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Outras perspectivas de trabalho
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JOSÉ ETEALDO foi gerente de supermercados por mais de 30 anos até se aposentar  (Foto:  Deísa Garcêz/Especial para O Povo)
Foto: Deísa Garcêz/Especial para O Povo JOSÉ ETEALDO foi gerente de supermercados por mais de 30 anos até se aposentar

Com a experiência de quem gerenciou supermercados por mais de 30 anos e lidou com diversos tipos de gente, seu José Etealdo Oliveira Melo é agora, aos 67 anos, motorista de aplicativo. Aposentado, ele ainda cogitou abrir um comércio no mesmo ramo, mas, pensando em fazer os próprios horários e ter fins de semanas livres, decidiu, há um mês, dirigir sob demanda. "No primeiro dia pelo aplicativo, eu ainda tive alguma dificuldade por questões operacionais. Mas depois já entendi tudo. Tenho lidado com todo tipo de gente, estou satisfeito e recebendo excelentes notas", conta. A renda extra vai servir para o lazer, uma possível reforma em casa e Seu Etealdo já planeja voltar aos estudos e tentar uma faculdade no ano que vem "para preencher a mente".

"Acredito que, com a vida mais longa, a gente tem de providenciar fazer mais coisas. Nos próximos anos, vão ter muitos como eu", projeta. Idosos voltando a ser ativos economicamente após a aposentadoria ou mesmo permanecendo por mais tempo no mercado de trabalho deve ser mais comum nos próximos anos. "Teremos pessoas trabalhando por um período mais longo, porque precisam e estão ganhando pouco nas aposentadorias, e porque socialmente vai ser mais comum que as pessoas cheguem na faixa de 65 e 70 anos no mercado. Ou, ainda, porque decidiram que para elas é importante ter uma atividade que as valorizem, que as coloquem em contato com aspirações, com desejos próprios. Isso é uma coisa que a gente não estava acostumado", diz Wilson Amorim, professor de Recursos Humanos da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

Com a maior oferta de idosos e a diminuição de jovens, a empresas devem passar a dispor mais da população acima de 60 anos em seu quadro de empregados. E aí, surge um questionamento: as companhias e suas áreas de recursos humanos estão preparadas para se adaptar aos idosos? Para Amorim, a resposta é não. "Mesmo as empresas que têm uma área de RH mais estruturado, continuam dando mais preferência aos mais novos. E os setores que têm pessoas mais velhas são setores que vão fazer as contratações em posições de menor qualificação", acredita.

Para Henrique Noya, diretor do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, é necessário debater como se dará a requalificação dos idosos que, para cumprir prazos previdenciários, buscarão se manter no mercado de trabalho. "Como você vai requalificar o trabalhador em razão dos avanços da forma de produzir, do ponto de vista administrativo, mas também na manufatura e no tecnológico? De quem será essa obrigação: do governo, da empresa, do indivíduo?". Ele ainda propõe que seja pensado um arcabouço legal que crie vantagens às empresas que mantiverem idosos no seu quadro de empregados.

Surgem, nesse momento, questões como começar a pensar em um auxílio-cuidador (aos moldes do auxílio-creche), demandas mais específicas referentes à acessibilidade dentro da empresa, alimentação especiais (com menos sal e açúcar, ou mais seletivas) nos ambientes laborais. "De alguma forma, isso vai alcançar o mundo das empresas, necessitando de atenção por parte do empregador, para abarcar esse contingente de trabalhadores que vai ter uma participação crescente", observa Amorim.

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