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Entrevista com Marcelo Flora, sócio responsável pelo BTG Pactual digital
Economia

Entrevista com Marcelo Flora, sócio responsável pelo BTG Pactual digital

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MARCELO Flora, sócio responsável pelo BTG 
Pactual digital (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação MARCELO Flora, sócio responsável pelo BTG Pactual digital

O POVO - O Bradesco e Itaú Unibanco já anunciaram o fechamento de agências até 2020. Muito se discute sobre o acesso aos serviços bancários para quem vive em locais mais distantes, como no interior do Ceará, e sobre a demissão dos funcionários destas empresas. Qual a sua avaliação sobre esse movimento do mercado?

Marcelo Flora - Minha visão é que os bancos de varejo tradicionais têm um grande desafio de tentar identificar quais são as agências que se tornaram obsoletas, que seus clientes não têm mais interesse em usá-las, há muitas agências vazias. Mas isso que isso é um fenômeno que ocorre com mais frequência nos grandes centros, onde a própria vida mais atribulada e o cliente sente-se mais confortável com o uso de tecnologia, e, diferentemente do que acontece com o uso no interior, onde você tem um nível de utilização das agências muito maior do que acontece nos grandes centros. Então, isso é algo que temos visto acontecer até nos Estados Unidos. Nos dias de hoje, identifica nos EUA número de agências reduzindo, mas, paralelo, você perceber uma interiorização das agências. Você começa a usar onde de fato elas são necessárias e têm um nível de utilização razoável que justifique a manutenção daquele custo elevado. Acredito que isso pode ser um caminho seguido no Brasil. A redução das agências nos grandes centros, onde a população mais habituada com uso de tecnologia naturalmente se sente mais confiante para a utilização dos canais digitais, ao passo que, no interior, as agências continuam sendo utilizadas porque é uma população que tem menos acesso a tecnologia e menos conforto com o uso, até dificuldade com a própria utilização de banda larga.

OP - O que impacta nos bancos tradicionais e nos digitais?

Marcelo Flora - As principais diferenças entre os bancos tradicionais de varejo e os bancos digitais é que os tradicionais têm uma certa arquitetura fechada. Você entra no banco e o cartão de crédito é do banco, a previdência, o seguro de vida, de automóvel são do próprio banco, o fundo de investimento só vendem da sua própria. Qual você olhar oferta de produtos e serviços dos bancos digitais, normalmente é baseada no conceito de arquitetura aberta, onde você traz para os clientes as melhores prestadores de serviços. No nosso caso, são 150 gestores de fundos , por exemplo, com quase 450 fundo mais de 30 emissores de CDB, LCA e LCI, mais de 30 emissoras de debêntures, várias opções de gestores para a previdência. Usamos várias seguradoras além da nossa própria.

OP - As fintechs unem tecnologia e novos produtos. Mas essas são vantagens para qualquer perfil de consumidor? Quem deve pensar e mudar para os digitais? Somente investidores?

Marcelo Flora - Qualquer perfil pode se beneficiar da entrada as fintechs. Não acho que isso é algo apenas para investidores, não. Tem vários exemplos que provam isso. Então, o Nubank não é um banco, começou como uma operadora de cartão de crédito e já uma instituição de pagamento, já oferece uma conta de pagamento que eles chamam de low conta. E tem uma séria de outras fintechs. Normalmente, as fintechs identificam a grande dor do cliente e tentam se concentrar nelas. Existe fintechs com foco em créditos, oferecendo soluções de crédito. Acho que elas trazem uma série de vantagens, benefícios e facilidades para o consumidor de maneira geral que não ficam restritas a nenhum perfil específico de consumidor. A gente tem que como sociedade contribuir para que as pessoas entendam e conheçam cada vez mais as vantagens, novos players que estão entrando no mercado, porque isso aumenta a concorrência e faz com que os produtos e serviços mesmo das instituições do varejo tradicional sejam aperfeiçoados. Hoje, a gente começa a ver essa discussão de arquitetura aberta em alguns grandes bancos de varejo, o que seria impensável e, obviamente, é uma consequência da entrada de várias plataformas de investimentos com modelo de arquitetura aberta.

OP - Qual a dica para o consumidor escolher o banco um digital seguro e produtos de acordo com seu perfil?

Marcelo Flora - É algo muito particular. Acredito que, quando a gente fala de banco, solidez, tradição, confiança são características que são fundamentais. Por outro lado, algumas das maiores instituições do País acabam tendo dificuldade de oferecer produtos na agilidade que as fintechs, por exemplo, conseguem oferecer, com o tipo de precificação e qualidade que algumas dessas fintechs têm oferecido. O ideal é você tentar encontrar meio do caminho. Instituições que tenham um tamanho forte e relevante, que tenha um patrimônio relevante, você pode fazer isso por meio da análise de rankings de tamanho de instituições no Brasil. Quanto maior a instituição, normalmente, mais apertada a regulação, e tentar, portanto, encontrar instituições que combinem com essas características de solidez, confiança e tradição com agilidade, eficiência, qualidade de produtos e serviços, preço que seja justo. Acho que esse é o caminho. Com relação ao produto de acordo com o perfil, acho que a gente tem evoluído bastante na autorregulação no Brasil. Hoje, todas as instituições aplicam um questionário que chama de suitability - avaliação de risco para os investidores e isso tem contribuído para facilitar essa adequação. Acho que isso é um problema menor do que foi no passado. Claro que contar com uma assessoria de qualidade, uma instituição que você está utilizando para investir seus recursos é algo importante. Por isso que a gente tem também um conjunto de assessores que atende o cliente pessoalmente ou como estivemos ontem, em Fortaleza, assinando parceria com a Vert Investimentos, acordos com agentes autônomos de investimentos contratados por nós para fazerem esse relacionamento mais olho no olho e que, obviamente, consegue oferecer uma assessoria ainda mais personalizada. Por último, do ponto de vista do conforto para os bancos do Brasil, cabe lembrar, o FGC oferecer a proteção de até R$ 250 mil por CPF, instituição. Então, a gente mesmo vendo ao longo dos últimos anos alguns bancos que tiveram problemas, percebe que as pessoas físicas, o pequeno investidor, no final, não teve nenhum prejuízo. Esse mecanismo de proteção tem funcionado muito bem no Brasil.

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