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Rajesh: O motorista indiano que se mudou para o Ceará por amor
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Rajesh: O motorista indiano que se mudou para o Ceará por amor

Ao O POVO, Rajesh conta suas dificuldades, como foi sua adaptação, as diferenças culturais entre os países e, também, o que gosta de fazer no seu tempo livre
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FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 20-10-2023: Dois Dedos com um motorista de uber indiano, o Rajesh.. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo) (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 20-10-2023: Dois Dedos com um motorista de uber indiano, o Rajesh.. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)

Já imaginou atravessar o mundo inteiro por amor? Foi o que aconteceu, em 2021, com Rajesh kumar Gopalakrishnan, ou Rajesh, como prefere ser chamado.

Tudo começou em 2020, quando conheceu a sua atual esposa no Twitter (hoje nominado de X). Passado o tempo, a vontade de conhecer seu amor só crescia, quando decidiram passar o Natal, à época, juntos. Porém, por causa da burocracia, o encontro foi adiado para o ano seguinte.

Desde aí, Rajesh não saiu mais do Brasil e, agora, com 46 anos, tem uma união estável com a amada e trabalha como motorista de aplicativo. Isso depois de muito tempo tentando um emprego por causa da dificuldade em lidar com a língua portuguesa.

Ao O POVO, Rajesh conta, misturando inglês e português, e em meio a sua saudação "Nasmastê, Brasil!", suas dificuldades, como foi sua adaptação, as diferenças culturais entre os países e, também, o que gosta de fazer no seu tempo livre na cidade que hoje o acolheu, em Fortaleza, no Ceará.

O POVO - Por que o senhor decidiu se mudar para o Brasil?

Rajesh kumar Gopalakrishnan - Conheci uma mulher no Twitter (atual X) e ficamos conversando por quase um ano. Então, ela me convidou para passar o Natal com sua família. Porém, ainda tinha muita documentação para ser resolvida e só consegui visitar em janeiro de 2021. E aí nós combinamos assim: se der certo, faremos o possível para que eu fique. E nos damos muito bem, parece que nos conhecemos a vida toda. Depois de 6 meses e extrapolado o tempo de visto, resolvemos fazer a união estável no dia 30 de agosto de 2021.

O POVO - Já tinha familiaridade com a língua portuguesa?

Rajesh - Precisei aprender do zero. Fiz um breve curso de Português para Estrangeiros na UFC (Universidade Federal do Ceará) porque a amiga da minha esposa havia sido casada com um paquistanês. Ela nos ajudou a falar com o professor Nonato (Raimundo Nonato, doutor em Linguística Aplicada
Universidade Estadual do Ceará), me inscrevi e fui selecionado. Queria ter continuado o curso, mas precisava trabalhar para ajudar nas despesas de casa e ainda estou aprendendo.

O POVO - E como foi sua adaptação?

Rajesh - A adaptação foi difícil porque, sem conseguir me comunicar, seria difícil arranjar emprego. Mas minha esposa e sua família me apoiaram e, cansado de ficar em casa, pedi a minha esposa para imprimir currículos. Todos os dias eu saia na beira mar entregando em hotéis e restaurantes. 

Foi lá que consegui emprego em um quiosque. Infelizmente, a dificuldade em falar português e o valor que eu recebia era muito pouco e a minha esposa achou melhor eu me dedicar a aprender a língua portuguesa para ter um emprego melhor.

O POVO - Como surgiu a ideia de trabalhar como motorista de aplicativo?

Rajesh - Uma querida amiga da minha esposa nos deu essa ideia, pois seu filho estava trabalhando de Uber. 

Então, fiz todos os procedimentos no Detran para validar minha CNH e comecei mesmo sem falar bem o idioma.

Tive que fazer aulas práticas na auto escola e teste de direção no Detran porque a Índia não tem tratado com o Brasil para a validação imediata, mas não precisei fazer as provas escritas.

O POVO - E a rotina de trabalho por aqui? Como fica?

Rajesh - Eu trabalho geralmente 10 horas por dia. Nos fins de semana, saio e volto mais tarde e volto. Em média, são 20 a 25 corridas por dia. Geralmente, fico no aeroporto e tenho recebido ajuda dos meus colegas da Uber de lá com o português, como os bairros que devo evitar. 

 

O POVO - Quais foram as maiores diferenças culturais que você percebeu?

Rajesh - Na Índia, as famílias são mais rígidas com os costumes. Quanto à comida, eu me adaptei bem. Embora sinta falta de algumas especiarias e não comemos carne de porco e boi. 

No máximo, comemos frango ou peixe duas vezes na semana, porque gostamos mais das comidas vegetarianas.

Mas eu respeito a cultura brasileira e gosto muito de baião de dois, cuscuz, tapioca, café, pão de queijo, bolos. Também gosto de molho de pimenta que a minha esposa faz pra mim, porque o molho aqui não é muito forte.

O POVO - Quais são os lados positivos e negativos que enxerga aqui?

Rajesh - O trânsito aqui é muito tranquilo. Gosto de dirigir aqui, pois na Índia dirijo 1 km em uma hora no rush. Lá, dirigimos do lado direito e isso foi desafiador.

O povo cearense também é muito respeitoso e acolhedor. A maioria agradece e pede por favor. Já o negativo é que poucas pessoas falam inglês e, quando falo, às vezes ficam com medo.

No começo eu tinha muito medo por conta da violência, mas agora parabenizo a polícia que está quase em todos os locais. 

O POVO - O que gosta de fazer no seu tempo livre?

Rajesh - Eu sou indiano e somos povo trabalhador. Quando tenho dificuldades, faço yoga e meditação, que me dá equilíbrio e coragem para trabalhar. E gosto de estar com a família, vou à academia, saio com minha esposa para tomar uma cerveja, e escuto Marília Mendonça e Alceu Valença.

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