Em um dos maiores centros de comercialização de alimentos, a Central de Abastecimento do Ceará S/A (Ceasa), a quantidade jogada fora reduziu drasticamente com medidas que direcionam o possível descarte para famílias vulneráveis. Uma delas é o programa Mais Nutrição, que combate o desperdício de alimentos e garante segurança alimentar e nutricional de crianças, adolescentes, adultos e idosos no Ceará.
No fim do ano passado, o então governador Camilo Santana anunciou que o projeto havia ultrapassado a marca de duas mil toneladas de alimentos doados para cerca de 136 entidades são atendidas pela ação, instituições que atendem pessoas em situação de rua, crianças com câncer e fissura labiopalatal, vítimas de enchentes, entidades artesanais, artistas circenses, além de famílias atendidas pelo Mais Infância.
Em quase três anos de execução, o Mais Nutrição já contemplou mais de 30 mil cearenses com doações de frutas, legumes, verduras, polpas e mix de alimentos. O programa conta com a parceria permanente da Associação dos Permissionarios da Ceasa e as linhas de produção estão instaladas nas unidades de Maracanaú, Barbalha e, em breve, Tianguá.
Segundo o presidente da Ceasa-CE, José Leite, “os permissionários doam produtos que não conseguem vender por serem pequenos, por conter pequenos machucados, estarem maduros demais, etc. Ao invés de se juntar aos resíduos que vão ser descartados, é feita uma triagem com esses alimentos, que serão aproveitados e doados para quem precisa”.
Além do Mais Nutrição, outra ação que tem o apoio da Ceasa-CE é o Mesa Brasil, do Sesc, que além da distribuição de alimentos também promove ações educativas nas áreas de Nutrição e Serviço Social.
“As pessoas não têm acesso a uma necessidade básica, o que acaba atingindo todo o seu convívio social. A gente terminou o ano com 3,5 milhões distribuídos em mais de 100 municípios do Ceará, um ano recorde, mas o problema é bem maior. Há uma necessidade premente”, avalia o diretor regional do Sesc Ceará, Henrique Javi.
Para Javi, “a fome é uma urgência que pode se tornar uma grande mazela. As pessoas não conseguem trabalhar, produzir, adoecem. A indignidade que a fome provoca não é desejável para ninguém. Não prover alimento para o seu filho, para o seu pai ou para si mesmo é talvez uma das maiores marcas de indignidade social que existem”.
Uma das instituições beneficiadas por ambos os programas é a Associação Pestalozzi de Fortaleza, uma entidade filantrópica sem fins lucrativos que atende há 66 anos na Capital. Pioneira no ramo da educação especial no Ceará, a instituição presta serviços de assistência social, saúde e educação a 330 pessoas com deficiência intelectual e múltipla e autismo.
Conforme explica a diretora da entidade, Nirla Machado, os alimentos chegam separados, bem embalados, e são utilizados para o preparo de suflês, vitaminas de frutas e sopas. “Os programas beneficiam crianças e adolescentes com refeições de qualidade, balanceadas, alimentos com diferentes fontes de nutrientes, trazendo um pouco de melhoria para a qualidade de vida deles”, diz.
“Nossas famílias são bastante carentes, e principalmente agora nessa situação pós-pandemia elas apresentam um quadro nutricional bem difícil. Algumas chegam na instituição sem ter nem se alimentado, tomado nada antes de sair de casa, com fome. As crianças chegam desnutridas, elas saem às quatro da manhã pra vir à instituição”, conta Nirla.
“Há muito a ser feito”, assegura a presidente do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do Ceará (Consea), Malvinier Macedo. O Conselho tem como um dos seus encargos, acompanhar as políticas públicas relativas à segurança alimentar e nutricional no Estado.
“O Consea discute os problemas que afetam o acesso ao alimento, bem como as diversas questões que envolvem a produção, no combate ao desperdício não só de alimentos, como de outros recursos, como água, energia, meio ambiente. É necessário que haja um trabalho conjunto entre o poder público, sociedade civil, órgãos de controle, ambiente escolar”, pontua.