O Dia de Ação Global pelo Clima foi marcado por ato simbólico na Praia de Iracema neste sábado, 6. A mobilização foi convocada pela Marcha Mundial por Justiça Climática em todo o Brasil, incluso Fortaleza. Entre as demandas, a exigência do não uso de combustíveis fósseis, investimento em energias limpas e desmatamento zero para a Amazônia, além de cuidados com os oceanos — tópicos debatidos na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP-26.
Os presentes no ato reafirmaram que os representantes brasileiros no encontro mundial não contemplam setores da sociedade civil brasileira, como as entidades indígenas, socioambientalistas, movimento negro e sindicatos. "Bolsonaro, Joaquim Leite e a bancada ruralista não representam essa luta", destacou a organização da Marcha em comunicado à imprensa. Mobilização também ocorreu neste sábado em outras cidades pelo País: Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Dentre os líderes ambientais no ato em Fortaleza, a artesã e escritora Telma Pacheco Tremembé, cearense da etnia tremembé esteve presente neste sábado. Para ela, há um apagamento sobre as mudanças climáticas e outras consequências para o planeta.
"São cientistas, somos nós, indígenas, falando! Ninguém entende nada?", questiona Telma. "Estamos aqui, principalmente, pela nossa luta pela Justiça Climática. Estão simplesmente ignorando as atrocidades que estão sendo feitas com o planeta. O dinheiro não acende uma lâmpada, não vai alimentar ninguém".
Telma avalia que os debates da COP-26 não estão contemplando as reais necessidades dos povos indígenas. "São muitas promessas mentirosas, como o Acordo de Paris, que nunca foi cumprido. São promessas que ficam no papel e não saem dele", lamenta.
"Temos que bater na mesma tecla: desmatamento zero, não ao Bolsonaro, pois ele está nos matando e matando a natureza e está, inclusive, afetando o planeta. Mas as pessoas também estão fechando os olhos para isso. Enquanto indígena, digo: nos escutem agora. Pois não temos mais tempo", alerta.
A mobilização desse sábado reuniu cerca de dez pessoas entre voluntários e voluntárias, a liderança indígena Telma Pacheco Tremembé; e o consultor em Saúde Pública e Meio Ambiente e coordenador Nacional da Marcha Mundial por Justiça Climática, Roberto Ferdinand. Os mobilizadores levantaram faixas no calçadão da Praia de Iracema e durante os sinais vermelhos do semáforo na avenida Historiador Raimundo Girão.
Ferdinand elenca quatro pontos fundamentais para a defesa do clima: o desmatamento zero; zerar o uso de combustíveis fósseis, como carvão; a Justiça Climática, a mobilização de países socialmente desenvolvidos para não emitirem poluição; e a subida de 1,5ºC da temperatura do planeta - segundo especialistas, o impacto pode gerar consequências irreversíveis ao planeta Terra.
"Nós temos que segurar [a temperatura da Terra] e, para isso, temos que cortar 50% das emissões até 2030 e 100% da emissão dos gases estufa até 2050. Só que ninguém tá fazendo nada, mas temos que fazer", denuncia o coordenador.
De acordo com Roberto, que estava presente nos debates da COP-26, mais de 200 movimentos sociais deixaram os debates em Glasgow pois não se sentiam contemplados com os ideais ali discutidos. Dentre as mobilizações na cidade escocesa, a ativista sueca Greta Thunberg definiu a edição atual da COP como "a mais excludente de todos os tempos" e destacou os debates como "um fracasso".