Conhecida pelo seu trabalho no meio jornalístico, Mariana Sasso iniciou sua carreira aos 14 anos, como locutora na rádio, em um programa infantil contando histórias para crianças.
Fez curso de teatro, se formou em jornalismo, é pós-graduada em Gestão Pública e atuou 10 anos na televisão - sendo reconhecida na cobertura esportiva.
Ela deixou esse meio para se dedicar aos dois filhos e à família. Hoje atuando como palestrante internacional, passou a se dedicar a um novo projeto, publicando seu novo trabalho "Ângelo, o menino relâmpago", livro infantil voltado para crianças de 7 a 11 anos, que fala sobre inclusão, respeito e convivência.
A obra traz experiencias pessoas, com inspiração no seu próprio filho, diagnosticado com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Antes mesmo do lançamento, o livro foi adotado como paradidático em escolas do Ceará. Contribuindo para inclusão em Itaitinga e no Eusébio. A obra foi lançada oficialmente no dia 11 de outubro, véspera do Dia das Crianças.
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OP - Qual foi o objetivo com a publicação do livro "Ângelo, o menino relâmpago", e de onde surgiu a inspiração?
Mariana Sasso - O livro, na verdade, ele é fruto de uma dor, porque meu filho foi diagnosticado com TDAH quando ele tinha 7 anos, hoje ele está com 10. E aí eu percebia que ele sofria muito, algumas questões de exclusão. Ele começou a se perceber também como uma pessoa diferente, isso virou assim para mim uma luta, para conscientizar as pessoas de que todo mundo é diferente de todo mundo.
Daí veio a ideia de escrever o livro. Conversava muito com o meu filho, então as frases que ele me falava, hoje estão no livro, por exemplo, teve um dia que ele não parava de correr nenhum minuto, a gente estava andando no shopping, eu parei chorando, e falei assim: "Meu filho, por que você não anda, você só corre?" E ele falou assim: "Mamãe, porque tem em mim uma alegria que eu não consigo controlar". Essas frases foram muito marcantes para mim.
No caso o Ângelo Ele tem o TDAH. Isso não é falado no livro, não se fala de diagnóstico no livro, mas quem lê e quem tem TDAH, se identifica muito. Os pais se identificam muito também quando leem com os filhos.
O propósito não é de falar de diagnóstico, mas de aceitar as diferenças, é para conscientizar as pessoas de que todos nós temos diferenças, limitações, características diferentes uns dos outros e que a gente tem que se aceitar, independentemente de diagnóstico. A gente tem que aceitar um ao outro, aprender a conviver e aprender a incluir. Porque a inclusão não é apenas aceitar a pessoa, é cooperar com a pessoa.
OP - Como foi o processo de diagnóstico do seu filho, desde quando você desconfiava que ele era diferente?
Mariana - Coração de mãe, eu sabia que tinha alguma coisa diferente com ele desde o dia que eh ele nasceu. Eu já sabia, achava ele muito calmo, muito tranquilo. Com três anos ele não falava, comecei a ficar apavorada, porque eu via todas as outras crianças se comunicando e progredindo e ele tinha um atraso de desenvolvimento.
Não se fechava nenhum outro diagnóstico, mas ele era acompanhado semestralmente e o neuropediatra dele, que é o Dr. André Pessoa, ele sempre falava assim: "Vamos estimular". Então, ele fez muitas terapias específicas de estimulação, ele fazia terapia ocupacional, fazia várias outras terapias, complementares, a terapia principal.
E ele foi recebendo alta de tudo, mas mesmo ele recebendo alta, eu deixava ele na terapia porque ele evoluía muito. Ele ficou um menino muito cheio de autonomia.
Daí quando ele completou 7 anos, aí, sim, veio o diagnóstico. É a idade que os especialistas consideram a idade correta para dar um diagnóstico de TDAH. E aí fechou o diagnóstico dele e eu questionei o médico, por que ele tem? Aí ele falou: "Por você tem". O médico é um grande amigo meu, e ele disse: "Veja com um psiquiatra ou com um neuropsicólogo para ver se você faz o teste e confirma. E veio o meu diagnóstico.
OP - Como foi para você receber esse diagnóstico tardio? Acha que se tivesse tido essa confirmação mais cedo, teria mudado algo na sua vida?
Mariana - Eu sabia que era diferente, e receber o diagnóstico tardio foi libertador. Porque foi a resposta para todos os meus porquês. Por que eu leio sete vezes a mesma página do livro e ainda assim eu não sei o que estou lendo? Por que o professor está dando aula, falando na minha frente e eu estou viajando? Por que eu esqueço um monte de coisa? Por que eu esqueço compromisso?
E o hiper foco, eu sempre tive dentro da comunicação. Eu trabalho com comunicação desde os 14 anos. Eu era locutora de rádio com 14 anos já. Então eu sempre tive hiper foco nisso.
Hoje eu percebo que eu crio métodos, crio técnicas, a questão do dar aula, de ter altas habilidades para certas coisas, tudo é fruto do TDAH, tudo tem o bônus e o ônus. A questão da criatividade exagerada, que o TDAH tem. Então é isso mesmo, libertador.
Minha psiquiatra, ela fala assim: "Mariana, se você tivesse sido diagnosticada na infância, você era presidente do Brasil, conquistaria o mundo. Sem um diagnóstico e sem o tratamento, você já conquistou muita coisa, chegou onde muita gente sonha chegar, imagina com diagnóstico e tratamento".
