Do chão de fábrica a CEO. Uma trajetória que exigiu, além de muitas trocas de uniformes, saber lidar com pessoas. Essa estrada teve na direção Steve St. Angelo, hoje CEO da Toyota Motor Corporation para a América Latina e Caribe.
O POVO o entrevistou quando da sua visita a uma das parceiras da companhia, a Newland. Foi na unidade do bairro Luciano Cavalcante, em Fortaleza. Ele estava acompanhado de Luiz Carlos Andrade Jr., coordenador-chefe da Toyota Motor Corporation para a América Latina e Caribe.
Na entrevista, Angelo detalhou, além da sua carreira, os planos da Toyota para o Brasil e o que esperar do programa governamental de incentivo à indústria automobilística, Rota 2030.
O POVO - A empresa anunciou que vai investir mais em carros híbridos até 2025 no Brasil como primeiro passo para carros elétricos. Vai ser necessária a construção de mais plantas no País?
Steve St. Angelo - Em 2050, o compromisso da Toyota é reduzir 90% das emissões de CO² (com base em dados de 2010). Isso significa que todos os veículos fabricados pela Toyota serão elétricos, alguns híbridos ou células de combustível. Em 2025, nossa meta é oferecer opção híbrida, de célula de combustível ou elétrica em todos os veículos que comercializamos no mundo. Então, se você for comprar uma Hilux, por exemplo, você terá uma opção de gasolina, híbrida ou outra coisa. Mas, em 2050, não haverá mais ação para gasolina ou diesel. E, fazendo isso, não há planos de criar novas plantas para vender híbridos. Mas todas as nossas fábricas são capazes hoje de fabricar tecnologia híbrida, incluindo nossa fábrica de motores.
OP - Como o senhor enxerga que a indústria automobilística vai se desenvolver com o programa Rota 2030 do Governo Federal?
Steve St. Angelo - Eu estava muito envolvido com isso desde o primeiro dia. O bom é que é um plano para 2030. Então, isso nos permite ter melhores estratégias para atingir essas metas governamentais e também planejar investimentos. E no fim teremos produtos melhores para nossos clientes. Esse é o objetivo principal. O principal benefício é que podemos planejar a partir de agora até 2030. Porque fazer um carro leva 3, 4, 5 anos e se pensar nisso daqui a cinco anos já é 2023, 2024. Isso nos permite planejar mais e desenvolver estratégias para finanças, estratégias de fabricação, estratégias de engenharia e assim por diante.
OP - O quão importante são os incentivos fiscais desse programa?
Steve St. Angelo - É claro que incentivos fiscais são importantes para qualquer empresa, mas ainda não sabemos quanto benefício teremos. Você sabe, no Brasil, isso vem em incentivos fiscais, mas quase tudo é tão sobrecarregado. Se você olhar para o custo de um veículo no Brasil e comparar esse custo com o de outros países, é quase o dobro! E essa segunda metade é toda desses impostos adicionais.
OP - No mundo, muitos utilizam os sistemas Toyota de produção. O que então a Toyota tem a aprender com seus parceiros, como a Newland?
Steve St. Angelo - A Toyota tem o que chamamos de processos "best in town". E estes são alguns dos melhores processos para todo o mundo. Estamos tentando implementar essas práticas em toda a América Latina. E a Newland tem sido muito agressiva ao fazer isso, implementando essas "best in town", boas práticas, e, por isso, conservam melhor os clientes, fornecendo informações mais rápidas, avaliações e serviços que superam as expectativas dos clientes. Temos um sistema de classificação muito severo para todos os nossos revendedores na América Latina. Quando usamos esse sistema de classificação contra a Newland, eles ganharam o mais alto, não apenas no Brasil, mas ganharam o maior em toda a Comunidade da América Latina. O que isso me diz é que os trabalhadores aqui são muito disciplinados, são muito motivados pelo processo, amam a Toyota e realmente respeitam e reconhecem a importância dos clientes. Por isso estou muito orgulhoso do bom trabalho que a Newland faz e de todas as concessionárias.
OP - Qual o retorno em ser o melhor?
Steve St. Angelo - Por causa desse bom esforço, concedemos a eles uma franquia da Lexus. E eu não dou essas franquias. Concessionários e proprietários de revendedores e suas equipes devem ganhar. E a Newland ganhou uma franquia Lexus. É uma grande honra, mostra o respeito e a apreciação que tenho por toda a equipe Newland.
OP - No lado pessoal, o senhor, como um dos CEOs da Toyota, é conhecido por ser irreverente. O que isso ajudou o senhor na carreira?
Steve St. Angelo - Embora eu seja o CEO de uma das maiores empresas automobilísticas da região, comecei de maneira muito simples. Eu comecei como um trabalhador de produção na linha de montagem. Na verdade, montei carros por 5,5 anos. Trabalhei no segundo turno. Durante o dia, fui para a universidade e recebi meus diplomas de engenharia e meus mestrados fazendo isso. E esse processo me permitiu crescer dentro da indústria automobilística. Eu fiz a maioria dos trabalhos na indústria automobilística e isso ajudou meu conhecimento, mas principalmente me ajudou a me relacionar com as pessoas. Porque um dia, ou uma hora, eu estou tendo uma reunião com Akio Toyoda, nosso CEO, e cinco minutos depois eu posso estar tomando uma cerveja com um membro da equipe em Sorocaba (SP) ou Indaiatuba (SP). Então, porque eu cresci nesses ambientes diferentes é que eu sei como poderia usar um uniforme diferente. E eu posso fazer isso sem ser falso. Eu posso fazer isso porque é o meu DNA, é quem eu realmente sou. Eu realmente aprecio as pessoas. Você sabe, mesmo que você não seja bem sucedido, as pessoas vão se esforçar muito. Se você não demonstra apreço, eles não vão se esforçar para você mais tarde. Então eu realmente acredito em trabalhar duro, eu levo o meu trabalho a sério, eu trabalho muito duro, mas eu acredito em me divertir também. Basicamente, meu estilo é "trabalhe duro, jogue duro".
BASTIDORES
A capa do celular de Steve St. Angelo possui o símbolo do Corinthias.
O gravador pegou Angelo cantando a música do Batman quando a entrevista foi interrompida por alguns segundos.
No início da entrevista, alertado que haveria perguntas pessoais também, ele brincou: podemos ter que desligar (o gravador).