Na contramão do que prega a política econômica do Governo Federal, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) determinou recuo no reajuste do diesel anunciado pela Petrobras. Para economistas, a medida gera desconfiança e instabilidade entre investidores. A decisão jogou para baixo, ontem, as ações da estatal no pré-mercado de Nova York e na B3, a Bolsa de São Paulo. A solução encontrada ainda é momentânea, já que o preço praticado em 26 de março será mantido "por alguns dias", conforme a empresa.
Com reajuste de 5,7%, o litro do diesel passaria de R$ 2,1432 para R$ 2,2662. Ainda na tarde de ontem, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, afirmou que a reunião de Bolsonaro com o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, e técnicos da empresa na próxima terça-feira, 16, pode levar a uma decisão sobre o valor do diesel. Ele, no entanto, deixou aberta a possibilidade de a decisão ser postergada se o presidente entender que faltam informações para subsidiar uma decisão.
"A reunião por princípio é para tomar uma decisão, mas se decidir-se por um aprofundamento dos dados, naturalmente não será na terça-feira o resultado", afirmou o porta-voz. Segundo ele, se o presidente e os técnicos avaliarem que precisam de mais informações, a decisão sobre o diesel pode não ser tomada na terça. O governo quer evitar o início de uma greve com receio de que tome as mesmas proporções do ano passado.
Segundo o consultor na área de petróleo e gás, Bruno Iughetti, a decisão pega o mercado econômico de surpresa justamente por ir de encontro à economia liberal pregada por Bolsonaro. "Por isso temos uma séria preocupação que venha a se repetir o que aconteceu há quatro anos no governo da Dilma (Rousseff - PT), em que houve um represamento de preços, o Governo interferindo na política da Petrobras, segurando os aumentos, até o ponto em que foi gerado um prejuízo. E quem pagou o preço foi a população, porque tiveram que recompor os preços que estavam represados", disse.
Para o consultor, a forma mais efetiva de segurar o preço é interferir nas taxas de tributação (PIS, COFINS ICMS, CID), que deveriam servir como amortecimento para as variações cambiais.
Para o economista Lauro Chaves, conselheiro do Conselho Federal de Economia e professor da Uece, a decisão gera desconfiança ao mercado internacional investidor. "O mercado reagiu em forma de oscilação negativa na bolsa de valores, isso pode gerar um aumento da incerteza, o que reduz a expectativa dos empresários em investir. Estamos num dos piores níveis de investimento da história do Brasil".
Influenciado pelas ações da Petrobras, o Índice Bovespa teve ontem a quarta queda consecutiva. Com volume financeiro superior à média dos últimos dias (R$ 20,2 bilhões), o Ibovespa terminou o pregão aos 92.875,00 pontos, em queda de 1,98%. No acumulado da semana, a perda foi de 4,36%.
"Este é realmente é um desvio fora da curva. Essa decisão do Bolsonaro de segurar os preços do óleo não é conivente com o que ele pregou e prega. Então, imagino que tenha sido uma decisão política", analisa o economista Alcântara Macêdo.