Mais do que registrar momentos, a fotografia também conta histórias. E não só de vivências humanas, mas também de lugares, e foi assim que nasceu o "Rola na Orla", um projeto idealizado por Carlos Fernandes, fotógrafo esportivo paulista que se apaixonou por Fortaleza e pelo povo cearense e que hoje documenta o dia a dia da Orla da Beira-Mar.
Formado em Moda, curso no qual conheceu a esposa, Renata, ele se mudou para a Terra do Sol no final de 2020 para se reaproximar dela, que havia conquistado um cargo de diretora de marketing de uma empresa de lingeries no ano anterior, e para tentar se reinserir no mercado de trabalho.
Foi Renata, inclusive, que sugeriu a Carlos documentar tudo o que acontece na Beira-Mar enquanto ambos reviviam os hábitos de passear pela praia aos fins de semana. Ele, então, acatou a ideia e criou um perfil no Instagram, que já conta com mais de 13 mil seguidores e não para de crescer.
Em conversa com O POVO, ele detalha o trabalho fotográfico realizado na orla, conta o carinho que recebe do povo cearense e compartilha ideias e projetos que pretende pôr em prática.
O POVO – Como surgiu a decisão de se mudar de São Paulo para Fortaleza?
Carlos - Sou formado em Moda e foi durante o curso que conheci minha esposa, Renata. Trabalho com fotografia desde 1983 e fui para o lado de fotografia de moda com especialização em fotos de lingerie. Com o tempo fui fazendo também fotografias esportivas de surf e skate. Devido às crises econômicas, o trabalho foi ficando escasso em São Paulo e minha esposa foi a primeira que veio para Fortaleza, com um cargo de Diretora de Marketing de uma grande empresa de lingerie. Temos duas filhas, de 22 e 23 anos. A mais velha, Vitória, se formou na FGV e foi trabalhar em Manaus. A mais nova, Liz, entrou na Faculdade Pública de Administração em Araraquara. De repente me vi só em São Paulo. Foi quando resolvi vir acompanhar minha esposa, que já estava aqui há um ano. A adaptação para mim em Fortaleza foi super tranquilo, porque amo praia e calor.
OP – Como foi a migração da fotografia de moda para a fotografia esportiva?
Carlos - Eu e minha esposa sempre tivemos o hábito de ir todo os fins de semana para praia. Tínhamos uma casa em Ubatuba, litoral norte de São Paulo. Eu sempre pratiquei esses tipos de esportes com minhas filhas. Surfava e andava de skate. E, com o tempo, comecei a fotografar os campeonatos de surf, que são muito comuns no litoral norte. Conhecia toda essa galera que faz sucesso hoje. E, em São Paulo, frequentávamos muito o Ibirapuera, onde praticávamos o esporte e fotografava também.
OP – Como surgiu a ideia do Rola na Orla?
Carlos - O Rola na Orla aconteceu em um dia caminhando com minha esposa na Beira-Mar, logo após vir do Mucuripe, depois de fazer algumas fotos do pôr do sol. Ela falou assim: “Por que você não documenta tudo o que acontece na Beira Mar e faz um Instagram com o nome ‘Rola na Orla’?”; que seria para mostrar tudo o que rolava na Orla de Fortaleza. Então, em 18 de junho de 2021, fiz minha primeira postagem e comecei a documentar tudo o que rolava na Beira-Mar. E o sucesso foi quase que imediato. Com exatamente 70 dias estava eu comemorando 3 mil seguidores.
OP – Quais esportes você mais fotografa na Beira-Mar?
Carlos - Percebi que o fortalezense se preocupa muito com a saúde. E a atividade física na parte da manhã é muito intensa. Então priorizei os eventos esportivos como corridas, natação, canoagem, beach tênis e futevôlei.
OP – Quando você se deu conta de que o projeto estava crescendo em ritmo acelerado?
Carlos - Logo depois de 3 meses, empresas começaram a me procurar para divulgar produtos. Pessoas queriam aparecer no meu Instagram. E eu comecei a monetizar tudo isso. Fazemos diversas ações, uma delas, que eu achei muito legal, foi A Corrida Pelo Futuro, onde estávamos arrecadando doações de tênis usados para oferecer para jovens atletas que precisavam de um tênis para treinar.
