O ano de 2018 será um período de oportunidades para o turismo de Fortaleza. A operação da Fraport, no Aeroporto Internacional Pinto Martins, e a chegada dos voos do hub aéreo da Air France-KLM/Gol devem promover uma nova dinâmica ao setor. Ainda que demorem a amadurecer, os frutos já começam a aparecer. É o caso do interesse da rede norte-americana de hotéis Hilton, que iniciou negociação com a Prefeitura de Fortaleza para uma unidade na Capital O grupo internacional procurou o prefeito Roberto Cláudio (PDT) para o diálogo. Com o negócio fechado, o empreendimento funcionará na orla da Cidade.
Em entrevista ao O POVO, o chefe do Executivo municipal também destacou o balanço da gestão fiscal em 2017, as perspectivas para 2018, além das questões envolvendo a Praia do Futuro, a partir da administração da orla pela Prefeitura, e a regulamentação dos aplicativos de transporte particular de passageiros.
O POVO - Como ocorreu o diálogo com a rede Hilton?
Roberto Cláudio - Um grupo de construção nacional e a empresa estiveram aqui conosco prospectando um hotel. Conversaram sobre um retrofit (modernização de um empreendimento ultrapassado) num equipamento já existente. Eles possuem uma série de exigências com relação ao tamanho dos quartos e ao conforto. Avaliaram isso.
Prospectam essa possibilidade, além de conhecerem as regras de construção. Por enquanto, é algo embrionário, sem definição. Ainda não temos o valor do investimento.
O POVO – Como Fortaleza está se preparando para receber a operação da Fraport e o hub da Air France-KLM/Gol?
Roberto Cláudio - Tão importante quanto a Fraport estar aqui, os novos voos vão dar um efeito positivo à economia. Temos um grupo de trabalho com a Fraport e mantemos contato com a rede hoteleira. Há coisas que planejamos fazer. Algumas delas são as obras de infraestrutura. A cidade precisa de mobilidade, de atrativos turísticos, além da revitalização dos espaços do Centro da Cidade.
Além disso, temos duas ações. A primeira diz respeito à promoção turística de Fortaleza. Prefeitura e Governo do Estado vão fazer os investimentos para promover a Cidade. Não é só ter o hub da Air France-KLM. Precisamos promover a Cidade e manter a lotação dos voos. As equipes do Alexandre Pereira (secretário de Turismo de Fortaleza) e do Arialdo Pinho (secretário do Turismo do Estado) estão conversando. Eles sabem quais são os canais e os locais onde Fortaleza será promovida. Mas adianto que ocorrerão roadshows, a venda para operadores turísticos do Brasil e do exterior. Também haverá uma destinação em revistas de bordo de companhias aéreas.
Há também a questão do stopover (quando o passageiro faz de maneira voluntária uma escala ou conexão com duração maior que 24 horas) que Fortaleza pode se beneficiar.
O POVO – A Prefeitura acredita na viabilidade do stopover?
Roberto Cláudio – Portugal se beneficiou por meio do diálogo entre governos e iniciativa privada. Fizeram a redução de tributos e concederam incentivos. E é isso que estamos discutindo com o trade turístico. Construiremos também com as companhias áreas. Por exemplo: um passageiro que sai da Europa e tem como destino Salvador, na Bahia. Quais os incentivos que ele vai ter ao parar em Fortaleza?
Se ele vem em conexão, paga-se uma só passagem. Mas se para na Capital, teria de pagar outra passagem. O que propomos é se, caso ele fique 24 ou 48 horas, as companhias aéreas não cobrariam uma nova passagem. O mesmo ocorreria com a hotelaria. O passageiro ganharia uma pernoite mais barata, além da possibilidade de redução de custo de alimentação por meio de um ticket. É algo estudado com hotéis e restaurantes.
Por outro lado, queremos incentivar a ocupação privada qualificada.
Na Praia de Iracema, o objetivo é atrair bons restaurantes, equipamentos culturais, novos hotéis. Daremos incentivos para isso.
Chegará uma hora que o turista mais exigente demandará serviços mais qualificados. O mercado vai responder ao interesse, mas quando há o incentivo público, a atração de investimento do privado é ainda mais célere.
