Esqueça aquela imagem de freiras ranzinzas, sérias demais ou introspectivas. As Irmãs Filhas da Misericórdia, um grupo religioso de Fortaleza, mostram a vida religiosa sob a perspectiva de pessoas que se dedicam integralmente à fé.
Com bom humor, elas respondem às famosas “caixinhas de perguntas”, nos stories do Instagram, tirando dúvidas sobre a religião e o dia a dia em um convento. “É tipo carinha de anjo?”, "podem mascar chiclete?", “vocês só rezam?”, “toda madre é velha e ranzinza?”, por exemplo, são algumas das perguntas enviadas e respondidas de forma descontraída na rede social.
E a fórmula fez sucesso. Os mais de 180 mil seguidores do Instagram interagem com as postagens através de curtidas e milhares de comentários. Por causa da forma bem humorada de responder aos questionamentos dos seguidores, o perfil começou a crescer e elas viram um potencial para evangelizar nas redes sociais.
Ao O POVO, a madre Elizabete, responsável pela ala feminina no instituto, afirma que a ideia de criar o perfil surgiu com o objetivo de divulgar a obra e desmistificar as crenças populares sobre a vida religiosa.
O POVO - Como surgiu a ideia de criar o perfil nas redes sociais e qual era o objetivo?
Madre Elizabete - A gente começou a postar no intuito de receber novas vocações, que é o período em que as pessoas participam conosco, conhecem a nossa vida e podem ter discernimento do que querem pra ela, se querem ser freiras ou religiosos”.
O POVO - Existe uma rotina estabelecida para as publicações?
Madre Elizabete - Não tem uma hora específica para gravar. O momento surge de forma espontânea, quando alguma das irmãs tem uma ideia ou quando abre a caixa de perguntas. Há tempos em que a gente não posta quase nada, outros momentos tem mais conteúdo. Isso realmente vai do momento que a gente está vivendo, se dá tempo, se não não vai atrapalhar os trabalhos ou as missões, mas eu busco sempre ter essa rotina de postagens.
O POVO - Vocês têm muitos “haters”?
Madre Elizabete - Bem, quanto aos haters, eu não consigo perceber muitos. Mas já aconteceu. Um dia surgiu um comentário bem perverso, bem contra a moral pra nós e quando eu li aquele comentário, me senti super mal, mas porque tinha sido a primeira vez que tinha visto um comentário bem negativo e, até de certa forma, agressivo e desrespeitoso. A partir dali, eu compreendi como é a vida na rede social. Vão ter pessoas que apoiam você, mas sempre vai ter um ou outro que não vai gostar. Mas não é tão comum não. Normalmente os outros seguidores acabam nos defendendo bastante, acabam nos apoiando bastante. "Irmãs, não liguem pra esses comentários", "continuem firmes", "o conteúdo de vocês é ótimo".
O POVO - Como é a rotina de uma freira na congregação?
Madre Elizabete - É dividida em oração, trabalho, estudo e apostolado. Além dos momentos de oração, comuns aos religiosos, fazemos os trabalhos domésticos, como lavar e passar as roupas, cozinhar e limpar a casa.
O POVO - Vocês também têm tempo para outros trabalhos?
Madre Elizabete - Além disso, a gente tem os trabalhos para o sustento da casa. A gente cozinha, faz salgados para vender, cantamos em cerimônias de casamentos, fazemos artesanato, restauração de imagem. Também temos benfeitores que nos ajudam.
Inicialmente, as publicações eram feitas de forma “mais elaborada”, como fotos editadas e artes digitais. Entretanto, devido a rotina do instituto religioso, a madre optou por conteúdos que fossem adaptados à rotina delas.
A congregação irmãs Filhas da Misericórdia está dividida em duas casas, uma em Fortaleza e outra na paróquia de Tapera, em Aquiraz. Atualmente, elas são nove freiras.
Atualmente, elas prestam serviço voluntário para o Lar Sacerdotal, instituto que acolhe padres idosos da arquidiocese de Fortaleza, além de outras atividades como pregações e formação em retiros.