Ter o auxílio de muitas informações para tomar a decisão correta é um luxo para o consumidor comum. Cercado por anúncios, ele sofre a influência dos dados que as empresas detêm sobre o seu comportamento e, com isso, tentam induzi-lo na tomada de decisão. Ao refletir sobre esse cenário, o Nobel de Economia (2002) Daniel Kahneman aponta a necessidade de mais transparência pelos algoritmos que buscam influenciar a vida da população.
"Nós estamos cercados por algoritmos. Obviamente, eles exercem influência sobre nós, como nas recomendações de consumo. A Netflix acha que sabe o meu gosto de filmes. Eu vejo séries violentas pela manhã quando faço exercícios. À noite, quando durmo, quero algo lento e ela continua me indicando violentas. Acho que a Netflix não entende como funciona minha mente", exemplifica o psicólogo e economista de origem israelense-americana.
É evidente que, neste contexto, quem detém os dados os quais podem auxiliar o consumidor na tomada de decisões são as empresas. No entanto, a ideia que sobrevalece é da indução do cliente a comprar mais, tomar o crédito de maior vantagem para o credor, ou seja, uma tentativa de fazer o consumo sempre aumentar.
Kahneman defende que "o consumidor deve saber como são feitas as recomendações sobre eles" para, então, tomar suas decisões. Ele não propõe uma quebra do modelo atual, mas o acesso aos dados sobre cada pessoa como uma forma de deixar a metodologia compreensível.
"Acho que é bastante claro que deveria haver transparência. Se houvesse esse recurso, pouquíssima gente usaria, mas é extremamente benéfico. Porque quando essas plataformas tentam adivinhar gera um efeito de polarização", analisa, afirmando que o efeito dos algoritmos sobre a sociedade sempre leva as pessoas a lados opostos pois mostram sempre opiniões extremas às que os sujeitos já são simpáticos. No entanto, ele observa que a lógica responsável por construir os algoritmos são feitas por humanos e aí está a questão dos extremismos.
Estudioso sobre os processos de tomada de decisão, Kahneman fala ainda da necessidade de diversos pontos de vista divergentes como forma de embasar uma escolha. Nesse processo, defende o maior acesso a informações/dados também.
Quando reflete sobre investimentos, o nobel de economia menciona o que chama de "higiene da decisão", na qual melhor seria acumular informações sistemáticas sobre qualquer problema, atrasando a decisão intuitiva. Aqui, ele faz uso da teoria que lhe rendeu o Nobel em 2002, no livro "Rápido e devagar: as duas formas de pensar".
Kahneman fala do pensar lento como a melhor prática para a tomada de decisões, uma vez que o considera menos impulsivo, enquanto o rápido é o automático, do qual não há uma ação efetiva a ser feita. "As pessoas sempre pensam e pensaram rápido. Porque é assim que a mente funciona ao longo do tempo. Temos intuição presente em toda parte e que vem com muita confiança. Quando tem um julgamento intuitivo, você não consegue imaginar alternativas para aquilo. É falta de imaginação. Nós temos isso e não vamos ser diferentes", analisa.
Para obter o melhor julgamento, ele defende o pensamento lento com a maior quantidade de vieses possíveis. Assim, as possibilidades são postas para uma melhor escolha.