a curto prazo, com a melhoria da capacidade respiratória, a reabilitação pulmonar tem potencial para beneficiar a sociedade como um todo. Isso porque o tratamento pode permitir que o paciente retorne às atividades de trabalho ao eliminar ou reduzir as limitações que o impediam de realizá-las.
Um impacto positivo para o sistema de saúde é que um paciente que passa pela reabilitação pulmonar busca menos serviços de emergência, por exemplo. Assim, apesar de existir o custo da iniciativa em si, há redução de gastos com outros serviços. "Tudo isso está comprovado cientificamente. Se temos um custo na manutenção do programa, por outro lado há uma diminuição de custo altíssimo porque os pacientes deixam de se internar. E, hoje, o paciente internado um dia na UTI é muito caro para o Estado", afirma a fisioterapeuta Maria Tereza Aguiar Pessoa Morano, coordenadora do Serviço de Reabilitação Pulmonar do Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes (HM).
O alto custo que a doença pulmonar crônica exerce a níveis econômico e social também é destacado pela fisioterapeuta Patrícia Isidio, especializada em fisioterapia cardiopulmonar e coordenadora do programa de reabilitação pulmonar da Clínica do Tórax. "Esse é um ponto que precisa ser mais considerado pelos órgãos que governam e regulam programas de acesso à saúde para que nossa população possa ter mais serviços de reabilitação pulmonar e consciência de que a decisão do cuidado individual da saúde tem um impacto positivo da redução de custos com a saúde tanto pública quanto privada e garantem melhor qualidade de vida", afirma.
Soraya Viana, fisioterapeuta do Hospital Universitário Walter Cândido (HUWC), concorda sobre os benefícios de longo prazo. "Uma fibrose pulmonar não tratada leva à necessidade de um transplante pulmonar. O SUS (Sistema Único de Saúde), fazendo um investimento nessa fase, vai tirar essa condição dele (do paciente) de fibrose pulmonar o mais rápido possível. Porque as sequelas estão ficando, nós estamos vendo", alerta.
De acordo com ela, o número de pessoas com necessidade de reabilitação ainda pode ser desconhecido. "No primeiro momento, não temos condições de fazer uma TC (tomografia computadorizada) em cada paciente. Os pacientes mais graves estão vindo até a gente. E os que não estão tão graves, mas já estão com alguma sequela e que só vamos notar isso (mais) para frente? Quando o paciente sair do hospital, quanto mais cedo ele for para uma reabilitação pulmonar, melhor."
Maria Tereza chama atenção para a possibilidade de mais pessoas poderem ser beneficiadas com o serviço oferecido pelo Hospital de Messejana. "Não sei se por falta de conhecimento do que temos no hospital, mas acho que ainda é muito pouco e que poderíamos ter um número bem maior e poderíamos cuidar bem melhor da nossa população com a reabilitação pós-Covid-19, com certeza", complementa. Por ano, a média de atendimentos na instituição é de 90 a 98 pacientes. Para ter acesso ao serviço, o paciente deve ser encaminhado por um pneumologista.
Pelo Ministério da Saúde (MS), existe o projeto "Reabilitação Covid-19", executado pelo Hospital Sírio-Libanês no âmbito do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS). A iniciativa dá apoio a cinco hospitais em todo o País na recuperação de pacientes pós-Covid-19. Um deles é o Hospital Geral de Fortaleza (HGF), além do Hospital de Base (DF), do Hospital Municipal de Contagem (MG), do Hospital Geral de Palmas (TO) e do Hospital Geral do Trabalhador (PR). Segundo informações do HGF, o projeto teve início no dia 11 de novembro e terá duração de cerca de 40 dias, com visitas quinzenais e tutoriais semanais para orientação. (Gabriela Custódio)