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Combustíveis no Ceará acumulam alta de até 23% em 2022
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Combustíveis no Ceará acumulam alta de até 23% em 2022

Defasagem dos preços da gasolina e do diesel se aproxima dos 20% e aumenta pressão por novo reajuste por parte da Petrobras
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Mesmo com alta acumulada de até 23% no preço dos combustíveis no Ceará, defasagem com relação ao mercado internacional aumenta pressão para novo reajuste por parte da Petrobras (Foto: FABIO LIMA/O POVO)
Foto: FABIO LIMA/O POVO Mesmo com alta acumulada de até 23% no preço dos combustíveis no Ceará, defasagem com relação ao mercado internacional aumenta pressão para novo reajuste por parte da Petrobras

Em meio ao embate entre União e estados sobre o peso e o cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) no valor dos combustíveis, a defasagem no mercado internacional segue pressionando os consumidores. Em 2022, no Ceará, entre 1º de janeiro e 11 de junho, os derivados de petróleo acumulam altas que chegam aos 23,01% com relação ao preço médio. 

O litro da gasolina comum no Estado, por exemplo, saltou de R$ 6,65 na primeira semana do ano para R$ 7,37 entre os dias 5 e 11 de junho. Variação representa uma alta de 10,82% no preço médio do produto em seis meses, considerando dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

O monitoramento semanal da ANP destaca ainda que o Estado apresenta pontos de venda onde o litro da gasolina chega a custar R$ 8,30. O valor médio do combustível chegou a recuar R$ 0,43 em maio, porém, já na primeira semana de junho retomou os aumentos.

Com relação ao etanol hidratado, o álcool veicular, dados da ANP revelam que o produto acumula alta de 10,11% no ano. O litro do produto custava, em média, R$ 5,60 na primeira semana de janeiro, porém, subiu para R$ 6,23 em um semestre. 

Um ponto de atenção sobre o etanol diz respeito ao fato de que ele só apresenta uma vantagem aos motoristas se custar no máximo 70% do preço do litro da gasolina comum. Isso porque é consumido mais rapidamente, logo, gera um desempenho menor nos veículos. 

Considerando as faixas médias de preços no Ceará para o álcool e para gasolina em 2022, o etanol não apresentou vantagem sobre o combustível em nenhuma semana do ano. Em média, o produto é vendido por valor equivalente a 83,34% do preço da gasolina. No ano, o percentual variou entre 78% e 85%. 

Até o sábado, 11 de junho, o litro do etanol no Estado variava entre R$ 5,59 e R$ 6,99, com média de R$ 6,23, sendo o segundo mais caro do Nordeste, atrás da Bahia, onde o preço médio do produto é de R$ 6,23.

Dando sequência aos aumentos, o gás de cozinha (GLP) soma alta de 10,65% no preço em 2022 no Ceará. Um botijão de 13kg, em janeiro, poderia ser comprado no Estado por um valor médio de R$ 103,61. Seis meses depois, o consumidor precisa desembolsar R$ 115,97.

O preço no Estado chega até R$ 128, conforme a ANP. No dia 8 de abril, a Petrobras anunciou diminuição de R$ 0,25 por quilo no valor do GLP cobrado às distribuidoras, a redução, porém, não chegou ao bolso do consumidor cearense. 

Por fim, o combustível com a maior variação acumulada no ano com relação ao preço médio é o óleo diesel S10. O litro do produto, que custava R$ 5,62 na primeira semana de janeiro custa atualmente R$ 7,30. Valor máximo encontrado para o combustível no Estado pela ANP foi de R$ 8,51 até o sábado, 11. 

As altas acumuladas podem se agravar em breve, conforme avalia Bruno Iughetti, consultor na área de petróleo e gás. "A Petrobras, sem dúvida alguma, está segurando os preços em uma manutenção de cunho político em razão das eleições que se aproximam", destaca. 

Prática, porém, gera prejuízos a cadeia comercial dos derivados de petróleo no Brasil, com risco ao abastecimento de combustíveis. "Nenhum importador no Brasil vai comprar diesel no mercado internacional com um valor até 20% mais caro para vender nacionalmente com preços muito abaixo do que ele comprou, nenhuma empresa vai assumir esse prejuízo", argumenta Bruno.

O especialista pontua ainda esse cenário como um dos agravantes da inflação no País e reitera o contexto como "muito preocupante". Bruno comenta que os preços dos combustíveis estão inflacionados em decorrência da alta do dólar e do preço do barril de petróleo no mercado internacional, mas que ignorar a defasagem de preços é uma prática "insustentável".

