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Fotógrafo polonês compartilha acervo pessoal do Brasil da década de 1970
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Fotógrafo polonês compartilha acervo pessoal do Brasil da década de 1970

Rio de Janeiro, Brasília e Salvador foram alguns dos municípios brasileiros registrados
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A imagem foi registrada em 1976 na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro.  (Foto: Acervo Pessoal / Piotr Ilowiecki )
Foto: Acervo Pessoal / Piotr Ilowiecki A imagem foi registrada em 1976 na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro.

Piotr Ilowiecki passou pouco tempo no Brasil, mas o período foi suficiente para deixar registros importantes nas cidades onde visitou. Filho de economista e especialista em produtos agrícolas, o polonês morou no Rio de Janeiro de 1973 a 1977 com sua família, deixando o país com 16 anos de idade. Mas a juventude de Piotr não foi barreira para seu olhar aguçado para a fotografia.

As imagens feitas pelo então adolescente mostram uma cidade que passou por transformações desde a década de 1970, sendo um convite para o saudosismo inerente aos brasileiros. Além da Cidade Maravilhosa, as lentes da Zorki 4 - câmera que Piotr ganhou de seus pais aos 12 anos, após perceberem o interesse do garoto pela fotografia - registraram também as cidades de Salvador-BA, Ouro Preto-MG e Brasília-DF.


E após compartilhar as fotos em grupos no Facebook que rememoram imagens do Rio de Janeiro em décadas passadas, Piotr resolveu fazer do seu perfil pessoal no Instagram um documentário-histórico. Mesmo sem ter voltado ao Brasil desde que retornou a sua cidade natal, Varsóvia, o fotógrafo amador - que anos depois se tornou arquiteto por causa de sua morada no Brasil e visita a Brasília - continua acompanhando o País por meio do Google Earth.

Por causa da pandemia da Covid-19, a viagem que ele havia marcado para reencontrar amigos da adolescência teve de ser adiada, porém o sonho de vivenciar tudo de perto novamente ainda continua vivo.

Leia entrevista completa com Piotr Ilowiecki, polonês que ganhou destaque após postar imagens do Rio de Janeiro e Salvador na década de 1970.

O POVO - Como foi sua vinda para o Brasil e você conhecia algo sobre o País antes da mudança?

Piotr Ilowiecki - Meu pai e minha mãe já sabiam muitas coisas sobre o Brasil. Ele conheceu o país em 1970, quando visitou as cidades do Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo. Ele tinha costume de viajar, uma vez que era membro das delegações oficiais da Polônia. Em território brasileiro, trabalhou no Escritório Comercial da Embaixada, localizado num edifício com vista espetacular para a Praia de Botafogo.

Viemos para o Brasil em agosto de 1973 e moramos duas ou três semanas na embaixada polonesa. Depois nos mudamos para um apartamento modesto em Ipanema, que tinha aproximadamente 50 m². Lá vivi os 4 anos em que permaneci no País. Depois voltamos para Varsóvia e não mais retornei.


OP - Não teve interesse em voltar desde então?

Ilowiecki - Tive sim, eu havia feito uma programação para retornar ao Brasil a fim de encontrar alguns colegas de escola, mas por conta da pandemia esse sonho teve de ser adiado. Pretendo voltar em breve.

OP - De onde surgiu seu interesse pela fotografia e qual é a sua relação com a arte de fotografar?

Ilowiecki - A fotografia esteve presente na minha vida desde criança. Nos anos 60 não tivemos nenhuma câmara. Na Polônia comunista eram muito caras e difíceis de comprar.
Numa das suas duas viagens a Moscou, meu pai comprou no fim dos anos 60 uma câmera Zorki 4. Era uma cópia da câmara Leica e começou a fotografar.

Quando tinha 10 anos recebi uma câmera muito simples, quase um brinquedo, e fotografava com ela durante dois anos. Quando chegamos no Brasil, eu tinha 12 anos e era meu pai que usava a câmera. Mas depois de um ano, meus pais decidiram dar-me uma Zorki 4. Provavelmente notaram que eu gostava disso e tinha alguma aptidão.

OP - Seus registros mostram algumas cidades do Brasil como Rio de Janeiro, Salvador e Ouro Preto na década de 1970. Elas foram escolhidas propositalmente?

Ilowiecki - Algumas fotografias foram tiradas pelo meu pai durante suas viagens de negócios, enquanto outras foram por mim quando tive oportunidade de lhe acompanhar. Eu não conhecia as cidades antes das visitas. Pessoas da embaixada ou amigos brasileiros recomendavam quais lugares valiam a pena visitar. Naquele tempo eu pensava que todo mundo estava fazendo seus próprios registros.

 


Eu achava que eles estavam tirando mais fotos do que eu. Infelizmente nós não viajamos tanto quanto eu gostaria. Salvador visitei uma vez, assim como Brasília. Fui a São Paulo em duas oportunidades, mas não tenho boas fotos. Nós visitamos várias vezes Petrópolis, Teresópolis, Paraty, e fizemos uma grande excursão a Foz do Iguaçu. Meu pai, algumas vezes, visitou fazendas de café e usinas porque era responsável pela importação de produtos agrícolas à Polônia.

OP- Quando você decidiu compartilhar suas fotografias e experiências conosco?

Ilowiecki - Por muitos anos as fotos ficavam num armário. Há alguns anos atrás, decidi digitalizá-los, mas não fiz nada mais com eles porque não tinha tempo o bastante. Em 2020, após fechar minha empresa de projeção e construção de estandes de exposição, decidi postar as fotos nos dois grupos de Facebook: “O Passado do Rio” e “O Passado do Brasil”. Graças a rede social também renovei o contato com amigos da escola que também gostaram muito das minhas fotos. Tudo isso me incentivou a tentar compartilhar as imagens com o maior número de pessoas possível. Naquele tempo, tantas pessoas tiravam fotos, que provavelmente existem ainda muitas outras fotografias da época para serem descobertas.

Graças à minha estada no Brasil, e à viagem que fiz para Brasília, me tornei arquiteto, mas durante toda a vida projetei somente três ou quatro casas/edifícios e vários milhares de estandes de feiras e exposições.

OP - Você transformou seu Instagram em uma conta que documentária-histórica. Pretende também criar um acervo com as fotografias?

Ilowiecki - Meu perfil no Instagram era bastante aleatório e sem propósito nenhum. Até que um dia resolvi transformá-lo em uma conta voltada para compartilhar meus registros. Quando publicava as imagens nos grupos do Facebook, elas eram publicadas também em uma conta no Instagram. Resolvi criar o perfil para concentrar as fotografias em um só local, que fosse meu. Confesso que ainda não pensei sobre isso (criação do acervo).

Quando quis publicar no outro grupo privado ''Rio antigo, fotos antigas" as maioria das fotos não foram aceitas, penso que não são bastante velhas ainda. Não sou historiador. Então, antes de fazer um acervo, talvez poderia fazer uma exibição com ajuda da embaixada do Brasil, com a qual não tenho nenhum contato.

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