O Brasil se classifica entre os 10 países com o maior número de startups avaliadas acima de US$ 1 bilhão, com uma relação total de 16 unicórnios atualmente - concentrados, principalmente, no eixo Sul-Sudeste. Mas não é somente nessas regiões que se encontra o potencial criativo do brasileiro: estados como Bahia, Alagoas, Pernambuco e Ceará têm feito do Nordeste um dos polos de inovação do País.
O mapeamento mais recente da Abstartups mostra que a região abriga hoje mais de 1.300 startups, com destaque para empresas com soluções em educação, saúde e desenvolvimento de software. E a marca regional dos nordestinos está presente até no nome das comunidades do ecossistema: Caju Valley, em Aracaju; Jerimum Valley, em Natal; Sururu Valley, em Maceió; e Rapadura Valley, em Fortaleza.
"O Rapadura Valley é um grande exemplo de como o ecossistema cearense é organizado e bem desenvolvido se comparado às nossas referências nacionais no Sudeste", afirma Gabriella Bruno, coordenadora de inovação do ICC Biolabs, startup do Instituto do Câncer do Ceará (ICC) dedicada ao desenvolvimento de soluções em tecnologias disruptivas na área da saúde.
"O nosso estado concentra um grande potencial intelectual e acadêmico e somos excelentes nesse quesito. A inovação nasce sobretudo desse potencial que temos. Além disso, temos inúmeros programas de incentivo à inovação, tanto públicos, como privados, e nosso ecossistema é recheado de pessoas, projetos e instituições que eu posso chamar de "embaixadores" da inovação do Ceará", acrescenta.
Um dos maiores grupos de soluções em saúde do Norte-Nordeste, o ICC Biolabs atua desde 2017 e conta também com um programa de aceleração de startups, que hoje possui 15 empresas em processo de desenvolvimento. A iniciativa fornece estrutura de validação, inclusive, para startups internacionais. "Entre softwares e soluções em biotecnologia, temos soluções que já impactaram mais de 90 mil pessoas, como a Plantão Ativo, que facilita a vida de profissionais que trabalham em regime de plantão", explica.
Nesse panorama, o Ceará tem investido desde cedo em ações para disseminar a criação de negócios com o cerne em inovação. É o caso do programa Corredores Digitais, da Secretaria de Ciência Tecnologia e Educação Superior (Secitece), que já apoiou mais de 700 startups em todo o Estado, com faturamento de mais de 2 milhões de reais pelos negócios.
Outra iniciativa é o programa Clusters Econômicos de Inovação, da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e do Trabalho (Sedet), que atua junto ao Corredores Digitais e une governo, mercado e universidade em uma ação que busca resolver problemas estratégicos da região.
Para o gestor de jornada do programa Corredores Digitais, Michael Dhyani, "o estado do Ceará tem um grande potencial para startups, o mercado anseia por soluções que muitas vezes tem que importar para que sejam resolvidas". "Além disso, o interior do nosso estado que muitas vezes não tem acesso a soluções que estão disponíveis apenas para os grandes centros", pontua.
Na visão do CEO da HubLocal, startup cearense que cresceu 1000% durante a pandemia e recentemente anunciou 100 vagas de emprego, as startups ainda carecem do principal para atingir o pleno desenvolvimento: incentivos com recursos financeiros.
"O dinheiro é como se fosse o sangue de um negócio, ele não pode faltar jamais, senão ele morre. Boas ideias precisam mostrar indícios que são boas com o mínimo recurso possível e conseguimos identificar várias iniciativas que chegam nesse estágio em nosso Estado", assegura.
O problema, segundo ele, é que após validar a ideia, a startup vai necessitar de recurso financeiro, e ainda se tem poucos investidores locais. "Já vemos algumas iniciativas pontuais de alguns grandes empresários, porém ainda é muito pouco se quisermos um dia ser, ao menos parecidos, com os principais mercados de inovação do mundo", finaliza.