Confira preço dos combustíveis no Ceará

Gasolina comum:

  • Preço médio: R$ 7,37
  • Preço mínimo:  R$ 6,85
  • Preço máximo: R$ 8,30

Etanol hidratado:

  • Preço médio: R$ 6,23
  • Preço mínimo: R$ 5,59
  • Preço máximo: R$ 6,99

Óleo diesel S10:

  • Preço médio: R$ 7,30
  • Preço mínimo: R$ 6,85
  • Preço máximo: R$ 7,98

Gás de cozinha (GPL):

  • Preço médio: R$ 115,97
  • Preço mínimo: R$ 99,99
  • Preço máximo: R$ 128

Fonte: Agência Nacional do Petróleo (ANP), dados referentes ao período entre 5 e 11 de junho de 2022 

Fortaleza, Ce, BR 07.05.22 Variação de preço dos postos dos combustíveis (Foto: Fco Fontenele)
Foto: FCO FONTENELE
Fortaleza, Ce, BR 07.05.22 Variação de preço dos postos dos combustíveis (Foto: Fco Fontenele)

Reajustes nos preços dos combustíveis 

Neste cenário, a Petrobras está há 92 dias sem reajustar os preços dos combustíveis, maior intervalo registrado desde 2019, o que aumentam as perspectivas de que novas elevações sejam anunciadas em breve.

O último reajuste adotado pela estatal ocorreu no dia 11 de março, quando a empresa aumentou, respectivamente, em 18,7% e 24,9% o preço da gasolina e diesel nas refinarias. Desde então, a defasagem aumento devido à política de paridade de preços que busca igualar o valor cobrado no Brasil ao preço dos combustíveis no mercado internacional de petróleo. 

Em meio à sucessivas trocas de gestão, demissões de presidentes e diante da pressão popular e governamental para frear os preços dos combustíveis, em especial após divulgação do projeto que busca zerar a carga tributária sobre os derivados de petróleo, a Petrobras reforça que a tendência do mercado internacional é de alta nos preços, principalmente com relação ao diesel. 

Dois dias após a defesa do projeto de isenção de impostos, em especial do ICMS, a estatal informou que "não há fundamentos que indiquem a melhora do balanço global e o recuo estrutural das cotações internacionais de referência para o óleo diesel" o que resultaria em um impacto sequência de preços nos demais combustíveis. 

A dinâmica de oferta e demanda no mercado internacional pressiona os preços no Brasil, além da taxa de câmbio com relação ao dólar na definição da paridade de preços. A Petrobras, por sua vez, reitera o risco de desabastecimento caso novos reajustes não sejam implementados. 

O próximo aumento, além das questões políticas e da dinâmica de mercado, será influenciado pela defasagem atual dos preços nacionais.

Conforme monitoramento da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), no fechamento da sexta-feira 10 de junho, a defasagem do preço da gasolina no País chegou a 19%, enquanto a do diesel atingiu os 18%. 

Na prática, tais percentuais garantem uma margem de aumento de até R$ 0,93 por litro de gasolina e de até R$ 1,09 por litro de diesel por parte da Petrobras. O aumento final para o consumidor, porém, também sofre influência dos demais fatores de composição de preços como tributação e margem de lucro das distribuidoras e revendedoras de combustíveis.  

Retomada econômica aumenta demanda  por combustíveis, especialmente diese
Foto: Aurelio Alves
Retomada econômica aumenta demanda por combustíveis, especialmente diese

Riscos no abastecimento

"Somos dependentes da importação de diesel, cerca de 25% do nosso consumo é de combustível importado e o diesel é a alavanca de todas as cadeias econômicas. Essa manutenção dos preços está abrindo uma brecha muito delicada em cima das importações de derivados de petróleo", avalia Bruno Iughetti, consultor na área de petróleo e gás.

Ele afirma que a Petrobras está no limite e que não terá mais como segurar o repasse da defasagem de preços. "Quanto mais tempo passa, mais grave a situação se torna, já temos um prejuízo muito grande para a importação, e um risco ainda maior no abastecimento, se nada for feito logo, nenhum solução posterior será eficaz para baixar os preços dos combustíveis", complementa.

O especialista alerta ainda que o Ceará importa anualmente 1 bilhão de litros de diesel e que sem condições econômicas viáveis para realizar as operações, os importadores podem não ter como atender essa demanda, o que por si só causaria uma escalada de preços no combustível. 

O prejuízo para o Estado pode ser ainda maior com relação as cadeias produtivas relacionadas ao diesel, em especial no terceiro trimestre do ano, época em que começam as safras de frutas e o Estado escoa parte da produção pelas rodovias. 

"Não há mágica possível que atenda essa questão, independentemente da solução estudada e aprovada para beneficiar o consumidor final, se a Petrobras não reverter a defasagem até o começo do próximo trimestre, além de novas escaladas de preços, teremos problemas sérios de abastecimento", finaliza. 

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