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Adriana Runte: sem medo de encarar o mercado de ações
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Adriana Runte: sem medo de encarar o mercado de ações

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Adriana Runte, operadora de mesa da Ativa Investimentos (Foto: Maria Eduarda Barreto/ Divulgação)
Foto: Maria Eduarda Barreto/ Divulgação Adriana Runte, operadora de mesa da Ativa Investimentos

Com 35 anos de experiência no mercado financeiro, Adriana Runte, 56 anos, é operadora de mesa da Ativa Investimentos. Em um mercado ainda marcado mais pela presença masculina, a profissional fala dos desafios vividos na construção de sua carreira. O principal foi superar a desconfiança e o machismo no mercado.

Formada em Administração de Empresas pelas Faculdades Integradas Bennett, do Rio de Janeiro, Adriana acredita que a tendência é não ter mais barreiras de gênero para crescer na operação de ações em bolsas de valores. "Hoje em dia, não vejo diferença entre mulheres e homens no mercado financeiro, e as mulheres estão cada mais preparadas e aptas para concorrer a cargos de mesmo nível que os homens."

O POVO - Como é trabalhar em um segmento que era tão masculinizado no seu início e agora avança rumo à inclusão de mais mulheres?

Adriana Runte - Eu comecei no mercado financeiro em 1985, como estagiária da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, uma das primeiras Bolsas a entrar em operação no País e que acabou sendo incorporada pela BM&FBovespa, em 2008. Na época, disputei dez vagas com mais de 100 candidatos, e somente duas mulheres foram aprovadas. Era como se fosse um trainee para rodar a Bolsa inteira. Passei pelo Pregão, pela área de Fiscalização e Risco, três meses depois, fui efetivada. Fico muito feliz em ver o setor crescendo e dando cada vez mais espaço para mulheres. Na Ativa, por exemplo, temos áreas ocupadas exclusivamente por mulheres, como RH e Cadastro. Além disso, nós representamos 27,43% dos colaboradores e 25% dos cargos de liderança da corretora.

OP - O número de investidoras também tem crescido. A que se deve esse movimento?

Adriana - De acordo com a Bolsa de Valores, nos três últimos anos (2018 a 2020), a participação feminina no total de investidores foi de 22,06% para 25,47% no período. Na Ativa não foi diferente. No ano passado, as mulheres representaram um terço dos novos clientes da corretora. Em 2012, o público feminino era de 11,77% e, hoje, elas representam 25% do total de investidores. As mulheres sempre foram mais detalhistas, perfeccionistas, e com o crescimento profissional delas, ocupando cargos de responsabilidade e casando mais tarde, estão tendo que administrar suas finanças e procuram opções melhores de aplicação. Com a internet, elas veem que têm um maior retorno e possibilidades. Sim, as mulheres estão cada vez mais motivadas com o mercado financeiro.

OP - Já sofreu algum tipo de assédio no trabalho ou algum tipo de descrédito por ser mulher?

Adriana - Quando estagiei no Pregão da Bolsa do Rio, logo nos primeiros dias, teve bastante confusão. Eu tinha 21 anos e, quando tive que passar no pregão para conhecer o funcionamento, os operadores ficaram alvoroçados, lançavam olhares. Parecia que estavam em uma festa, querendo se exibir. O diretor do pregão chegou a pedir pra eu trabalhar sossegada em outro local e voltar ao Pregão somente no dia seguinte. Naquele período, também atendia corretoras por telefone, e os operadores de mesa sempre jogavam um charme por eu ser mulher e por ser nova, mas esse tipo de situação nunca me intimidou. Na Ativa, as coisas são diferentes. Sei que ainda existem corretoras que fazem diferença salarial entre homens e mulheres, que acabam ganhando menos mesmo quando ocupam o mesmo cargo. Porém, isso não acontece na Ativa, que respeita muito todas as colaboradoras, e considero isso muito importante para quem quer seguir carreira nessa área.

OP - Os tempos mudaram e a evolução é constante. Até onde poderemos ver as mulheres chegarem no mercado financeiro?

Adriana - Nós mulheres já conquistamos bastante espaço no mercado financeiro, mas ainda podemos evoluir mais. Eu entrei na Bolsa do Rio em uma época de transformação, em que a mulher estava começando a se fortalecer, tive a oportunidade de trabalhar diretamente com a primeira superintendente da Bolsa, Mariamélia Lemos dos Santos, com quem aprendi muito e isso foi importante. Ela era uma mulher de fibra, inteligente e muito respeitada no mercado. Hoje em dia, não vejo diferença entre mulheres e homens no mercado financeiro, e as mulheres estão cada mais preparadas e aptas para concorrer a cargos de mesmo nível que os homens.

 

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