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Dois dedos de prosa: Carlin, o influenciador digital que exibe a rotina como ciclista Fortaleza
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Dois dedos de prosa: Carlin, o influenciador digital que exibe a rotina como ciclista Fortaleza

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FORTALEZA, CEARÁ, 24-05-2023: Dois Dedos de Prosa com Carlin, infleunciador que cria conteúdos do seu cotidiano andando de bicicleta pela cidade. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo). (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS FORTALEZA, CEARÁ, 24-05-2023: Dois Dedos de Prosa com Carlin, infleunciador que cria conteúdos do seu cotidiano andando de bicicleta pela cidade. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo).

Carlos Albuquerque, mais conhecido como Carlin, é um influenciador cearense de 28 anos de idade que adentrou no mundo digital após a repercussão de um vídeo nas redes sociais. Na gravação, ele aparece cumprimentando as pessoas nas ruas de forma bem humorada enquanto pedala em uma bicicleta. 

Natural de Fortaleza, Carlin estudou arquitetura durante oito anos, contudo, após idas e vindas, desistiu da faculdade e resolveu trabalhar naquilo que ama: a comunicação.

Embora a timidez seja um dos seus traços de personalidade, o ciclista afirma que, com o passar do tempo, desenvolveu algumas habilidades que foram cruciais para a ampliação do conteúdo. Ele afirma que tem como principal objetivo disseminar o amor, o respeito e a alegria por meio dos vídeos.

Além de criador de conteúdo, Carlin atualmente trabalha para a Bunker Art Lab, uma produtora audiovisual sediada em Fortaleza.

Confira o perfil de Carlin nas redes sociais onde publica seus vídeos

O POVO - Como você ingressou no mundo digital? Foi algo planejado?

Carlin - Não tinha pretensão nenhuma de estar fazendo isso. Comecei a estudar arquitetura e não consegui mais me vincular a isso, fui estudante de arquitetura durante oito anos, já era pra ter terminado mas acabei trancando o semestre, etc. Então comecei a trabalhar em um museu e a criar certo contato com o público. Sempre fui uma pessoa muito tímida, pode ser que não notem pelos vídeos, mas sou de fato. Comecei a desenvolver alguns vídeos que não eram voltados para a bike, mas eram voltados para uma categoria engraçada, que eu também não me adaptei de fato e acabei desistindo. Sempre fui uma pessoa comunicativa na rua, sempre zoei com as pessoas por quem eu passava, cumprimentava todo mundo. Isso é uma pegada do meu pai, ele tem muito disso, minha mãe também tem, e meu irmão principalmente. Sempre zoei com o pessoal na rua, não a ponto de xingar ou algo do tipo, mas de cumprimentar, dar um bom dia. Já cheguei a assustar as pessoas e senti que não é tão interessante, não do meu ponto de vista, eu nunca sei quem é a pessoa que tá do outro lado e fui levando isso pra vida sem filmar. Daí, um belo dia eu 'pô, vou dar um rolê com meus amigos na praia, jogar uma altinha e vou filmar o caminho todo'. Aí fiz um vídeo, deu bom, deu uma visibilidade interessante. Eu sempre estudei o mercado, tipos de mídias sociais, algoritmo, e pensei 'pô, eu sei que vou lançar um próximo vídeo e não vai bater tanto quanto na visibilidade quanto esse, mas se eu manter essa constância, uma hora isso bate'. Eu não vou ser hipócrita de falar que talvez eu não soubesse que isso fosse crescer, porque eu tinha uma certa consistência, tinha vídeos guardados pra lançar durante um mês e tal hora eu saberia que isso ia virar, não sei de que forma, mas eu acho que ainda não virou o suficiente e isso é uma consequência, no meu ponto de vista. Eu acho que o valor que eu tento passar, a minha ideia, para mim, é muito mais interessante do que a quantidade de seguidores que eu vou ter, se não me importa de fato. Uma das minhas causas é trabalhar um pouco em cima das pessoas que são normalmente necessitadas. Então dentro dos meus vídeos, eu já fiz um de doação, tipo eu fui pedalar, peguei umas roupas que eu tinha em casa e fui entregar para um rapaziada na rua, entendeu? Foi uma ação que fiz em troca de nada, não é a toa que nada chegou para mim diante disso daí, foi uma coisa que eu fiz pra mim mesmo e fé. Começou basicamente assim. Comecei a ir pra rua falar com a galera e do nada começou a surgir alguns bordões nos vídeos que eu vi que o pessoal comentava tipo 'pô, esse bordão é engraçado', eu sou meio mala também, eu vejo que a galera comenta respondo e anoto. Daí eu tento viabilizar esse bordão dentro do meu rolê e alguns se encaixaram.

O POVO - De alguma forma, como você acredita que a mensagem dos vídeos chegará às pessoas?

