Um dia após a tentativa de fuga do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, a Polícia Federal (PF) cumpriu dez mandados de prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica, contra outros condenados pela trama golpista.
As medidas decretadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) atingiram réus dos núcleos 2, 3 e 4 da tentativa de golpe. Segundo a PF, os mandados foram cumpridos nos Estados de Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Goiás, Bahia e Tocantins e no Distrito Federal.
Ainda de acordo com a PF, o Exército Brasileiro participou das diligências. É que seis dos réus atingidos são militares: o major da reserva Ângelo Denicoli, o subtenente Giancarlo Rodrigues, os tenentes-coronéis Guilherme Marques Almeida e Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros e os coronéis Bernardo Romão Corrêa Netto e Fabrício Moreira de Bastos. Destes, somente o tenente-coronel Almeida não foi localizado em sua casa, em Goiânia. Ele estaria na Bahia. Segundo a PF, o militar informou que ia se entregar na 6.ª Região Militar, em Salvador.
Além deles, tiveram as prisões decretadas o ex-major do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros, a ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça Marília Alencar, o ex-assessor de Jair Bolsonaro para assuntos internacionais Filipe Martins e o presidente do Instituto Voto Legal, Carlos César Moretzsohn Rocha.
O engenheiro Carlos Rocha não foi localizado em seu endereço e passou a ser considerado foragido. A entidade que ele preside foi contratada pelo Partido Liberal (PL), do ex-presidente Bolsonaro, para produzir um relatório contestando a apuração dos votos nas eleições de 2022.
Ao STF, a PF informou que foi ao endereço de Rocha, mas os policiais descobriram que ele se mudara dali havia alguns meses. O engenheiro era locatário do apartamento, que já teria sido alugado, segundo a PF, a um novo inquilino, que tomou posse do imóvel na sexta-feira. A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Rocha.
Abuso
Em nota, a defesa de Filipe Martins afirmou que a prisão domiciliar de seu ciente é "mais um capítulo da grande lista de abusos" contra o ex-assessor de Bolsonaro. "Trata-se de mais um abuso, mais uma cautelar sem fundamento, como todas as outras, após uma condenação construída em cima da ignorância absoluta às provas e ao devido processo legal substancial". A reportagem procurou a defesa dos demais réus, mas não obteve respostas.
Além da prisão domiciliar, foram impostas por Moraes medidas cautelares: a proibição de uso de redes sociais e de contato com outros investigados, a entrega de todos os passaportes, nacionais e estrangeiros, à Polícia Federal no prazo de 24 horas, a suspensão de documentos de porte de arma de fogo e a proibição de visitas, com a exceção dos advogados dos reus. O ministro determinou ainda que os visitantes autorizados pela Corte fiquem "expressamente proibidos de utilizar celulares, tirar fotos ou gravar imagens".
Moraes, por fim, alertou que o descumprimento de quaisquer dessas regras motivará a decretação da prisão preventiva do acusado. Em seu despacho, o ministro argumentou que a decretação da prisão domiciliar dos réus se fazia necessária em razão da fuga do ex-deputado federal Alexandre Ramagem (PL) e da tentativa de fuga de Silvinei Vasques.
"O modus operandi da organização criminosa condenada pelo Supremo Tribunal Federal indica a possibilidade de planejamento e execução de fugas para fora do território nacional, como feito pelo réu Alexandre Ramagem, inclusive com a ajuda de terceiros, conforme destacado pela Polícia Federal. (...) A mesma estratégia de evasão do território nacional também se verificou em relação ao corréu Silvinei Vasques", escreveu Moraes.
Silvinei Vasques estava sob monitoramento eletrônico desde agosto de 2024, quando foi liberado de uma prisão preventiva. Em 16 de dezembro, o ex-diretor da PRF foi condenado pelo Supremo a 24 anos e 6 meses de prisão.
No dia 24, ele deixou o apartamento onde vivia, em Santa Catarina, rompeu a tornozeleira eletrônica e fugiu para o Paraguai, onde pretendia embarcar em um voo para El Salvador. Na madrugada do dia 26, Vasques foi detido em Assunção, após ser interceptado pelas autoridades daquele país. Usava um passaporte paraguaio falso e carregava uma carta médica falsificada que informava que a viagem serviria para tratar um câncer.
Denúncia
Vasques havia sido condenado pelo Supremo com o chamado núcleo 2 da trama golpista ao lado de Filipe Martins, o ex-assessor de Bolsonaro. A denúncia da Procuradoria-Geral da República do caso foi fatiada em quatro núcleos de atuação. O ex-presidente Bolsonaro integrou o núcleo 1, composto por pessoas em posições de comando. Os militares condenados estavam distribuídos pelos quatro núcleos.