Após acidente que deixou 157 mortos na Etiópia, a Gol Linhas Aéreas suspendeu a operação das aeronaves da Boeing 737 MAX 8. O modelo é o mesmo usado para os voos via hub das rotas Fortaleza-Orlando-Miami, nos Estados Unidos. A medida afeta mais de 2,5 mil passageiros que embarcariam nos 14 voos por dia da companhia na Capital. Em nota, a Gol informou que os viajantes serão reacomodados em outras aeronaves ou empresas aéreas. Dentre elas, a parceira Delta Air Lines.
O secretário do Turismo do Ceará, Arialdo Pinho, destacou que a suspensão dos voos "afetaria muito" o hub aéreo no Estado. "Essas 14 linhas são diárias e a gente perderia", disse. As aeronaves receberam investimentos de R$ 6 bilhões em agosto último. À época, a Gol classificou o equipamento como moderno, sustentável e econômico, com promessa de redução de 15% no consumo do combustível.
Adalberto Febeliano, professor de Economia do Transporte Aéreo, destacou que a iniciativa da empresa é meramente preventiva. "Ela tem o controle da sua frota e saberá como conduzir a situação", diz. Em nota, a companhia afirma que "a segurança é seu valor número um". Por esta razão, "suspenderá temporariamente as operações comerciais das suas aeronaves 737 Max 8".
A Gol continuará operando os destinos internacionais de longo curso com os aviões Boeing 737 NG, sem previsão de cancelamento na malha. Atualmente, a frota é composta por 121 equipamentos Boeing. Destas, sete modelos são 737 Max 8. Apesar de não haver comprovação de risco iminente, as últimas tragédias envolvendo o avião têm causado preocupação entre os passageiros.
O acidente no domingo com o modelo que deixou 157 mortos na Etiópia caiu na zona de Hejeri, perto da cidade de Bishoftu, localizada a cerca de 40 quilômetros de Adis Abeba e sede da maior base da Força Aérea da Etiópia. A estatal Ethiopian Airlines é uma das maiores companhias aéreas da África. No ano passado, transportou mais de 10 milhões de passageiros. O piloto do avião com 157 pessoas que caiu na Etiópia relatou dificuldades minutos antes da queda. Ele pediu à torre de controle para retornar ao aeroporto da capital etíope, Adis Abeba.
A informação foi dada pelo executivo-chefe da Ethiopian Airlines, Tewolde Gebremariam. Em entrevista coletiva, ele disse que a empresa não tinha conhecimento de nenhum problema mecânico no Boeing 737-800, adquirido há apenas quatro meses. No final de outubro de 2018, outro acidente com um 737 Max 8 operado pela Lion Air, da Indonésia, deixou 189 mortos. Ontem, a Fundação Procon-SP recomendou suspensão de imediata das aeronaves da Boeing 737 MAX 8.
A decisão é atribuída a acidentes de perfil semelhante em curto espaço de tempo. "O objetivo da ação é prevenir que ocorram futuros acidentes colocando em risco a vida dos usuários do transporte aéreo", afirma o Procon-SP em comunicado. A Gol é aérea brasileira que possui aviões deste modelo, versão mais recente da aeronave comercial mais vendida no mundo, e opera com sete deles em rotas para os Estados Unidos, América do Sul e Caribe, preferencialmente.
Outro fato que também pode impactar o Ceará é caso a Azul Linhas Aéreas adquira parte dos ativos da Avianca Brasil - que passa por processo de recuperação judicial. As empresas operam na Capital e em Juazeiro do Norte, no Cariri cearense. As possibilidades são alteração no custo, ampliação de rotas e ofertas. Procuradas, as companhias disseram que ainda é cedo para projetar os efeitos.
Hoje, a Avianca opera 32 voos diários saindo de Fortaleza e Juazeiro, mas alcança apenas três destinos (Bogotá, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília). Já a Azul atua nas mesmas praças com um número menor de frequências (11 por dia). Além das três semanais no Aeroporto de Aracati. Apesar do fluxo menor de voos, detém o dobro de rotas no portfólio. Se o contrato for aprovado, a Azul poderá incluir as demais linhas. (Com Agência Estado)
O desdobramento da negociação
A Azul ganhará robustez no mercado aéreo cearense com a compra dos aditivos da Avianca. Isso se todas as operações do Ceará forem incorporadas à companhia.
Nesse cenário, a Azul saltaria de 14 para 48 frequências no Estado. Um aumento de 318%. Adalberto Febeliano, professor de Economia do Transporte Aéreo, explica que com menos uma concorrente disputando o mercado, a Azul ganhará fôlego para praticar novos valores. "Claro que sempre que tem um movimento de consolidação a tendência é que tenha aumento na tarifa porque diminui a concorrência", analisa. Na avaliação do especialista, a possibilidade é que a empresa assuma a demanda da Avianca e avalie se há viabilidade de ampliação no futuro. "É importante lembrar que a Azul atende o maior número de destinos e é natural que o nível de serviço, em geral, melhore normalmente. Passará a ter mais opção que antes, já que ela possuía uma malha pequena", destaca.
A Azul é a maior aérea do País em números de cidades atendidas, com 821 voos diários e 110 destinos. O economista Alcantâra Macedo acrescenta que o mercado aéreo brasileiro é forte, mas difícil para investidores. "A Azul entrará na fatia de mercado da Avianca. O mesmo que aconteceu com a Varig e a TAM, que abriu mais espaço para ela nesse mercado de oligopólio", sublinha. Para ele, o acordo não deverá pressionar o custo. "A oferta poderá ficar melhor", diz.
A Avianca acumula dívidas de R$ 400 milhões e entrou em recuperação judicial em dezembro. Diante das complicações, a companhia cortou a frequência Fortaleza-Brasília e os voos internacionais, que saem do portfólio a partir de abril.
"A prioridade das negociações com a Azul é fazer com que passageiros e funcionários tenham seus direitos garantidos e que as operações não sofram alterações. As empresas reforçam que estão confiantes nesta possível parceria, que trará benefício a todos", enviou por meio de nota. Pela proposta, a Avianca seria separada e uma parte da empresa seria comprada pela Azul.
Serviço
Passageiros da Gol poderão obter mais informações pelo telefone 0800 704 0465
Ações
Ações da Embraer abriram em queda, mas zeraram, ontem. Os papéis da Gol chegaram a cair 4%, mas a baixa foi amenizada. Já as ações da Azul dispararam.