Uma das rendeiras mais antigas de Fortaleza, Erotides Santos de Abreu, 93, ainda esbanja disposição para fazer rendas e, segundo ela, presentear suas amigas com as peças exclusivas. Uma das fundadoras da feirinha da Beira-Mar e do CeArt (Centro de Artesanato do Ceará), ela conta que aprendeu a fazer renda para ajudar sua mãe a ganhar algum dinheiro, mas acabou gostando do ofício, e o pratica até os dias de hoje.
Dona Erotides conheceu outros países, como Paraguai, Argentina e Suíça, onde levou o seu trabalho, a renda de bilro, para o mundo. A entrevista a seguir foi acompanhada por sua filha, Celiana dos Santos, que completou alguns pensamentos da sua mãe e a auxiliou a lembrar de alguns acontecimentos.
O POVO - Há quanto tempo a senhora é rendeira e porque começou a trabalhar com renda? É algo que a senhora gosta de fazer desde sempre ou teve algum outro motivo?
Erotides Santos - Quando eu era mais nova fazia labirinto (outro tipo de bordado). Comecei a aprender a fazer renda aos 6 anos de idade e apanhei bastante da minha mãe quando errava alguma coisa. Ela fazia renda para arrecadar dinheiro e nós vendíamos para comprar vestidos e ir para festas. Eu gostava de aprender, mas não gostava de apanhar (risos). Além de mim, minha mãe também ensinou todas as minhas irmãs a fazerem renda.
OP - Como a senhora descreveria a sua renda: trabalho, lazer ou os dois?
Erotides Santos - Eu faço renda para vender e trazer alguma coisa para dentro de casa, mas também porque gosto. Na época em que nasci, os principais trabalhos eram com renda. Todos que eu conhecia trabalhavam na almofada. Quando termino um trabalho, gosto de usá-lo para presentear minhas amigas ou dou para meus filhos, todos ficam muito satisfeitos quando ganham uma peça de renda minha. Quando o padre Reginaldo Manzotti veio visitar minha comunidade, o presenteei com uma barra de renda.
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OP - Eu soube que a senhora participou de programas de televisão e viajou a diversos países. Como foi essa experiência?
Erotides Santos- Para todos os lugares que vou, levo a minha almofada. Quando era mais nova, fui ao Rio de Janeiro para participar do Programa do Flávio Cavalcanti e já andei por vários Estados do Brasil. Viajei para representar a feira de moda da Holanda Arte da Maraponga e também já visitei alguns países: Suíça, Argentina, Paraguai… Essas viagens eram patrocinadas pelo Estado do Ceará e eu pude representar o Brasil em algumas competições.
OP - A senhora é uma das fundadoras do CeArt e da feirinha do calçadão da Beira-Mar. Pode nos contar como tudo isso aconteceu e qual é a sensação de ser uma das rendeiras mais antigas de Fortaleza?
Erotides Santos- Vou fazer 94 anos e deixo para as próximas gerações o ensino da renda às minhas filhas, netas e bisnetas, que aprendem hoje para passar o ofício a frente. Com outros artesãos, ajudei a fundar a feira da Beira-Mar. Nós sentávamos lá e esperávamos alguém chegar para comprar alguma coisa. Sobre ser uma das rendeiras mais antigas de Fortaleza, acho que me sinto feliz também (risos).