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Digitalização dos bancos não deve servir de ferramenta para exclusão, alerta especialista
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Digitalização dos bancos não deve servir de ferramenta para exclusão, alerta especialista

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Silvana Parente é doutora em Economia e vice-presidente do Corecon  (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Silvana Parente é doutora em Economia e vice-presidente do Corecon

O processo de digitalização dos bancos é bem-vindo, necessário e irreversível, mas não pode ser a única porta de entrada e permanência do usuário. O alerta é da vice-presidente do Conselho Regional de Economia no Ceará (Corecon-CE), Silvana Parente, doutora em Economia Social pela Universidade de Madri.

Ela alerta que, para além da barreira cultural de uma fatia considerável da população, sobretudo, a mais idosa, que tem dificuldade de se adaptar às novas tecnologias, é preciso considerar as diferentes realidades que coabitam um país tão grande e desigual como o Brasil.

"Eu acredito que este não é, ou pelo menos não deveria ser, o fim das agências físicas. Nós temos uma grande parcela da população que vive em áreas onde a internet e o próprio acesso à renda não chegam na mesma velocidade".

Ressalta ainda que não é justificável que o cidadão mais pobre e, muitas vezes, que uma cidade inteira tenha de percorrer longas distâncias em busca de um atendimento bancário presencial em outro município. "Este processo de reestruturação dos bancos não pode somente olhar a questão de reduzir custos, do lucro, é preciso olhar com atenção à função social do sistema financeiro".

Para ela, essa é uma regra que deveria ser seguida, sobretudo, pelos bancos públicos. "A pandemia demonstrou a relevância da Caixa Econômica para viabilizar o pagamento do auxílio emergencial aos mais pobres".

Também cita a experiência da política de microcrédito do Banco do Nordeste, que é centrada na figura do agente de crédito que vai até o cliente e faz a análise de risco do crédito, como outro exemplo da importância desta relação presencial. "E, nos dois casos, são bancos que conseguiram melhorar seus resultados. O que mostra que é possível ter lucro, sem abrir mão de sua função social".

No futuro, a grande tendência é a da especialização do atendimento nas agências físicas. "Não vai acabar, vai mudar o foco do atendimento. Meios de pagamento, isso pode ser facilmente absorvido pelos canais digitais, mas as agências vão funcionar mais como uma espécie de consultoria", diz.

A enfermeira aposentada Lúcia Cordeiro, 68, torce para que um eventual fim das agências físicas ainda esteja bem distante. "Meu filho já instalou aplicativo no meu celular, mas não confio em usar, fico com medo de cair em golpe".

Ela diz que prefere resolver o que tem de fazer diretamente na agência, ainda que isso implique enfrentar filas. "Lá eu falo com com o meu gerente, digo o que preciso, estou vendo o que está sendo feito". 

Já a servidora pública Lucília Lessa, 41, nem se lembra mais quando precisou ir a uma agência bancária. "Mesmo antes da pandemia, eu ia muito raramente e somente quando não tinha outro jeito. Até sacar dinheiro, já quase não faço, porque é tudo tão mais rápido e prático pelo celular ou computador".

 

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