Mas eu sempre falo que tive tratamento. Porque meus pais sabiam, me conheciam muito bem, então me estimularam muito. Meu pai sempre incentivou muito para o esporte. A vida inteira eu fui praticando esporte, desde que eu me entendo por gente, era natação, handball, vôlei. Minha mãe estimulava para as artes, então me botava na dança, fiz 5 anos de teatro, como forma, talvez, de eu descarregar, de eu me ocupar.
Eu acho que eles fizeram isso de forma muito instintiva, porque não se falava de TDAH, de autismo na minha época. Eu sou dos anos 80, então não se falava disso, mas eu acho que de forma instintiva meu pai me jogava no esporte, a minha mãe me jogava na dança, nas artes, porque eles viam algo diferente. Acabei fazendo muita coisa que é para um TDAH fazer.
OP - Como foi o processo de produção do livro, você chegou a consultar algum especialista sobre o assunto?
Mariana - Queria muito que esse livro chegasse nas escolas públicas e particulares. Por quê? Porque quanto mais crianças leem esse livro, mais elas vão conseguir incluir. O Ângelo, ele chega como um projeto, não só como um livro. Onde tem, por exemplo, o meu encontro com os alunos, tem o meu encontro com os pais dos alunos, e o meu encontro com os educadores. Onde eu falo de inclusão, falo de todo esse processo de empatia, e de cooperação, em linguagens diferentes para esses três públicos.
Nesse processo de criação, eu já tinha um roteiro na minha cabeça, já tinha história na minha cabeça, mas eu precisava adequar para a idade que eu queria, que tivesse a linguagem adequada. Meu filho já é acompanhado há muito tempo por vários profissionais que acabaram se tornando meus amigos, eles sempre me indicaram muitos livros, eu ia tirando minhas dúvidas. Sempre fui muito curiosa, sempre fui atrás de ler.
Quando a editora comprou os direitos do meu livro, fui cercada de pedagogos de conteúdo. Eu nem sabia que isso existia. Então, existem os pedagogos de conteúdo que vão avaliar o conteúdo e adequar para a idade da criança que a gente quer atingir.
Mas foi muito da experiência vivida em casa com meu filho, da minha experiência também, com a ajuda desses profissionais, da pedagogia, da psicologia, da neuro, do neuropediatria.
Me comunico muito bem com as crianças, já me comunicava nessa linha, linguagem mais acessível, mais lúdica. E os meus filhos, eu sei da forma como eu tenho que me comunicar com eles também. Eu sei muito que eles iam gostar, o tipo de coisa que acontecesse no livro de roteiro, que eles iam gostar. Então, eu me baseei muito pelo gosto deles também. Eles foram inspiração.
Eu mandei as imagens das pessoas específicas que eu queria que fizessem parte do livro. Por exemplo, a melhor amiga do Ângelo, ela é inspirada na melhor amiga do meu filho. O Ângelo, ele é muito baseado na foto do meu filho. Queria muito que se parecesse com o Marco Antônio, porque ele foi minha maior inspiração.
O ilustrador foi escolhido pela editora assim a dedo e a gente foi fazendo junto a capa, ai, não, vamos ajustar isso não. Não foi assim que imaginei, porque na minha cabeça eu já tinha ideia de como seriam os personagens. O Rubens, ele tem TDAH e ele disse que para ele foi muito emocionante fazer a ilustração do livro, porque ele se viu o tempo inteiro no protagonista do livro.
Ele foi mandando para mim, eu fiz uma descrição de como eu imaginava cada personagem. Eu queria que tivesse bem a cara do personagem que estavam na minha cabeça. Então, assim, eu acho que ele fez com muito mais amor do que o que ele costuma fazer, porque ele se viu no livro. E foi muito legal saber disso.
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OP - O livro será lançado oficialmente no dia 11 de outubro, um dia antes do dia das crianças, a data foi pensada?
Mariana - Vai ser lançado dia 11, um dia antes do dia das crianças e justamente no mês, o mês da campanha de conscientização mundial do TDAH, que é outubro. Então ele foi escolhido assim o dia e o mês. Foi pensado no lançamento do livro para isso, englobar esse tema.
OP - Você falou muito sobre convivência, respeito e inclusão, qual a importância de ensinar para as crianças esses conceitos?
Mariana - Sempre falo que a educação ela começa em casa, mas eu também digo que muitas crianças elas já nascem muito más, que tem pais maravilhosos que educam muito bem, mas a criança ela é muito malvada às vezes. Então ela precisa entender que nem todo mundo é igual a ela.
Existem crianças, existem pessoas de diversas cores no mundo, existem pessoas que fazem escolhas que querem, uma gosta de azul, a outra gosta de verde, um é mais desatento, o outro é muito hiperativo.
As crianças elas precisam entender que nem todo mundo vai ser igual a ela. E se elas crescem, com esse entendimento de que todos nós somos diferentes e que há beleza nessa diversidade, ela vai se tornar um adulto que vai ter um poder social muito maior. Criança que aprende a conviver com os diferentes e a e não só conviver, mas incluir em cooperar com eles.
Muitas dessas crianças vão levar esse ensinamento para casa. Esse livro ele vai trabalhar a família toda junta. O Brasil ele não faz inclusão, ele finge que faz. Nenhum lugar no Brasil inclui como deveria. Muito difícil, é muito raro, quero chamar atenção para isso, para a questão da inclusão.