Em crise desde 2016, quando o vírus da síndrome da mancha branca atingiu os viveiros de camarão no Estado, a carcinicultura cearense mostra sinais de superação do problema e neste ano deve fechar com 40 mil toneladas produzidas, mais alta quantidade em três anos. O número recolocará o Ceará como o maior produtor do segmento no País, respondendo por quase 45% da produção brasileira, de acordo com estimativas da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC).
Para 2020, a expectativa é maior. O diretor presidente da ABCC e presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Camarão do Estado, Cristiano Maia, explica que isso se deve ao processo de melhoramento genético pelo qual os camarões de criadores cearenses passaram.
O processo de fortalecimento genético deve chegar ao ápice após três anos da infecção, para que os animais se tornem resistentes ao vírus. No próximo ano, a ABCC estima uma produção de 100 mil toneladas no País e de 50 mil toneladas no Ceará. "O que se faz é o fortalecimento genético das espécies. No caso dos viveiros cearenses, por seis gerações, desde que os casos da doença começaram", complementa.
O problema da mancha branca no camarão é antigo. Chegou ao Nordeste em 2011 e, em 2014, no Rio Grande do Norte - atual maior produtor. Mas a doença, apesar de não ter cura para o camarão, não afeta o ser humano.
Pedro Henrique Lopes, coordenador de Aquicultura e Pesca da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), explica que o trabalho feito pelos produtores inclui o tratamento da água e regulação de pH, transparência e alcalinidade, além do uso de probióticos e suplementos alimentares para melhorar a imunidade dos camarões.
Entre 2016 e 2018, a carcinicultura cearense sofreu uma perda de aproximadamente 50% na produção, quando a mancha branca chegou ao Ceará. Mesmo com as dificuldades, Aracati (a 155 km de Fortaleza) permaneceu como o segundo maior polo produtor de camarão em cativeiro do País.
Dados da Companhia Docas do Ceará (CDC), administradora do Porto do Mucuripe, que é a principal saída para exportação de frutos do mar, dão conta de que a movimentação de cargas de crustáceos em 2018 foi de 438 toneladas. A Sedet afirma que a exportação de camarão ainda é diminuta devido à grande demanda nacional, que exige até mesmo a importação de camarão do Equador.
Essa compra é vista como prejudicial para o mercado local. O engenheiro de Pesca do Agropolo, que presta serviços para a Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) do Estado, Ricardo Albuquerque, analisa que, enquanto os camarões produzidos no Brasil têm em sua história três registros de doenças, o equatoriano possui 13.
Ele ressalta que a produção em viveiros no Brasil ainda não consegue atender à demanda do mercado por causa do encarecimento da instalação de equipamentos, que demandam de mais técnica para evitar doenças. "A mancha branca é um vírus que ataca os animais e mata tudo".
"(Depois da mancha branca) 45% dos produtores atualizaram o layout. O pequeno produtor foi prejudicado com isso, mas o Governo do Estado está trabalhando junto aos pequenos para criar laboratórios no Interior e no Litoral", diz. No âmbito do novo programa de desenvolvimento econômico, o Ceará inaugurou equipamentos em Parajuru (a 132 km de Fortaleza) e Icapuí (a 209 km) e depois em Jaguaribara (a 308 km). Até fevereiro o projeto será lançado em integralidade para dar apoio técnico aos pequenos produtores locais.
Detalhes da nova carcinicultura
Tratamento
O tratamento para o vírus da mancha branca é o cultivo em sistema fechado com estufas, pois mantendo temperaturas constantes, em torno de 30º C, o vírus é inativado.
Doença
Em 2016, de acordo com dados do Censo da Carcinicultura da ABCC, com a epidemia do vírus da mancha branca (WSSV), houve uma diminuição da produção para 27,6 mil toneladas, enquanto em 2015 havia sido de 41,4 mil toneladas.
Alto custo
Saltou o investimento de R$ 100 mil, aproximadamente, para R$ 1 milhão, pois, para coibir a proliferação da mancha branca nos camarões, tornou-se necessária a adoção de equipamentos tecnológicos e proteções de telas sobre os viveiros, para aumentar a temperatura, pois o vírus não se prolifera nessa condição. A menor densidade de camarão por viveiro também contribui. Caiu de 70 camarões por metro quadrado (m²) para até 10 animais por m².
Produção do crustáceo
Previsão para 2020
50 mil toneladas no Ceará
100 mil toneladas no Brasil
Previsão para 2019
40 mil toneladas no Ceará
90 mil toneladas no Brasil