Sem conseguir emprego de carteira assinada há dois anos, a dona de casa Antonia Gerda do Nascimento, 37 anos, viu na pandemia também minguar os bicos que fazia em uma barraca de lanche no bairro Messejana, em Fortaleza. O trabalho lhe rendia uma média de R$ 60 a diária, que ela conseguia garantir o sustento dela e do filho de 13 anos.
“Quando a pandemia começou, perdemos tudo porque a barraquinha não funcionou mais”, diz.
A situação só não ficou pior por conta da turbinada dada nos programas de transferência de renda do Governo. O valor de R$ 180 que recebia mensalmente como beneficiária do Bolsa Família passou para R$ 1.200.
“É mais ou menos o que eu ganhava antes com o dinheiro do Bolsa Família e mais meu trabalho. E eu usei o dinheiro para pagar aluguel e alimentação, principalmente, e também para pagar algumas contas como água, luz e as coisas que meu filho precisa”.
Quando o benefício foi reduzido à metade, ela fez todo um malabarismo para se ajustar ao novo orçamento doméstico. Deixou de pagar algumas contas, reduziu gastos e espaçou mais as refeições, por exemplo.
Porém, nada disso se aproxima da apreensão com que está agora, quando já não sabe como vai sobreviver a partir do mês que vem, quando voltará a receber apenas os R$ 180 do Bolsa Família.
“É um sentimento que eu nem sei explicar, às vezes, é revolta, medo. Fico apreensiva porque as contas vão chegar e não vai ter mais de onde tirar. É entregar nas mãos de Deus e pedir saúde, força e trabalho”, afirma. Por enquanto, apesar da procura, ainda não prosperou. “Mesmo recebendo o benefício, nunca deixei de procurar emprego, continuo entregando currículo, mas, até agora, nada”.