Como forma de minimizar os efeitos da crise pandêmica no setor de habitação, a Caixa Econômica Federal anunciou ontem que terá R$ 43 bilhões em novas linhas de crédito imobiliário. Além dos recursos, o banco passa a oferecer uma série de medidas para que pessoas físicas e empresas tenham mais capacidade de movimentar o mercado, como a pausa por 90 dias do financiamento habitacional e até uma carência de seis meses para o primeiro pagamento de novos contratos. As ações foram bem recebidas pelo setor produtivo cearense, que acredita que o auxílio será decisivo no momento de retomada das atividades no Estado.
Presidente do Sindicato das Construtoras (Sinduscon-CE), Patriolino Dias de Sousa acredita que o setor será "o maior propulsor do crescimento" do Estado após o fim da quarentena, posto que, segundo ele, o déficit habitacional ainda é muito grande e, com os incentivos dados pelos bancos, as empresas terão retomadas mais seguras. "São ações importantes para mitigar os impactos da crise. Se também ocorrer taxas de juros menores, não tenho dúvida de que o mercado voltará a aquecer", comenta.
Para pessoas jurídicas, como as construtoras, a Caixa anunciou que vai antecipar até 20% dos recursos do Financiamento à Produção de empreendimentos que ainda terão suas obras iniciadas, dentre outras medidas para garantir verba às empresas. "Eles também vão fazer fiscalizações remotas e adiantar em 120 dias as medições. Isso vai desburocratizar muitos processos", diz Patriolino.
Segundo o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, a estimativa é de que 530 mil novas unidades habitacionais sejam construídas após as novas medidas e que 1,2 milhão de empregos sejam preservados. No Ceará, conforme o Sinduscon-CE, não houve demissões até o momento porque o setor deu férias coletivas para seus trabalhadores desde o dia 23 de março, após o início da paralisação. "Esperamos apenas o Governo liberar para que voltemos a trabalhar".
No que diz respeito às pessoas físicas, o principal foco da Caixa foi pausar o pagamento de contratos de habitação vigentes ou oferecer a possibilidade de quitação parcial da parcela pelo prazo de 90 dias. Além disso, a instituição financeira passa a oferecer uma carência de seis meses para contratos de financiamentos novos, algo inédito na história do banco. "Uma pessoa que compra um imóvel hoje, só começará a pagar no sétimo mês. Isso nunca aconteceu e mostra nosso alinhamento com a sociedade neste momento de crise", comenta Pedro Guimarães. O presidente da Caixa também foi enfático ao reforçar que, "se a crise continuar, iremos ampliar as linhas de crédito". Segundo ele, as medidas beneficiarão cerca de 5 milhões de famílias.
O economista Célio Fernando, porém, faz um alerta sobre as facilidades oferecidas pela Caixa neste momento de crise. Segundo ele, a suspensão de pagamentos por 90 dias é positiva e oferece mais liquidez para as pessoas que vivem uma situação delicada, mas a opção por contratos novos, mesmo que para pagamento futuro, é arriscada. "Estamos em um cenário incerto, pois aquela pessoa não sabe nem se terá emprego daqui a seis meses. Assim, caso não seja de extrema necessidade, não recomendo tomar decisões importantes neste momento. Já existe um risco sistêmico, não há necessidade de um risco pessoal".
Célio destaca, ainda, que é preciso saber "como será a operacionalização" dessas linhas de créditos oferecidas pela Caixa, tendo em vista que nem todos terão acesso às mesmas. "Se a pessoa tiver problema no Serasa ou no Cadin (Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal), como fica a situação? Acredito que não será tão simples quanto o auxílio emergencial de R$ 600", destaca. Por fim, o economista disse que é importante estar atento às taxas que serão cobradas, pois, mesmo com a Selic em processo de queda, os juros reais dos bancos têm subido, por conta dos riscos neste momento de crise.