OP – Você disse que o projeto agora é monetizado. Vemos que as fotos são armazenadas no drive disponibilizado no Instagram. Porém, libera as fotos quando solicitado por WhatsApp. Quanto você cobra pelas fotos?
Carlos - Com o tempo, esses registros começaram a crescer, e eu não cobrava nada, só postava. Mas várias pessoas começaram a fazer questão de pagar. Então eu digo que hoje eu cobro um valor simbólico por foto, que é de R$ 8. A pessoa pode acessar o drive e escolher dentro de várias fotos que eu faço. Não tem quantidade mínima. Mas como têm pessoas que compram muitas fotos, eu comecei a fazer pacotes mensais por R$ 120, sem limites, é bem interessante para quem treina várias vezes na semana. Posso te dizer que tem cliente que recebe mais de 600 fotos no mês. Tenho também algumas parcerias com empresas que querem divulgar seus produtos para esse público. Já fiz para Ademicon, Subway, e algumas empresas de moda e suplementos. Hoje nosso cliente tem a opção de ser fotografado ou ter um video do seu treino feito por drone e temos também parcerias com assessorias, na qual recebo um valor para entregar todas as fotos de seus atletas.
OP – Como é o seu sentimento por ter conquistado tanto alcance em pouco tempo?
Carlos - Hoje posso dizer que me sinto realizado. Pois o cearense me trata com muito respeito e carinho. A galera adora ser fotografada e ter sua foto exibida no nosso feed. A fotografia em si mexe muito com a autoestima, e eu acho que o segredo do sucesso foi nunca discriminar ninguém. Eu fotografo todo mundo e adoro conversar com todos. E estou também sempre inovando e trazendo novidades. Todos os dias, a partir das 5h30min, faço uma transmissão ao vivo onde mostro as pessoas que estão na Beira-Mar e eu trabalhando, ou seja, fotografando. Entra gente do Brasil inteiro e de fora do país também. Então é bem comum quando chega uma pessoa de fora, que me conhece pelas redes sociais, ir até o Espigão para me conhecer e fazer uma foto. Cara, eu não sei o que acontece aqui, eu não consigo explicar, mas o povo cearense me trata muito bem, com muito carinho. Temos casa em São Paulo, e eu digo para minha esposa que de Fortaleza não vou mais embora (risos), fui adotado.
OP – Você pensa em expandir o projeto para outras áreas da cidade?
Carlos - Sim, temos projeto para todas as orlas do Brasil que está em desenvolvimento. Eu sou artista digital e tenho meu trabalho em mais de 30 galerias pelo Brasil e eu fazia aqui muitas fotos para serem vendidas na galeria, tenho experiência. E também estamos desenvolvendo um projeto social que seria a formação de jovens fotógrafos da periferia de Fortaleza. Estamos em contato com empresas que queiram nos patrocinar.
OP – Pode entrar em detalhes sobre o projeto social voltado para os jovens da periferia?
Carlos - Isso eu posso te dizer que seria uma das minhas maiores conquistas, porque eu sei que isso iria tirá-los do desemprego e da marginalidade, trazendo um futuro bem legal. Mas dependo um pouco da iniciativa privada e dos órgãos municipais. Estou fazendo vários contatos com políticos e empresários. Preciso de um local, preciso de equipamentos fotográficos, e tudo isso não é fácil.
OP – Você já teve experiência com projetos sociais anteriormente?
Carlos - Não tenho nenhuma experiência. Por exemplo, a ação da doação de tênis surgiu em um momento que eu estava conversando com Roberto Brasil, ele é professor de natação. Passou um adolescente correndo descalço e, nesse momento, Roberto chamou ele e tirou o seu tênis do pé e deu para ele. Eu fiquei bobo olhando aquilo e pensei: “Posso fazer alguma para tentar melhorar isso”. Estou desenvolvendo esse projeto junto com minha esposa e filhas e conversando muito com alguns empresários. Pretendo apresentar esse projeto e ver o que acontece. O meu seguidor é real. Tenho que de alguma forma chamar ele para essas ações.