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Reduzir peso do Exterior na balança comercial é mais desafiador para o Ceará
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Reduzir peso do Exterior na balança comercial é mais desafiador para o Ceará

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Compras e vendas do Ceará com o exterior precisam ser avaliadas para assegurar soberania (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Compras e vendas do Ceará com o exterior precisam ser avaliadas para assegurar soberania

O Ceará tem um desafio maior que o do Brasil quando o assunto é reduzir a dependência do mercado externo, pois precisa olhar para as duas vias da balança comercial simultaneamente.

No contexto do tarifaço, o Estado foi o mais impactado uma vez que a maior parte das exportações (60%, em 2024) tem o território americano como destino. Já quando o assunto é importação, os itens mais comprados do Exterior não dão margem para produção ou desenvolvimento de uma cadeia produtiva local.

Este cenário exige uma atenção redobrada ao comércio internacional. Ao mesmo tempo que deve variar os destinos da produção local, dependendo menos de um só país comprador para assegurar os negócios, necessita ver quais são os mercados de onde mais compra e o quê compra desses mercados.

Igor Lucena, economista e PhD em relações internacionais, classificou como, no mínimo difícil, alterar a pauta importadora do Estado na velocidade que é preciso para enfrentar o que acredita ser "uma nova disputa geoeconômica internacional".

"Não é um processo de curto prazo e não é simples. O que a gente importa? Material elétrico, produto químico, equipamentos mecânicos, metalurgia… Temos uma pauta de produtos semi e manufaturados que não tem como substituir", expôs.

Os dados da balança comercial corroboram a fala de Lucena, mas apontam ainda dois outros itens de difícil produção local como de maior peso nas importações em 2024: carvão mineral (14,6% - maior percentual das importações) e trigo (7,5%). O primeiro movimentou US$ 440,8 milhões, enquanto o segundo, US$ 19,9 milhões.

Para impor uma soberania nos negócios internacionais, o Ceará, apontou o economista, precisa atuar para ampliar as relações comerciais no mundo. Ele sugeriu, além do desenvolvimento de cursos de relações internacionais no Estado, uma estratégia de longo prazo para marcar e ampliar a presença em mercados estratégicos.

Sobre os pacotes de socorro às empresas afetadas pelo tarifaço, Lucena disse ter sido dois acertos, tanto o plano federal quanto o estadual. Mas reforçou que é preciso mais empenho em uma atuação internacional, defendendo os interesses cearenses em escritórios localizados nos países de maior interesse do Estado.

"O que o Trump está fazendo é o primeiro degrau de uma guerra econômica e vários outros países também vão entrar nesse conflito, cada um olhando para os seus interesses", alertou.

Na linha de frente das tratativas do Ceará com o mundo, a secretária estadual Roseane Medeiros (Relações Internacionais) ressaltou ao O POVO que o trabalho do Estado na busca de novos mercados acontece constantemente, mas reforçou que uma mudança na pauta exportadora e importadora leva tempo.

"Tanto na exportação quanto na importação, não é o caso de ir ao supermercado e comprar ou vender um produto. A nossa capacidade de negociar e de entender essa nova geopolítica vai ser muito importante", afirmou.

Roseane reforçou o foco do Ceará nessas primeiras semanas no amparo às empresas afetadas pelo tarifaço, com diálogo alinhado com o Governo Federal, medidas complementares e sugestões diretas na conversa com o setor produtivo, e assegurou que as tratativas por novos mercados de compra e venda acontecem simultaneamente.

Nas últimas semanas, a secretária encontrou, on-line, comitiva do Chile para trocas de informações sobre os projetos de hidrogênio verde, tem programado apoio a evento da Dessal para captação de parceiros para compra de salmoura da usina de dessalinização e planeja juntamente ao governador (Elmano de Freitas-PT) ações alinhadas ao tarifaço.

Ela também mencionou a participação do Ceará na independência do Brasil dos fertilizantes russos citando o Projeto Santa Quitéria. Com R$ 2,3 bilhões de investimento, o empreendimento deve gerar 1 milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados - além de 220 mil toneladas de fosfato bicálcico e 2,3 mil toneladas de concentrado de urânio. Mas ainda depende de licenciamento ambiental, tentado há pelo menos 20 anos pelo Consórcio Santa Quitéria, cujo estudo já passou pela 8ª tentativa de aprovação pelo Ibama. O último teve 37 pontos de inconsistências apontados.

"Nós temos a missão de correr atrás de novas oportunidades. É um compromisso meu, um compromisso que o governador Elmano de Freitas tem, e é nisso que estamos trabalhando", reforçou.

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