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Sétima chacina do ano deixa seis mortos na Sapiranga
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Sétima chacina do ano deixa seis mortos na Sapiranga

Dez pessoas suspeitas de participação na chacina foram presas.
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O Estado registrou a sua sétima chacina neste ano por volta das 2 horas de sábado, 25. Seis pessoas, com idades entre 15 e 26 anos, foram mortas em uma festa realizada em um campo de futebol do bairro Sapiranga. Outras cinco pessoas ficaram feridas. Dez pessoas suspeitas de participação na chacina foram presas.

Quatro das vítimas da chacina foram identificadas. São eles: Mateus Ribeiro dos Santos, de idade não divulgada; Israel da Silva Andrade, de 24 anos; André Alexandre Rodrigues, de 26 anos; John Lennon Holanda, de 25 anos. As vítimas não identificadas são um homem e uma mulher, que havia sido baleada e encaminhada para uma unidade hospitalar, mas veio a falecer horas depois.

Israel da Silva Andrade havia sido apontado como chefe do Comando Vermelho (CV) no Parque Manibura. Contra ele, havia um mandado de prisão em aberto por integrar organização criminosa. Israel foi um dos alvos da operação Annulare, deflagrada em 19 de novembro último e considerada a maior ofensiva da história da Polícia Civil contra uma única organização criminosa. Conforme a investigação, ele, junto com outros dois homens, era "frente" de uma "biqueira" (ponto de venda de drogas) da facção. Além disso, Israel foi acusado de participação em uma chacina ocorrida em 2017, também no bairro Sapiranga, que teve como vítimas quatro jovens que cumpriam medidas socioeducativas no Centro de Semiliberdade Mártir Francisca. Ele, porém, foi impronunciado pela 4ª Vara do Júri, que considerou não haver "indícios mínimos de prova" contra Israel. O Ministério Público Estadual (MPCE) recorreu da decisão e o recurso aguarda julgamento.

Os dez presos não tiveram a identidade divulgada pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Com eles, a Polícia apreendeu seis pistolas calibres 380, .40 e 9 milímetros. Também foram localizados dois equipamentos que transformam pistolas em rifles. A SSPDS informou que o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) continua investigando o caso.

A motivação do crime não foi divulgada pela Polícia Civil, mas O POVO apurou que a mais provável linha de investigação seguida dá conta de que o crime foi praticado por dissidentes do Comando Vermelho. Como O POVO vem mostrando desde junho, integrantes do CV insatisfeitos com a facção passaram a se denominar "neutros" ou "massa" e iniciaram um conflito com os antigos aliados.

O POVO esteve na manhã de ontem no local onde o crime foi registrado. A movimentação na região aparentava não fugir do que se espera para uma manhã de Natal: ruas com baixa movimentação e algumas confraternizações públicas em pequenos estabelecimentos do bairro. Apesar do "clima" aparentemente tranquilo, eram notórios os olhares atentos de moradores direcionados aos carros que circulavam na região. A atmosfera era de medo e tensão. Nenhum morador quis conversar com O POVO.Ainda na região, viaturas policiais foram vistas circulando pelas ruas José Felix de Lima, onde muitos moradores observavam a movimentação de suas calçadas, e rua Rangel Pestana. Na bifurcação entre as duas ruas, era possível observar marcas de balas no muro de uma das casas. (Com informações de Gabriel Borges)

 

2021 é o ano com mais chacinas no Ceará desde 2018

Desde 2018, um ano no Ceará não registrava tantas chacinas como 2021. Com a ocorrência ocorrida na madrugada deste sábado, 25, no bairro Sapiranga, agora são sete o número de crimes que deixaram quatro ou mais mortos este ano no Estado. Todas as chacinas em que as investigações foram concluídas tiveram como motivação o conflito entre facções criminosas. Ao todo, 31 pessoas foram mortas nessas ações.

A primeira chacina ocorrida neste ano no Ceará foi registrada em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Quatro pessoas foram mortas no bairro São Gerardo em 11 de abril. No dia 25 daquele mesmo mês, quatro pessoas foram mortas no bairro Barroso. Em 31 de julho, novamente em Caucaia, cinco pessoas foram mortas em uma casa do distrito de Boqueirão das Araras.

A quarta chacina do ano ocorreu em 18 de setembro, em Chorozinho, na Região Metropolitana de Fortaleza. Quatro jovens, entre 15 e 17 anos, foram as vítimas. Em 4 de outubro, quatro pessoas foram mortas em Guaraciaba do Norte, na Serra da Ibiapaba. A mais recente chacina ocorrida no Estado até então havia ocorrido em Viçosa do Ceará, também localizada na Serra da Ibiapaba, em 11 de dezembro. Quatro pessoas foram mortas dentro de uma casa.

Em 2020, três chacinas haviam sido registradas no Estado: em Ibaretama (Sertão Central), Quiterianópolis (Sertão dos Inhamuns) e Maranguape (Região Metropolitana de Fortaleza). Os crimes deixaram 16 mortos. Em 2019, um caso foi registrado, no bairro Mondubim, tendo deixado quatro mortos. E, em 2018, oito chacinas foram registradas. (Lucas Barbosa)

Redução de homicídios

Apesar do aumento no número de chacinas, 2021 registra uma redução de 18,7% no número de assassinatos. Até 21/12, 3.200 homicídios foram registrados no Estado. Em 2020, no mesmo período, ocorreram 3.939 assassinatos.

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