Observador dos movimentos do Governo Federal, o cientista político Rodrigo Prando teoriza que a política se assenta, também, em contradições. A ideia de uma "nova CPMF" ter surgido de dentro do governo do pesselista, sempre crítico à medida impopular, é mais uma delas, entende o professor da Universidade Mackenzie (SP).
O caso específico se agrava com o fato de, no campo da economia, o liberalismo ter sido a plataforma que levou Bolsonaro à presidência.
"O Governo entra numa contradição enorme, porque tudo aquilo que foi dito, escrito, tuitado ou compartilhado, volta na forma de print e na diferença entre discurso e prática", aponta Prando.
No decorrer da corrida eleitoral, no dia 21 de setembro de 2018, Bolsonaro, pelo Twitter, assegurou: "nunca cogitei sua volta." E ainda disse sobre a equipe econômica, de onde, agora, surgiu a ideia: "sempre descartou qualquer aumento de impostos. Quem espalha isso é mentiroso e irresponsável."
A leitura que o estudioso faz é de que um mal-estar político se criou a partir da aventamento do retorno do imposto, o que ficou evidente com demissão de Marcos Cintra. Para ele, o responsável por contornar a situação é o presidente da República.
Ele ainda sublinha a indicação já dada pelos parlamentares, de que a aprovação da reforma tributária — pauta econômica prioritária depois da Previdência — com a inclusão do tópico tem baixíssima possibilidade de ser real.
"Isso tudo mostra que governar é uma coisa bastante diferente de fazer campanha política", separa. E explica: "na campanha política, com lacração, meme, frases de efeito, você ganha repercussão e ganha uma dimensão midiática ou nas redes sociais. Na condição de governo, as suas contradições, fragilidades do discurso e práticas governamentais são constantemente apontadas", pontua o docente. (Carlos Holanda/O POVO)