A compra da casa própria é uma decisão marcante. Não só pelo ato em si, muitas vezes associado ao sonho de independência, mas pelo peso que a aquisição pode representar no orçamento. Por isso, antes de dar este passo, é importante avaliar sua situação financeira atual e se programar para os gastos.
[SAIBAMAIS]
“O primeiro passo é ter a certeza de que esta é a decisão mais acertada. Muitas vezes, comprar uma casa é uma decisão mais emocional que financeira. Mas é preciso se planejar para isso”, avalia o consultor financeiro Samuel Magalhães.
Quando se fala em planejamento, é preciso ter em mente se o valor do imóvel cabe no seu orçamento, se há uma reserva financeira para pagá-lo à vista ou, no mínimo, a entrada e depois as parcelas. Também é preciso pesar se o imóvel escolhido atende às necessidades. “É um casal que pretende ter filhos em breve? Fica perto do trabalho? O tempo que será gasto no trânsito? O custo de vida naquela região? São muitos fatores a serem pesados”, destaca.
Isso sem falar nos custos que são decorrentes da aquisição do bem, como registro do imóvel, Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), condomínio, gastos com água, luz, etc.
Para quem não dispõem do dinheiro para comprar o imóvel à vista, que assegura um desconto maior, existem várias maneiras de se chegar ao montante. O financiamento imobiliário e o consórcio são os mais comuns.
O primeiro é mais indicado para quem tem pressa de se mudar. Dependendo da linha de financiamento e do tipo de imóvel que se quer financiar (novo ou usado), é possível financiar até 80% do valor. A concessão do crédito está muito ligada à renda, ao tempo e ao tipo de relacionamento que o cliente tem com o banco.
“O ideal é o cliente buscar um banco no qual já tenha um relacionamento, porque ele já sabe do histórico, a capacidade de pagamento e quanto menor o risco do cliente, menor a taxa”, explica o consultor Marcelo Peres, membro da Associação Brasileira dos Executivos de Finanças (Ibef- CE).
Já o consórcio costuma ter um custo menor que o do financiamento. Porém, a não ser que a pessoa seja contemplada em um sorteio ou ofereça o maior lance, o dinheiro só vai estar disponível no fim do prazo.
Nos dois casos, Marcelo orienta que se faça uma reserva para pagar valores maiores para além da parcela. Seja para oferecer lances, no caso de consórcio, ou para amortizar o financiamento.
Outra saída é investir em aplicações financeiras até conseguir juntar o dinheiro para comprar o imóvel à vista. O que evitaria a incidência de juros e taxas de administração. O tempo necessário para atingir o objetivo vai depender do tipo de investimento, rentabilidade e do valor das parcelas. Também é recomendado corrigir o valor dos depósitos a cada ano pela inflação.
OS CAMINHOS PARA FAZER UMA BOA ESCOLHA
Entenda as diferenças entre financiamento, consórcio e aplicações no tesouro direto. O POVO fez uma simulação para compra de um imóvel novo no valor de R$ 200 mil em Fortaleza. Confira o resultado:
1. FINANCIAMENTO
Indicado para quem tem pressa para se mudar. É possível diluir as parcelas em prazos mais longos. Por outro lado, há incidência de juros e reajustes anuais pela TR (Taxa Referencial).
2. TABELA SAC
(aquela em que o valor das parcelas reduz com o tempo)Seria preciso dar uma entrada de R$ 40 mil (já que nesta modalidade só é possível financiar até 80% do imóvel) e financiar o restante em 35 anos. Neste caso, as parcelas começariam em R$ 1.856,52 e a última seria de R$ 409,28. O custo efetivo total, atualmente, é de 12,22%.
3. TABELA PRICE
(o valor das parcelas permanece praticamente o mesmo ao longo do contrato)
Para comprar este mesmo imóvel, o consumidor teria que dar uma entrada maior (no mínimo 50% do valor) e financiar o restante em 20 anos. A parcela começaria em R$ 1.061,14 e terminaria em R$ 1.022,14. O custo efetivo total é de 12,26%
OBS.: A simulação foi feita no site da Caixa Econômica Federal considerando uma renda familiar de R$ 7 mil e que não há um relacionamento com o banco (taxa balcão). Fatores como tempo de relacionamento com o banco e o tipo de vínculo empregatício podem reduzir os custos e melhorar as condições de pagamento. Os recursos do FGTS também podem ser usados como entrada.
4. CONSÓRCIO
Com um custo menor, é opção para quem pode esperar um pouco mais. No consórcio, a pessoa só tem acesso ao dinheiro no fim do contrato. A não ser que seja contemplado em um dos sorteios mensais ou que faça o maior lance no período. Neste caso, ele receberia o valor total e continuaria pagando as parcelas.
Para um contrato de R$ 200 mil, a pessoa teria que pagar parcelas de R$ 1.470,81 ao longo de 15 anos. A taxa de administração é de 26% (diluída ao longo do contrato) e fundo de reserva de 1%.
OBS.: simulação feita no site do Rodobens
5. APLICAÇÃO FINANCEIRA
Outra opção seria poupar mensalmente uma quantia em uma aplicação financeira. Neste caso, o dinheiro só é resgatado no fim do contrato. É possível tirar antes, mas teria algumas perdas. A rentabilidade é alta, mas há incidência de taxa e imposto de renda.
6. TESOURO PRÉ-FIXADO
2023 (LTN):
É possível chegar aos R$ 200 mil até 2023, em cinco anos, sem dar entrada, com aportes mensais de R$ 2.808,92. Nele, a rentabilidade bruta é de 9,56% ao ano, custos de R$ 2.117,47 e o valor a ser pago à Receita Federal, na hora do resgate, chegaria a R$ 6,7 mil.
7. TESOURO IPCA%2b 2035:
Para retirar o dinheiro em 2035 (daqui a 17 anos), teria que fazer depósito mensais de R$ 460,40. Considerando uma rentabilidade bruta de 9,53%, custos de R$ 6,3 mil e um desconto de imposto de renda de R$ 20,3 mil, o valor líquido resgatado ao fim do contrato seria de R$ 199.996,00.
DICAS PARA A REALIZAÇÃO DO SONHO
1. Organize seu orçamento.
2. Leve em conta o custo de vida da região onde o imóvel está localizado.
3. O ideal é comprar o imóvel à vista. Se não for possível, avalie a modalidade financeira que mais se encaixa à sua realidade financeira: se financiamento, consórcio ou poupança.
4. Se não tem o dinheiro da entrada, faça uma reserva específica para este fim.
5. Compare não só a prestação, mas também os custos da operação entre as instituições financeiras.