O POVO - Na semana passada, a gestão da orla de Fortaleza passou da União para o município, incluindo a Praia de Iracema. No entanto, a Praia do Futuro continua sob litígio em decorrência das barracas de praia que lá ocupam faixas de terra. O senhor espera que a situação seja resolvida em 2018?
Roberto Cláudio - O mais importante é que está havendo uma convergência num interesse essencial. Participamos do grupo formado pelo Ministério Público Federal (MPF), Advocacia Geral da União (AGU), empresários das barracas de praia.
O entendimento é que as barracas de praia cumprem o papel econômico e social importantíssimo para Fortaleza. A presença delas ali, na Praia do Futuro, qualifica economicamente a área, dá oportunidade de inclusão aos moradores em nível de emprego e, ao mesmo tempo, gera oportunidade democrática e única de lazer à Cidade.
Há uma compreensão de padronizar e regulamentar a presença das barracas no local. É com esses dois sentimentos, o do entendimento econômico e social delas, e da necessidade de uma padronização e de uma nova regulamentação, que estamos negociando.
Há perspectiva de chegarmos ao entendimento. Esperamos que a questão termine em 2018, em vez de levar a cabo essa judicialização.
O POVO - O senhor é favorável à retirada das barracas de praia de faixa de areia?
Roberto Cláudio - Na minha visão, as barracas precisam permanecer lá. Não quero entrar na polêmica, pois respeito o Ministério Público Federal. Mas eu acho que podemos encontrar um caminho. Elas podem permanecer na faixa de praia respeitando regras e parâmetros novos. Mas primeiro precisamos chegar a um entendimento com os atores envolvidos.
Outras coisas importantes diz respeito à remoção das ruínas de barracas existentes. Dependemos desse entendimento. Lá existem estabelecimentos que, por estarem abandonados, trazem sujeira, poluição visual e abrigam atos de violência na Praia do Futuro.
O POVO - Sobre a liberação dos serviços de transporte individual de passageiros via aplicativo, o senhor pretende legalizar o serviço na Capital?
Roberto Cláudio - A questão não é ser contra ou a estar do lado das empresas que prestam esse tipo de serviço. É ser a favor da legalidade. Eu dizia, tempos atrás, não haver previsão legal ou constitucional para que os municípios regulamentassem aplicativos de transporte individual de passageiros. O Congresso Nacional regulamenta por falta de possibilidade legal de os municípios. Alguns poucos que o fizeram terão suas leis caindo por terra, já que a lei federal cria novos parâmetros de regulamentação do transporte.
Vamos aguardar. Com esse instrumento, o município terá a prerrogativa de regulamentar. A lei federal já prevê uma tributação. E nós, em Fortaleza, vamos obedecer a lei federal.
O POVO - Que balanço o senhor faz da situação fiscal em 2017
Roberto Cláudio - Foi um ano, para todos os entes públicos, bastante desafiador. Um terceiro ano consecutivo em que as receitas municipais do Brasil inteiro sofreram queda. O dever de casa dos anos anteriores fez com que conseguíssemos manter coisas básicas, como o pagamento dos servidores em dia, manter aberto os serviços fundamentais necessários para a população. Fizemos dois reajustes, um em 2013 e outro em 2015. Foi isso que permitiu que Fortaleza chegasse ao terceiro ano ampliando serviços e mantendo o ritmo das obras.
O POVO - O que esperar para 2018? O senhor cita algum desafio?
Roberto Cláudio - A economia nacional ter parado de piorar e a economia local ter dado resposta, além de o turismo ter um bom indicador com ocupação hoteleira são indutores para um cenário melhor em 2018. Teremos a operação da Fraport e os voos da Air France-KLM/Gol.
O maior desafio, no entanto, é manter a responsabilidade fiscal. Por mais que projetemos uma melhora, não podemos sossegar. Não sabemos ainda se ela é sustentável. Manteremos a austeridade, ao passo que vamos aumentar os investimentos, o custeio da Prefeitura.
Frases
Queremos incentivar a ocupação privada qualificada. Na praia de Iracema, o objetivo é atrair bons restaurantes, equipamentos culturais, novos hotéis”
As barracas de praia cumprem um papel econômico e social importantíssimo para fortaleza. A presença delas na praia do futuro qualifica economicamente a área”