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Reino Unido, entre divisões e mudanças após Brexit
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Reino Unido, entre divisões e mudanças após Brexit

| Novos rumos | Uma das alterações práticas com o fim do acordo está o fim da livre-circulação de pessoas entre as duas margens do Canal da Mancha
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BORIS JOHNSON espera aumentar a influência do Reino Unido (Foto: Adrian DENNIS / AFP)
Foto: Adrian DENNIS / AFP BORIS JOHNSON espera aumentar a influência do Reino Unido

Depois de completar, no dia 31 de dezembro, o longo e turbulento processo do Brexit, o Reino Unido começou o ano como país "independente" pela primeira vez em quase meio século, com novas regras fronteiriças, importantes desafios e profundas divisões.

Sua saída da União Europeia, assunto que dominou a política britânica desde o polêmico referendo de 2016, completou-se uma hora antes da meia-noite, quando, com o fim do período de transição pós-Brexit, o país abandonou completamente o bloco em que havia entrado em janeiro de 1973.

Agora haverá mudanças práticas: terminou, por exemplo, a livre-circulação de pessoas entre as duas margens do Canal da Mancha. A partir de agora, cidadãos de todos os 27 países europeus precisarão de visto para trabalhar e estudar no Reino Unido, embora aqueles que residiam lá antes da separação manterão seus direitos.

Nas fronteiras de um país que importa grande parte do que consome, voltam a ser realizados controles aduaneiros esquecidos durante décadas, apesar da assinatura de um acordo comercial com Bruxelas que evitou o caos nas trocas.

A associação setorial britânica de transporte rodoviário estimou que, agora, cerca de 220 milhões de novos formulários terão de ser preenchidos a cada ano para permitir que o comércio flua com os países da UE. "Esta é uma mudança revolucionária", disse o diretor-geral da associação, Rod McKenzie, ao The Times na semana que passou.

Outra mudança histórica foi anunciada na quinta-feira, 31, pela ministra espanhola dos Assuntos Exteriores, Arancha González Laya: Londres e Madri chegaram a um acordo de último minuto para deixar aberta a fronteira entre Espanha e Gibraltar. O pequeno território britânico situado no extremo sul da Península Ibérica será integrado ao espaço Schengen europeu para, ao contrário do restante do Reino Unido, manter a liberdade de circulação das pessoas.

Desaparece, assim, o "portão" histórico, a fronteira fechada em 1969 pelo ditador espanhol Francisco Franco, em que a passagem livre - sob controle - foi restaurada somente em 1985, dez anos após sua morte. "Não temos um bom passado com os espanhóis. Vamos ver o que acontece", afirmou Jeff Saez, um funcionário de hotel de 43 anos, que percorria o Rochedo de Gibraltar de bicicleta.

Também na Irlanda do Norte se vigiará de perto a fronteira com a vizinha República da Irlanda - um país-membro da UE -, para garantir que o movimento continue sem restrições. Este é um elemento-chave do Acordo de Paz da Sexta-feira Santa, que encerrou, em 1998, três décadas de um sangrento conflito entre republicanos católicos e unionistas protestantes.

Enquanto isso, na Escócia pró-europeia, a primeira-ministra pró-independência, Nicola Sturgeon, alertou sobre a batalha iminente que se aproxima para conseguir um novo referendo de autodeterminação. Os separatistas já foram derrotados em uma consulta em 2014. "A Escócia estará de volta em breve, Europa. Deixem as luzes acesas", tuitou Sturgeon, cujo partido SNP espera que sua país possa um dia reintegrar a UE como um estado independente.

"O Brexit põe uma barreira entre a minha capacidade de ser escocês e minha capacidade de ser britânico", lamentava o aposentado Bruce Borthick, nas ruas de Edimburgo. "A consequência pode ser que a Escócia não possa continuar fazendo parte do Reino Unido", acrescentou.

Apesar de divisões e dos desafios, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, voltou a prometer a seus compatriotas uma nova era repleta de êxitos e um lugar mais forte no mundo para seu país como campeão do livre-comércio. Com a Presidência britânica do G7 e a organização da grande conferência climática COP26, 2021 será "um ano muito importante" para a influência do Reino Unido, tuitou. (AFP)

 

Da Europa de seis à de 27

O Brexit marca a primeira contração da União Europeia (UE), que volta a ter 27 membros após ter-se expandido incessantemente após sete etapas de adesões.

1957

Itália, Alemanha, Bélgica, França, Luxemburgo e Países Baixos assinam o Tratado de Roma. Estes seis países formam a Comunidade Econômica Europeia (CEE) e a Comunidade Europeia de Energia Atômica (Ceea), origens da União Europeia.

1973

entram Reino Unido, Irlanda e Dinamarca.

1981

Grécia se torna o 10º membro.

1986

adesão de Espanha e Portugal.

1995

Áustria, Suécia e Finlândia aderem à UE, que chega a 15 membros.

2004

a UE atinge 25 membros, ao integrar dez países de uma única vez, muitos deles do antigo bloco socialista. Somam-se Estônia, Letônia, Lituânia, República Tcheca, Polônia, Hungria, Eslováquia, Eslovênia, Chipre e Malta.

2007

adesão da Bulgária e da Romênia.

2013

a Croácia se torna o 28º Estado-Membro da UE.

2020

após um referendo em 2016, o Reino Unido se tornou o primeiro Estado-Membro a deixar a União, que volta a ser composta por 27 países.

2021

entrada em vigor do Brexit definitivo.

Fonte: AFP

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