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Morre Domenico de Masi, sociólogo criador do conceito de "ócio criativo"
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Morre Domenico de Masi, sociólogo criador do conceito de "ócio criativo"

O sociólogo italiano ganhou reconhecimento no Brasil com a publicação do livro "Ócio Criativo". Ele conheceu o Ceará e esteve mais de uma vez no O POVO
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Domenico De Masi, sociólogo (Foto: Camila De Almeida, em 24/8/2015)
Foto: Camila De Almeida, em 24/8/2015 Domenico De Masi, sociólogo

Morreu neste sábado, 9, o sociólogo italiano Domenico de Masi. Reconhecido como um dos principais nomes da sociologia contemporânea, Domenico propagava a ideia de “ócio criativo”, teoria no qual defendia ser positiva para o desenvolvimento de cada indivíduo e afirmava que o cérebro não pode ser forçado a produzir quando já está saturado de informações.

O conceito sociológico de “Ócio Criativo” foi tema do livro homônimo lançado em meados de 1995. Na publicação, Domenico explica a ideia com base na convergência dos termos: “trabalho, estudo e jogo”, ou seja, na execução de tarefas, na obtenção de conhecimentos por meio de estudos e nos momentos de lazer, respectivamente.

A efetivação do “ócio criativo” resultaria na harmonia das necessidades de cada indivíduo, respeitando suas individualidades, além de proporcionar bem-estar e maior rendimento no trabalho. Em resumo, o sociólogo italiano afirmava que “a quantidade e a qualidade do produto não dependem do controle do trabalhador, mas dependem da sua motivação”.

“Ócio criativo não significa preguiça, fazer nada. Significa fazer três coisas juntas: trabalhar, aprender e se divertir. Isso que nós estamos fazendo agora. Você tem que escrever o artigo e o artigo te faz ganhar dinheiro, porque você é jornalista, e se o artigo for publicado aumenta minha notoriedade. Estamos criando riqueza. No Brasil, isso é mais frequente. Não existe, no mundo, uma cidade como o Rio de Janeiro. Os empregados, na hora do almoço, vão à praia. O brasileiro está mais acostumado a misturar vida e trabalho. Este é o motivo pelo qual o ócio criativo agrada tanto.”, relata o autor em entrevista para as Páginas Azuis d’O POVO em 7 de setembro de 2015.

Na ocasião, Domenico veio ao Brasil e comentou sobre ser conhecido no país pelo conceito defendido por ele em seus estudos. Durante sua passagem, o sociólogo aproveitou para visitar a redação do Grupo de Comunicação O Povo (GCOP) pela segunda vez.

Amigo de Demócrito Dummar (1945-2008), ex-presidente do GCOP, Domenico e o jornalista cultivaram uma amizade que passou gerações. “O POVO me convidou para fazer duas palestras e eu conheci os filhos do Demócrito quando eram crianças. Criamos uma forte relação de amizade. Ele era muito gentil e escrevíamos muito um para o outro”, detalhou à época. As visitas do sociólogo à Capital rendeu, não apenas uma proximidade com a redação do Grupo, mas também passeios à praia de Jericoacoara e acompanhamento de um desfile de Lino Villaventura, estilista paraense radicado no Ceará.

Nascido na cidade de Rotello, localizada no sul da Itália, Domenico residiu em Nápoles, Milão e Roma. Lecionando desde o ano de 1961, o sociólogo aplicava metodologias inovadoras, entrelaçando teoria com a prática. Na capital italiana, em 1977, o estudioso tornou-se professor emérito de Sociologia do Trabalho na Universidade La Sapienza, onde foi reitor da faculdade de Ciências da Comunicação.

Ao longo da carreira, Domenico publicou mais de 20 livros, entre eles "Desenvolvimento sem trabalho" (1999), "A Emoção e a Regra" (1999) e "O Futuro do Trabalho" (2001), “Criatividade e grupos criativos” (2003), “A felicidade” (2011) e “Uma simples revolução” (2019).

No ano de 2010, Domenico de Masi recebeu o título de Cidadão Honorário do Rio de Janeiro. O sociólogo fez amizades com diversas personalidades brasileiras, entre elas o Roberto d’Ávila, jornalista; Cristovam Buarque, ex-ministro da Educação; Roberto Irineu Marinho, sócio do Grupo Globo; Oscar Niemeyer, arquiteto; Ivo Pitanguy, cirurgião plástico; além de Luiz Inácio Lula da Silva. “O Brasil é o país do presente”, descreveu durante a visita em 2015.

De acordo com informações do jornal italiano II Fatto Quotidiano, Domenico teria descoberto uma doença invasiva em agosto enquanto estava de férias em Ravello. O sociólogo partiu deixando a esposa, Susi Del Santo, duas filhas, Mara e Bárbara, e quatro netos.

Com informações de Bruna Lira

Lula e sociólogo Domenico de Masi se encontraram pela última vez em julho deste ano, durante visita do presindente à Roma
Lula e sociólogo Domenico de Masi se encontraram pela última vez em julho deste ano, durante visita do presindente à Roma

Presidente Lula se despede de Domenico de Masi

“O Brasil é uma anomalia, é uma exceção mundial, porque é um governo de esquerda e quase o mundo todo é de direita. O mundo não pode tolerar isso. Nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso, a economia foi organizada e se iniciou uma política de distribuição de renda. Depois que organizou, superou a inflação, veio Lula e distribuiu a riqueza. Dezoito milhões de subproletários viraram proletários, doze milhões de proletários viraram pequena burguesia, oito milhões de pequena burguesia se tornaram média burguesia. Foram criadas universidades nas zonas pobres, além de providências sanitárias, etc.”, comentou Domenico em entrevista ao O POVO.

Em suas viagens ao Brasil, Domenico de Masi tornou-se uma personalidade referencial para o Partido dos Trabalhadores (PT), sendo grande apoiador de Luiz Inácio Lula da Silva, que o tinha como um amigo.

No ano de 2019, o italiano visitou Lula, na época ex-presidente, na prisão da Polícia Federal de Curitiba, quando o político foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Aos noticiários nacionais, Domenico afirmou que “mesmo encarcerado, Lula continua a ser um grandíssimo líder político, talvez o mais importante neste momento no mundo”.

Leia a nota de pesar assinada pelo presidente Lula:

“Estou surpreso e triste pelo falecimento do meu amigo, o sociólogo Domenico de Masi, que encontrei pela última vez, há menos de três meses, em Roma. Estava, como sempre, animado, com análises inteligentes e cheio de ideias e planos.

Intelectual incansável e homem público apaixonado, sempre foi um defensor das causas sociais, do avanço das conquistas humanas e de um mundo mais justo e solidário. De Masi sempre foi muito atento e carinhoso com o Brasil, sempre visitando o país e sem nenhum medo de se posicionar, mesmo nos momentos mais difíceis.

Serei eternamente grato pela visita que fez quando eu estava preso em Curitiba. Fiquei feliz em poder reencontrá-lo na sua querida Itália.

De Masi deixa uma imensa obra conhecida e valorizada em todo mundo. Deixa também muitos ensinamentos, alunos e admiradores. Meus sentimentos para sua companheira, Susi Del Santo, seus familiares e amigos.”.

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