Médica formada pela Universidade Federal do Ceará, Rebeka Lopes decidiu se especializar em acupuntura na graduação, ainda que o curso tivesse ensinado apenas uma porção ínfima do que a especialidade médica se dispunha a fazer pelos pacientes. É que o primeiro contato com a terapia milenar chinesa veio quando a jovem estudante se concentrava no vestibular. A pressão dos estudos conseguiu abalar a ex-atleta e a acupuntura surgiu como uma tábua de salvação.
Hoje é a doutora Rebeka quem “salva” os pacientes. Alguns chegam tão sobrecarregados por problemas físicos e emocionais que imploram para que ela não desista deles. E ela não desiste mesmo. Apesar de não ter experiência com as redes sociais, ela decidiu transmitir lives, gravar conteúdos e escrever postagens que misturam a acupuntura à medicina tradicional, experiência pessoal de vida e também ensinamentos sobre técnicas de respiração, meditação e espiritualidade.
O POVO - Por que você decidiu se especializar em acupuntura?
Rebeka Lopes - Por uma questão pessoal, principalmente. Eu sofri muito na época dos estudos para o vestibular, e foi na acupuntura que consegui alívio para os sintomas da ansiedade. Só que depois que entrei para a universidade, me esqueci o quanto ela me ajudou. Aí passei a sofrer tudo de novo, com as cobranças das disciplinas e o ritmo pesado dos estudos. Então me dei conta de que não só precisava voltar para as sessões, mas também precisava me especializar e trabalhar com isso. Hoje meus pacientes dizem “doutora, não sei por que eu falto às consultas, se me faz tão bem depois. Por favor, não desista de mim”. Eu os entendo e tento ajudar.
O POVO - Eu achava que a acupuntura tratava só as dores físicas.
Rebeka Lopes - Muito do que você chama de “dores físicas” têm causas emocionais. Muitos pacientes chegam até meu consultório depois de terem passado por vários médicos, feito diversos exames, e ninguém ter descoberto o que os acometiam. Daí eu pergunto: você está dormindo bem? Como está seu intestino? As suas relações pessoais vão bem? E as informações vão surgindo ali, de uma simples conversa. Lembrando que “dormir bem” não significa dormir a noite toda e sim, acordar com o corpo descansado.
O POVO - É o que se chama “medicina integrativa”?
Rebeka Lopes - Sim. A universidade não ensina a gente a ter uma visão mais ampla sobre o paciente, o que é uma pena. Muita gente pensa que a saúde é só a ausência de doença, mas não é isso. Saúde é o bem estar físico, mental e social.
O POVO - Você parece estar muito bem fisicamente, mas mesmo assim, fez uma postagem comemorando ter conseguido, depois de dois anos, fazer 10 flexões de braço. O que houve?
Rebeka Lopes - (Risos) Eu nem usava as redes sociais, mas passei a produzir conteúdo para alcançar mais pessoas. Esta pandemia tem mexido com o emocional de todo mundo. Eu gravei o vídeo comemorando porque na época em que ganhei neném, fiquei muito fraca. E olha que eu fui atleta de vôlei na escola, cheguei até a seleção estadual cearense. O que eu fiz foi dar mais atenção ao meu corpo, e eu vi que eu não me dava bem com açúcar, leite e glúten, assim como acontece com muita gente. Mas não adianta falar para as pessoas: “você deveria parar de comer isso ou aquilo”. A vontade tem que surgir delas mesmas. O desejo de mudar é mais forte do que a obrigação.