Carlin - Eu notei que tudo isso de certo modo melhorava, minimamente, a vida de determinadas pessoas, tanto aquelas pessoas que estavam recebendo um bom dia, um boa tarde, um boa noite, como eu falo ou recebendo aquela gritaria minha e das pessoas que estão assistindo tudo isso, né? Como que eu sei disso? Feedback. Eu tentava o máximo conversar com as pessoas dentro do meu Instagram porque, como eu falei também, eu sou meio dodói em estudar algoritmo então, eu sei que o Instagram vai entregar mais o meu conteúdo para outras pessoas se eu manter esse nível de engajamento alto. Eu faço isso propositalmente, faço pensando na quantidade de seguidores? Também, porque eu preciso de pessoas vendo a visão que eu quero passar, porque se eu estagnar naquela galera, ok, já tô satisfeito no que eu queria fazer. Caso parasse ali, onde está, tá de boa, tudo sossegado, mas, obviamente, se tiver mais pessoas vendo isso, eu acho que eu consigo espalhar isso para mais pessoas e eu tenho uma apoio muito grande Fortal que possa fazer a gente distribuir isso de várias outras formas.

O POVO - Você comentou que tem uma visão a ser repassada para o público, qual seria essa visão?

Carlin - Desde o período pandêmico que eu vejo que a rapaziada toda tá um pouco afastada, uns por conta disso, outros por conta daquilo. Isso é um erro, mas eu acho entendível, porque enfim não concordo com o ponto de vista de muitas pessoas em relação a tudo isso que a gente vivenciou recentemente né? E eu vi que a gente teve um ponto que foi muito deixado de lado durante todo esse tempo que é um pouco da falta de amor e empatia. Isso me preocupa um pouco, não era a ideia inicial desses vídeos, mas eu sempre fui preocupado um pouco com essa questão pandêmica e isso afetou de fato a minha vida. Não perdi ninguém, graças a Deus, mas isso afetou em relação a tudo que eu vi, o sofrimento de pessoas, enfim.

Eu consegui durante um tempo relacionar esses meus vídeos e tudo isso que eu faço, seja entregar uma cartinha, ou dar um bom dia, boa tarde, boa noite para uma pessoa sorrir, ficar feliz etc. Então acho que é isso, agregar um pouco o amor, um pouco dessa questão, então, eu tento de certa forma trazer um certo respeito para dentro desses vídeos, então é basicamente isso: amor e respeito, de fato.

O POVO - Você estudou arquitetura por oito anos, como foi largar isso? 

Carlin - Tenho 28 anos de idade. Eu entrei em 2013 na Universidade de Fortaleza. Consegui boas notas e, consequentemente, consegui uma bolsa não 100%, mas na época era Probic, eu tinha que fazer projetos de Pesquisas para poder apresentar para a Universidade. Eu sempre fui atleta, sempre pedalei, sempre joguei bola, sempre surfei, surfo até hoje, já tem 13 anos que eu surfo. Em diversos outros esportes eu me meto a fazer, sempre deu tudo muito certo. Fui atleta na Universidade de Fortaleza, no futsal e também tinha uma bolsa, mas antes de terminar, em um certo momento, eu atingi a idade na qual não poderia mais estar treinando porque eu já tinha 24 anos, então comecei a trabalhar no Museu da Universidade de Fortaleza, que é o espaço cultural da faculdade. E aí acabou meu tempo lá de estágio, porque era dois anos e eu cumpri os dois anos, então tive que sair também e sempre fui eu que paguei minha Universidade, então senti mais necessidade de trampar, porque eu não tinha mais trampo, do que de estudar, porque era eu que pagava.

O POVO - Na área em você está inserido, que é o espaço digital, quais as principais dificuldades que você enfrenta?

Carlin - Primeiro que, com pessoas, nunca tive nenhum problema, já tive pequenos haters tipo "Pô, esse cara tá sem capacete”, eu ando sem capacete mesmo e eu não falo mais nada. Eu não tenho o que reclamar, nada que eu pense 'meu Deus, que loucura, vou ser cancelado por conta disso'. Nunca chegou a esse ponto. Eu também nunca tive problema com ninguém. Em relação às mídias, eu acho que nada até agora. Talvez vai chegar um ponto de ter alguns problemas com o quesito de organização. Talvez algumas pessoas falando coisas que eu não espero e podem até estar na razão e eu vou só ficar calado, não tenho que responder porque eu faço muita coisa errada de fato. Às vezes acontece de eu passar alguns perrengues quando estou gravando, tipo de pedalar sem as mãos, às vezes eu pedalo com uma cadeirinha no braço e a outra mão filmando, e minha bike não tem freio.

O POVO - Então você vive a vida no limite?

