Enquanto outras marcas buscam alcançar o maior público possível, a marca de roupas cearense Revel prefere outro posicionamento.
“A Revel é uma marca para mostrar para as pessoas da periferia que elas podem ser quem são, que elas têm valor e podem sonhar, e mais, podem conquistar seus sonhos”, destaca Jaylson Silva, criador da marca.
Ele revela ainda que, além das vivências periféricas, a marca busca valorizar a cultura negra e assume o propósito de inspirar outros negros e moradores da periferia a se empoderarem com relação aos preconceitos sociais enrazidos na sociedade.
“Durante muito tempo eu não soube o que era racismo, até que comecei a estudar sobre, e vi que ele está em todo lugar nos oprimindo”, relata.
A Revel, cujo nome significa ‘aquele que não se submete, que se rebela contra imposições’, representa para Jayson aquilo que ele não teve na infância.
“Imagina só, se eu criança, preto, na favela tendo uma marca de roupa que falasse comigo, sobre mim, sobre o que eu via. Isso mudaria tudo, se desde cedo os negros tivessem algo dizendo que eles podem viver dos próprios sonhos, a favela seria totalmente diferente do que é hoje”, acrescenta.
Com sonho de empreender no ramo da moda desde a infância, o cearense brinca que tentou criar marcas voltadas para o amplo consumo e que todas falharam. Rindo ele afirma: “eu pensei em marcas para mim, pensando só em mim, acho que por isso não deu certo. Com a Revel é diferente”.
A marca de roupas começou a se estruturar um pouco antes da pandemia, e será lançada oficialmente ao mercado até março deste ano, mas Jaylson já relata sucesso da ideia: “tivemos uma pré-venda, divulgamos só no boca a boca aqui na comunidade, e o que esperávamos vender em um mês, vendemos em uma semana.”
Ao lado da esposa, Gisele Paula de Sousa, ele divide o sonho e o esforço empregado para a consolidação da Revel. Trabalhando durante o dia em uma eletrônica ao lado do pai, fazendo freelancers de design gráfico à noite, ele dá forma à Revel em algumas madrugadas.
“Minha esposa também trabalha em uma empresa, na área de administração, e quando chega ela cuida da parte de gerência da marca. Nós temos um único cômodo aqui na casa e é nele que montamos tudo”, afirma.
Além dos ideias do empoderamento negro e da valorização da cultura da periferia, a marca assume como proposito dar um retorno social em forma de oportunidades. O criador comenta que, enquanto for possível, estará empregando pessoas da própria periferia: “Aqui tem muito talento, muita gente com trabalhos incríveis, e queremos mostrar isso porque é o que a marca acredita”, destaca.
Ele acrescenta ainda que mesmo que alcance escalas de produção industriais não irá abrir mão de reservar parte da linha de costura para empregar pessoas de comunidades. “A gente tá tentando fazer e priorizar pessoas que moram aqui no bairro para fazer nossa fabricação, e eu vou manter isso, independentemente do sucesso que a marca possa fazer."