Irã e Israel seguiram, ontem, em mais um dia de conflito. Na tarde e noite do sábado, 14, países trocaram ataques que deixaram 14 feridos em território israelense. Fontes locais registram mortes, mas divergem no número, sendo apenas uma ou três. O Irã ativou suas defesas aéreas em várias regiões, no segundo dia de bombardeios vindos de Israel, que, por sua vez, ordenou à população que se refugiasse diante de uma nova onda de mísseis iranianos.
Os serviços de resgate em Israel indicaram na noite deste sábado que edifícios residenciais na região costeira e no norte do país foram atingidos após disparos de mísseis vindos do Irã, e que 14 pessoas ficaram feridas.
"Vários incidentes foram registrados nos centros de comando dos serviços de incêndio e resgate israelenses nos distritos costeiro e norte, com impactos em prédios residenciais e um incêndio em uma área desabitada", indicou um comunicado conjunto dos órgãos de emergência.
O Irã anunciou, na noite de ontem, que lançou uma nova onda de mísseis contra Israel em resposta aos bombardeios da sexta-feira contra seu território."Uma nova onda da operação Promessa Honesta 3 começou", indicou a televisão estatal. Os bombardeios israelenses tiveram como alvo dois depósitos de combustível em Teerã, informou o Ministério do Petróleo iraniano.
Também "a sede do Ministério da Defesa foi atacada. Um dos edifícios da sede sofreu danos leves", informou a agência iraniana Tasnim.
O Irã acusou Israel de precipitar o Oriente Médio em um "perigoso ciclo de violência" e de minar as negociações entre Teerã e Washington sobre o programa nuclear iraniano.
Omã, que atua como mediador entre os Estados Unidos e o Irã nesse diálogo, anunciou que a nova rodada de reuniões previstas para domingo em sua capital, Mascate, entre os dois países, não será realizada.
O combate entre Israel e Irã podem sinalizar o início de um conflito mais amplo e longo e que pode se estender por dias ou até mesmo meses. Nações do mundo todo já começaram a se manifestar preocupação com uma eventual escalada do conflito para uma guerra total, o que geraria consequências globais, dada a importância geopolítica e econômica do Oriente Médio.
O presidente russo, Vladimir Putin, conversou por telefone com o presidente americano Donald Trump, sobre o conflito. "A perigosa escalada no Oriente Médio estava, obviamente, no centro da conversa", informou o Kremlin em comunicado. Trump afirmou que ele e Putin concordaram que a guerra entre Irã e Israel "deve terminar".
"O presidente Putin me ligou esta manhã para, gentilmente, me desejar feliz aniversário", disse Trump. "Ele e eu acreditamos que esta guerra entre Israel e Irã deve terminar, e como expliquei, a guerra dele também deve terminar", acrescentou em sua plataforma Truth Social, referindo-se à guerra na Ucrânia.
Durante a conversa, Putin teria informado Trump sobre conversas com os líderes do Irã e de Israel e reiterou a proposta russa de buscar soluções mutuamente aceitáveis para a questão nuclear iraniana.
Na madrugada do sábado, uma onda de novos ataques, de ambos os lados. As Forças de Defesa de Israel (IDF) informaram ter efetuado ofensiva contra 150 alvos no Irã no sábado, reforçando que os ataques israelenses prejudicaram o programa nuclear iraniano.
O Irã diz que, até sexta-feira, 80 pessoas haviam morrido e mais de 300 ficaram feridas. Já na manhã sábado, o país informou que um ataque a um prédio residencial de Teerã teria deixado ao menos 60 mortos, incluindo crianças. Do lado israelense, falava-se em três pessoas mortas e 80 feridas. (Com AFP)
Irã ameaça EUA, Reino Unido e França se impedirem retaliação a Israel
A escalada do conflito fez com que os iranianos mandassem um recado para potências mundiais com interesses na região. Teerã alertou aos Estados Unidos, ao Reino Unido e a França para não impedirem ofensivas contra Israel, caso contrário suas bases e outras estruturas passariam a ser alvos iranianos.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, afirmou que os britânicos estão enviando jatos da Força Aérea e outros reforços militares para o Oriente Médio. "Estamos transferindo recursos para a região, incluindo jatos, para apoio de contingência na região", disse para jornalistas, durante voo para o Canadá, para a cúpula do G7.
Autoridades iranianas também ameaçaram impedir inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), no país. Neste sábado, 14, Teerã informou que não continuará negociando seu programa nuclear com os Estados Unidos caso Israel continue as ofensivas em solo iraniano.
"O Irã não aceitará exigências irracionais sob pressão e não se sentará à mesa de negociações enquanto o regime sionista continuar com seus ataques", afirmou o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, ao presidente francês, Emmanuel Macron, em uma ligação telefônica.
Em entrevista ao programa O POVO News, o professor Sidney Ferreira Leite, doutor em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo (USP) e analista de política internacional, destaca que as dimensões, tanto do ataque israelense como do contra-ataque iraniano, impressionam pela magnitude.
"Não esperava uma capacidade de reação do Irã, porque o Irã teve parte do seu arsenal destruído por Israel. Sinaliza que temos aí um conflito que deve se estender pelos próximos dias ou meses", projetou. Do ponto de vista estratégico, Leite aponta que Israel, com o apoio americano, atacou o Irã num "momento de grande fragilidade e isolamento" do país. (VM)
Papa apela para que Israel e Irã adotem "responsabilidade e razão"
O papa Leão XIV fez um apelo neste sábado, 14, para que Israel e Irã se afastem de qualquer caminho que leve à guerra e que considerem o diálogo como alternativa para o bem comum. “Ninguém jamais deve ameaçar a existência do outro”, disse.
Em nota divulgada pelo Vaticano, o pontífice pede que ambos os países adotem como estratégia “responsabilidade e razão” e alerta que a situação se deteriorou seriamente ao longo dos últimos dias.
“Continuam chegando notícias que causam grande preocupação. A situação no Irã e em Israel se deteriorou gravemente e, em um momento tão delicado, desejo renovar veementemente um apelo à responsabilidade e à razão”, disse.
Leão XIV defendeu ainda que o compromisso de construir um mundo mais seguro, livre da ameaça nuclear, deve ser perseguido por meio de encontros respeitosos e do diálogo sincero, a fim de construir uma paz duradoura.
“É dever de todos os países apoiar a causa da paz, abrindo caminhos de reconciliação e promovendo soluções que garantam segurança e dignidade para todos”, concluiu o santo padre.