“Sou vintage!”, brinca Silvio César de Barros, 57 anos, com o sorriso de quem sabe que seu amor pelo passado nunca saiu de moda. Natural de Santo André (SP), ele trocou o Sudeste pelo sol de Fortaleza há quase duas décadas. Desde então, se dedica a manter viva sua paixão pelo vinil. À frente da loja O Vitroleiro, Silvio comercializa LPs, vitrolas e toca-discos de diversos estilos e épocas, atraindo desde colecionadores nostálgicos até jovens da Geração Z que redescobriram o som analógico como forma de conexão com a música.
O POVO - Você percebe que os jovens têm se interessado mais por vinis e músicas antigas?
Silvio César de Barros - Eu penso que hoje tudo funciona em bolhas. Tem quem escute uma música mais antiga e logo diga: “Nossa, que música velha! Bota uma mais nova!”. Por outro lado, muitos jovens estão se aproximando do vinil por influência de alguém próximo — um pai, um tio, um amigo. Vem da referência, é cultural. E claro, tem o gosto pessoal também. Às vezes, a pessoa pega um disco por curiosidade e se apaixona. Outras preferem voltar para o digital, que é mais prático. Mas é fato: o interesse pelos vinis está crescendo.
OP - E como você vê as plataformas de streaming em relação ao vinil? Elas competem ou se complementam?
Silvio César de Barros - Hoje o streaming funciona como uma ferramenta de descoberta. É prático: dá para ouvir no carro, andando na rua, com fone... Mas não é a mesma coisa que o vinil. O vinil tem um ritual especial. Tá ali, na sua mão, é físico, é seu. Você guarda na sua casa o álbum do artista que você mais gosta perto de você. Tirar da capa, colocar no toca-discos, limpar a poeira... E normalmente você escuta o lado inteiro, sem pular faixas. Isso desacelera a rotina. O vinil convida a viver a música com mais atenção, com mais calma. Ele oferece outro tempo e tira um pouco essa velocidade toda que a gente vive hoje, é outra relação com a música.
OP - E sobre os artistas atuais, como você vê esse movimento de lançamentos em vinil?
Silvio César de Barros - É muito bacana! Cada vez mais artistas novos têm lançado em vinil — Marina Sena, Liniker, Seu Jorge, Marisa Monte (que relançou toda a discografia), entre outros. Tem até bandas novas, como a Black Pantera, que fazem metal pesado com letras críticas sobre racismo. O som deles é excelente.
OP - Como surgiu a ideia de transformar o gosto por vinis em negócio?
Silvio César de Barros - Começamos em 2005, participando de feiras, como a do Mercado dos Pinhões. Entramos logo na segunda edição, que acabou se tornando a maior do tipo no Nordeste. Com o tempo, vimos que dava para ir além e abrimos a loja física. No começo, vendíamos também objetos antigos, mas acabamos focando nos equipamentos de som e nos discos. E a loja cresceu com os próprios pés, conquistando seu espaço no mercado.
OP - As feiras de vinil ainda têm importância no mercado?
Silvio César de Barros - Muita. Tem mês que, se não rola feira, é desespero para quem depende dela no faturamento. A Feira do Vinil na Estação das Artes, por exemplo, é a maior do Nordeste. Em feiras grandes, a variedade é enorme — tem gente que vai só para comprar disco de novela... Quanto mais variedade, mais chances de agradar.
OP - Para quem quer começar agora no universo dos vinis, que dica você daria?
Silvio César de Barros - Tem que entender que não é um hobby barato, nunca foi. Mas dá para começar com calma. Tem discos acessíveis e o ideal é começar com um equipamento mais básico. Afinal, adianta investir alto e depois deixar o toca-discos parado! Começar com calma e seguir no seu ritmo.