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Miados valem milhões: amor por gatos faz tutores gastarem mais, movimentando a economia pet
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Miados valem milhões: amor por gatos faz tutores gastarem mais, movimentando a economia pet

| MERCADO PET | A população de gatos de estimação chega aos 30 milhões no Brasil, num crescimento de 35,7% entre 2016 e 2022. Tutores de gatos gastam, em média, R$ 200 por mês com cuidados com os pets
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Roberta Costa adotou duas gatinhas, uma delas com três meses (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Roberta Costa adotou duas gatinhas, uma delas com três meses

Terceiro país em número de animais domésticos no mundo, o Brasil tem observado o crescimento na população de gatos nos lares. A característica de independência, aliado a fatores sociais - como mais pessoas morando em apartamentos, podem ter motivado o crescimento na adoção. Mas um fator preponderante nesta alta também é econômico: a despesa financeira com gatos é, em média, 49% menor do que com cachorros, mediu o Censo Pet do Instituto Pet Brasil (IPB) de 2021.

Esse cenário tem movimentado uma indústria bilionária que vem se diversificando e o foco agora são os gatos. Dos 149,6 milhões de pets no Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que ao fim de 2022, a população de gatos chegou a 30 milhões. Em 2016, eram 22,1 milhões, um acréscimo de 35,7% na quantidade de bichanos criados por humanos em seis anos.

Roberta Costa, 30, é advogada e tutora de duas gatas - uma delas recém-adotada. Ela conta que não acha uma criação cara e já ouviu de amigos que cachorros custam como uma criança. Mas às suas felinas, garante mimos. Instalou no apartamento fontes de água, casinha com arranhadores e redinhas.

A saúde das pets é uma prioridade, tanto que realiza exames periódicos em Valentina (a gata mais velha, adotada em 2018) e paga um plano de saúde de R$ 50 mensais para Sushi (a mais nova, adotada aos três meses), que tem que passar por uma série de exames e vacinas neste início de vida.

Roberta Costa, de 30 anos, tem duas gatas de estimação: Sushi e Valentina. Em seu apartamento dispõe de mimos, como uma casinha com arranhadores.
Roberta Costa, de 30 anos, tem duas gatas de estimação: Sushi e Valentina. Em seu apartamento dispõe de mimos, como uma casinha com arranhadores. (Foto: FERNANDA BARROS)

Alimentação é outro ponto importante. Roberta diz que assinou um plano da rede de pet shops Petz, em que ganha descontos nas compras, o que é uma alternativa importante para economizar.

"Não acho que é um custo alto manter as gatas, apesar do aumento no preço com ração superpremium, mas fiz assinatura que dá direito ao frete grátis nas compras, além de 10% de desconto nos produtos", completa.

Para além dos custos, diz que o aspecto emocional é o que mais conta. "Meu primo tem um cachorro, e sabemos que algumas raças dão mais trabalho do que outras. Mas acho que existe a questão do custo e de que também as pessoas perceberam que o gato é um animal parceiro e carinhoso. Houve uma desmistificação de um pensamento anterior."

A participação do Brasil no mercado pet

Esse movimento torna o setor pet um dos mais prósperos da economia brasileira como aponta a pesquisa realizada pelo Comac (Comissão de Animais de Companhia), ligada ao Sindicato da Indústria Veterinária, na qual apontou o aumento de 30% no número de animais domésticos nos lares brasileiros durante a pandemia.

A estimativa é que o setor pet tenha finalizado 2022 com crescimento de 15% no varejo, por conta do setor de produtos, serviços e comércio de animais de estimação, gerando faturamento superior a R$ 59 bilhões, segundo estimativas do IPB.

De acordo com o presidente do Conselho Consultivo do IPB, Nelo Marraccini, o crescimento da população de pets felinos está relacionado aos menores custos.

Segundo apura o Instituto Pet Brasil, o gasto médio de um tutor de gato é de R$ 200,19 por mês, enquanto o valor médio dos cães chega a R$ 408,76.

Na imagem, a gatinha Valentina, pet da advogada Roberta Costa, de 30 anos.
Na imagem, a gatinha Valentina, pet da advogada Roberta Costa, de 30 anos. (Foto: FERNANDA BARROS)

Outro ponto que tem feito a diferença, segundo Nelo, é o envelhecimento da população brasileira, o aumento da quantidade de pessoas morando em apartamentos e as que moram sozinhas. O gato agrada esses públicos por ser um animal mais independente, que não demanda tanta atenção como os cães.

Esse fator social gera negócio. Nelo comenta que a adoção de mais gatos gera gastos com alimentação, saúde, lazer entre outros. A estimativa para os próximos anos é que a população de gatos cresceu em média 2,5% ao ano nos últimos dez anos.

