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Ceará prestes a perder polo da castanha para Piauí
Economia

Ceará prestes a perder polo da castanha para Piauí

Estado produz abaixo de 100 mil toneladas desde 2011. Hoje, parte da fruta consumida já vem da África
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A quantidade cada vez menor de castanha de caju produzida no Ceará obrigou as indústrias a importar o produto, nos últimos cinco anos, para não parar as fábricas. O Estado ainda é o maior produtor do País, mas, se nada for feito para mudar o declínio da cultura, o lugar será ocupado em breve pelo Piauí. Para atender à demanda do mercado local, o produto já está sendo comprado da África.


O presidente do Sindicato dos Produtores de Caju do Ceará (Sincaju), Paulo de Tarso Meyer, estima que, daqui a duas safras, o Piauí vai ultrapassar a produção cearense. O Estado produz abaixo de 100 mil toneladas (t) desde 2011. Em 2016, colheu só 30,9 mil t.

Para 2017, apesar do maior volume de chuvas após cinco anos consecutivos de seca, tem previsão de fechar em torno de 54 mil toneladas.

[SAIBAMAIS]

Hoje, a produção não atende à demanda das quatro empresas cearenses (Usibras, Resibras, Cione e Amêndoas do Brasil), do total de 24 fábricas que existiam até o início dos anos 2000. Por isso, elas têm que fazer uma complementação comprando da África. As quantidades importadas dependem do tamanho da safra. As indústrias têm capacidade de processar 120 mil t/ano, embora não operem com a capacidade instalada total.


Uma perda ainda maior ocorreu no mercado mundial de amêndoas, em que o consumo cresce em média de 5% a 7% e movimenta US$ 6,5 bilhões/ano. O secretário-executivo do Sindicato das Indústrias de Beneficiamento de Castanha de Caju do Ceará (Sindicaju), Alderito Oliveira, lembra que há 15 anos o Brasil era o segundo maior produtor do mundo e detinha 20% desse mercado. Atualmente, informa, ocupa sétima posição, representando menos de 3%.


Mercado mundial


Para Alderito, a produção de castanha de caju, a exceção do Brasil, cresce em todo o mundo. Lembra que a amêndoa nem começou ainda a ser consumida, em larga escala, na China. “É importante dizer que caju, é uma grande oportunidade como agronegócio, por ser um produto com alta demanda no mercado nacional e internacional e alto valor agregado”, observa.


Ressalta que a cajucultura não é apenas castanha e óleo de castanha de caju. “O aproveitamento do pedúnculo pode gerar até mais renda do que a castanha e ser transformado em dezenas de produtos, como sucos, cajuína, doces, fibras alimentares, melado de caju, carnes de caju (vegana), além da lenha das podas anuais dos cajueiros”, diz, considerando que tudo isso gera renda e emprego para os agricultores.


O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Flávio Saboya, afirma que o Ceará precisa de uma retomada da cajucultura. Diz que essa conclusão saiu da reunião do Pacto de Cooperação da Agropecuária Cearense (Agropacto), em outubro deste ano, que discutiu uma proposta de revigoramento da cultura do caju. “No fim do evento, nós fizemos um abaixo assinado com mais de 50 participantes reconhecendo a necessidade da retomada”, destaca.

 

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Parque Industrial 

 

Quatro empresas cearenses (Usibras, Resibras, Cione e Amêndoas do Brasil) e cinco fábricas que beneficiam castanhas do Brasil; entre fevereiro e julho de 2017, importaram cerca de 15 mil toneladas da África; a produção brasileira começa no Maranhão, segue para o Piauí, Ceará e vai até a Bahia.


As quatro indústrias empregam cerca de 10 mil pessoas.


Produtos


O principal produto final gerado é a Amêndoa da Castanha de Caju (ACC).


Líquido da Castanha de Caju (LCC), retirado da casca da castanha, tem elevado valor comercial.


O pedúnculo, que pode ser consumido in natura ou usado na produção de bebidas, como o suco, cajuína e outros.

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