Um dia após afirmar que por pouco não executou um plano para matar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot foi alvo de ações de busca e apreensão executadas pela Polícia Federal em sua casa e escritório, em Brasília.
A ordem foi dada ontem pelo ministro do Supremo Alexandre de Moraes, que atendeu pedido feito por Gilmar para suspender o porte de armas de Janot e impedi-lo de entrar nas dependências do STF.
A PF apreendeu uma pistola, um tablet e um celular no apartamento de Janot. As ações de busca e apreensão foram decretadas no inquérito das fake news — aberto para apurar ameaças a ministros do STF e suas famílias — e, segundo Moraes, tiveram objetivo de verificar a "eventual existência de planejamento de novos atos atentatórios" contra Gilmar.
Duas equipes da PF chegaram às 17h40min na casa de Janot. Ele acompanhou as buscas ao lado do segurança particular e de um morador chamado pelos policiais para servir de testemunha.
Em entrevista ao Estadão, Janot revelou que, em 2017, chegou a entrar armado com uma pistola no STF, decidido a matar Gilmar. "Não ia ser ameaça, não. Ia ser assassinato mesmo. Ia matar ele e depois me suicidar", afirmou.
"O quadro revelado é gravíssimo, pois as entrevistas concedidas sugerem que aqueles que não concordem com decisões proferidas pelos ministros desta Corte devem resolver essas pendências usando de violência, armas de fogo e, até, com a prática de delitos contra a vida", observou Moraes, que impediu Janot de aproximar-se a menos de 200 metros de qualquer ministro do STF.
Moraes também determinou o recolhimento imediato de depoimento do ex-procurador-geral, "salvo se houver recusa", "por tratar-se de direito do investigado ao silêncio'". Janot preferiu não depor.
As declarações chocaram o mundo político. Janot disse ao Estado que a intenção de atirar em Gilmar foi motivada por ataques que o ministro fez à filha dele. Quando era chefe do MP, Janot chegou a pedir a suspeição de Gilmar na análise de um habeas corpus do empresário Eike Batista, sob o argumento de que a mulher do ministro, Guiomar Mendes, atuava no escritório de Sérgio Bermudes.
Ao se defender, o magistrado afirmou que a filha de Janot advogava para a empreiteira OAS em processo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e poderia ser "credora por honorários advocatícios de pessoas jurídicas envolvidas na Lava Jato". A história aparece no livro de memórias "Nada Menos que Tudo", a ser lançado pelo ex-chefe do MP em outubro. Na publicação, porém, Janot preferiu "não dar nome aos bois". (Agência Estado)