"Os produtores brasileiros estão atentos ao movimento e às necessidades do mercado e irão buscar novos produtos, exclusivos aos felinos. A criatividade e as inovações são uma das grandes forças do mercado pet brasileiro, que sempre busca oferecer o que há de melhor de mais moderno para os consumidores", analisa.

Variação anual de cada tipo de animal de estimação no Brasil (2020-2021)

Desejo dos tutores de “mimar” gatinhos anima varejo e indústria

Esse movimento de crescimento, iniciado na pandemia, se mantém e se diversifica na oferta de produtos e serviços. De acordo com pesquisa realizada pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o mercado pet no Brasil registrou um volume de novos negócios 33% superior na comparação dos últimos dois anos com o patamar pré-pandemia, do fechamento de 2019.

Neste recorte, observa-se a abertura de 18.278 novas lojas, enquanto em 2019 foram abertas 13.737 empresas.

Os serviços de pet shop são diversos e vão muito além dos cuidados básicos com alimentação e saúde dos animais. Existem opções especializadas de exercícios físicos, alimentação natural, roupinhas e fantasias, coleiras, produtos de higiene e beleza e até bijuterias disponíveis no mercado.

Na imagem, a gatinha Valentina, pet da advogada Roberta Costa, de 30 anos.
Na imagem, a gatinha Valentina, pet da advogada Roberta Costa, de 30 anos. (Foto: FERNANDA BARROS)

Na indústria, dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), mostra o impulso, com crescimento estimado em 17% em 2022 e mais de R$ 40 bilhões em faturamento.

Desse total, a maior parte está relacionado aos alimentos para pets (pet food), que representa 80% do mercado. Mas há crescimentos importantes na demanda por produtos veterinários e produtos de higiene e bem-estar animal (pet care), com avanços de 11% e 16%, respectivamente.

Para dar noção do poder desse mercado, uma pesquisa realizada no Japão revelou que o mercado pet restrito aos gatos gerou movimentação de cerca de R$ 77 bilhões em 2021 (o equivalente a 1,9 trilhão de ienes).

A pesquisa levou em consideração gastos com alimentação, cuidados veterinários e outros produtos essenciais, inclusive alguns empreendimentos gerados pela paixão japonesa por felinos. Os cálculos são do professor emérito da Universidade de Kansai, Katsuhiro Miyamoto, que batizou esse movimento econômico de "nekonomics", ou efeitos econômicos dos gatos.

Julyenne Frasnelli, médica veterinária.
Julyenne Frasnelli, médica veterinária. (Foto: Divulgação)

O comportamento peculiar do gato não pode ser comparado com os cães, alerta especialista

A população dos pets aumentou bastante durante a pandemia e o gatos foi um dos preferidos. Julyenne Frasnelli, médica veterinária especialista em Comportamento Felino e com página no Instagram (@julyenne.fel) com 185 mil seguidores, dá detalhes sobre esse movimento.

Na sua avaliação, foi gerado um mito do gato independente, em que colocando comida e água no potinho, ele se vira sozinho muito bem. Mas o gato é um pet como qualquer outro, mas que possui hábitos individuais.

"Porém, quando analisamos o comportamento do gato, sabemos que ele é uma espécie domesticada há menos tempo (cerca de 10 mil anos) que os cães, mas o gato doméstico já desenvolveu características próprias, de um gato têm comportamentos para ficar na companhia de humanos e outros gatos", continua.

Sobre o perfil dos donos de gatos, destaca que se trata de pessoas mais jovens, com grande parte dos tutores interessados em conhecer sobre os bichanos. A especialista em gatos ainda observa que casais homossexuais também representam boa parcela dos tutores.

Julyenne Frasnelli, médica veterinária especialista em Comportamento Felino também é tutora de gatos.
Julyenne Frasnelli, médica veterinária especialista em Comportamento Felino também é tutora de gatos. (Foto: Arquivo Pessoal)

"De uma forma geral, independente do perfil de tutor de gato, ele é interessado em cuidar do bem-estar. Então ele quer conhecer, saber o que tem no mercado que podem melhorar a vida do gato", continua.

Ela considera que essa consciência do tutor move esse mercado, aumentando a demanda de uma gama de serviços especializados em gatos. Hoje existe um espaço dedicado aos felinos nos pet shops, veterinários exclusivos, pet siter (cuidador) especializados em gatos, hospedagem para gatos, além de produção de conteúdo nas redes sociais, cita.

"O gato está caindo no gosto dos brasileiros e precisamos disponibilizar junto informações sobre suas características, pois é uma espécie completamente diferente do cão. Às vezes, sem querer, o tutor pode acabar falhando em alguns aspectos que podem levar a doenças", pontua.

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