Carlin - Não queria, mas às vezes você entra num pico de endorfina tão alto que você esquece. A adrenalina também tá lá em cima e você vai.  Ao mesmo tempo em que eu grito com uma pessoa eu me sinto mais endorfinado, tô feliz por aquilo, seja quando a pessoa me responde, ou não, não ligo pra isso, só quero que ela leve aquilo que eu tô falando como um ponto positivo, e fé, entendeu? Eu normalmente saio de casa sempre muito feliz, não tenho problema com meus pais, nem nada do tipo, o único problema que eu tive na minha vida foi de cabeça, foi no período pandêmico mesmo, entendeu? Fora isso tô muito bem.

O POVO - Sua família te apoiou quando você decidiu produzir conteúdo?

Carlin - Meus pais são junto comigo, me apoiam a todo instante. Em nenhum momento eles falaram 'ah, pra que isso?'. Não, eles disseram 'Vai, faz, só toma cuidado meu filho', o problema que eu tenho é esse. 'Você tá aonde, meu filho' e eu digo 'vou chegar 2h da manhã em casa', e ela questiona, e eu falo que quando não tem carro é o melhor pra mim. Aí eu penso assim, entendeu? Tipo, não tem nenhum carro, então é o melhor horário pra voltar. Enfim eu não posso estar demonstrando sempre esse risco pra rapaziada dos vídeos, entendeu?

O POVO - E quais são os próximos passos que você deseja dar na carreira de influenciador?

Carlin - O que eu quero é que, de fato, a rapaziada que esteja comigo cresça. Tal hora no mesmo pique, ou pode ser mais acelerado ou menos, não sei, mas eu quero que quem esteja junto independente de quem seja, cresça.

O POVO - Você acredita que seus vídeos causaram impacto na vida das pessoas?

Carlin - Sim, todos os dias eu recebo mensagem dizendo 'pô cara, eu tava mal, assisti teus vídeos e do nada fiquei feliz'. É tanta mensagem que, às vezes, eu pareço até um pouco ignorante porque eu curto e falo 'pô mano, tamo junto'. Mas eu falo e ao mesmo tempo eu fico sorrindo porque isso, de fato, também me motiva bastante, tipo, uma pessoa melhora o dia dela por causa de mim? Porra, eu abro um sorrisinho, muda a expressão porque eu tô vivendo aquele mínimo momento ali, tô rindo junto a pessoa eu espero que ela esteja rindo também.

O POVO - O que você acha que diferencia o seu conteúdo dos demais?

Carlin - É muito complexo porque quem vai conseguir falar isso são as pessoas. Eu acho que tem muita gente que faz o que eu faço, só não mostra. Muita gente comentou comigo, amigos próximos e pessoas que chegam para mim, falam: 'Macho, como é que pode? Tu pedala sem a mão, gritando, num gás do inferno. Não sei como é que tu cansa, tu anda Fortaleza toda. Que diabo é isso? Como é que tu consegue?' E eu respondo que eu só acho isso normal. Não sei, eu não sei explicar essa hiperatividade, energia e tal. Acho que é energia que talvez eu passe por meio de um grito, sorriso, piadas que eu cito, enfim referências que eu tenho. É um Easter Egg dentro dos meus vídeos, eu nunca falei isso para ninguém, mas tem vários no meu vídeo, é que eu nunca falo pra ninguém. Eu não esconderia isso de ninguém, mas tem Easter Egg que a galera nunca acha.

O POVO - Durante o isolamento, a o que você recorreu para ocupar a mente?

Carlin - Estudar, ler. Eu sempre gostei de anime, gosto mais de ler do que assistir, sou meio dodói em anime. Namorei com uma garota que era muito focada nisso, em ler e estudar, ela estudou arquitetura também, mas foi estudar História da Arte no Canadá. E durante esse período pandêmico, não consegui sustentar, a distância é uma parada muito complicada e a gente passou uns três meses separados, então a gente lia as coisas pra depois trocar uma ideia e conversar sobre. Nesse período pandêmico que eu fiquei mais fazendo isso mesmo, entendeu? E ao mesmo tempo eu estava trabalhando, por incrível que pareça, porque eu ainda tava no espaço cultural da Unifor. Nessa época eles deixaram a gente isolado, mas a gente tinha que gerar conteúdos para as pessoas que estavam assistindo.

O POVO - Você lembra qual foi o vídeo que te fez viralizar nas redes sociais?

Carlin- Em 2022 foi o início de tudo, no final do ano. Mas se teve um vídeo específico, é complexo dizer. Talvez um que é tipo um highlights do mês de março, onde eu passo por uma senhora e dou um bom dia e ela grita ‘Bom dia’. Acho que aí foi o que virou mais em questão de comentário e compartilhamento, nem tanto de curtida e visibilidade, mas de comentário, acho que tem uns mil e pouco no Instagram. Enfim, mas eu acho que é esse talvez highlight de março. Esse é o vídeo que deu um start, acho que eu ganhei uns 20 mil seguidores em um dia.

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