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O Banco do Nordeste no mercado das nomeações
Economia

O Banco do Nordeste no mercado das nomeações

Mudanças no BNB são vistas como contrárias ao desenvolvimento. O banco detém 66% do microcrédito urbano
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Mais uma vez, o Banco do Nordeste (BNB) entra no boato do mercado das nomeações. Desta vez, seria mais um trunfo do Governo Federal ante o Centrão em troca de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) diante dos riscos do avanço de um processo de impeachment após denúncias do ex-ministro da Justiça Sergio Moro. A avaliação é que a mudança em meio à pandemia impacta nas medidas em curso para o desenvolvimento regional e que a instituição não deveria ser usada como moeda de troca e sim como alavanca para o crescimento dos locais onde atua.

Outro ponto é que a direção atual conquistou resultados positivos, como crescimento de 223% e lucro líquido de R$ 744,8 milhões, em 2019. O nome cogitado para assumir o cargo é do deputado Arthur Lira (PP-AL) — investigado da Operação Lava Jato. A informação, porém, ainda não foi oficializada.

Atualmente, o BNB é responsável por 66% do microcrédito urbano brasileiro. O professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e PhD em Desenvolvimento Regional, Lauro Chaves, frisa que a instituição é fundamental para a redução de desigualdades socioeconômicas e, atualmente, é a principal ferramenta do Nordeste para políticas neste sentido. Ele defende que a gestão deve ser escolhida de forma técnica e meritocrática. “A atual gestão do Banco (Romildo Rolim) tem se mostrado bastante proativa, eficiente e técnica. Se a mudança se confirmar, temos que aguardar quem seriam os indicados e se haverá transformações nas políticas internas”, aponta.

Outra questão é que uma modificação neste momento implicaria interrupção de algumas atividades. “Isso não é bom, mas faz parte do ambiente político, como houve em todas as trocas de articulação ao longo da história”, diz. Para Lauro, o fundamental, do ponto de vista econômico, é que seja realizada uma política de negociações de dívidas dos fundos de Investimentos do Nordeste (Finor) e Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) para a regularizar as operações de acesso ao crédito das empresas, contribuindo com o desenvolvimento regional.

A possibilidade de uma substituição em meio à crise da pandemia do novo coronavírus foi criticada por políticos cearenses. O deputado federal Mauro Filho (PDT), secretário do Planejamento e Gestão do Ceará licenciado, avaliou que o momento é crítico para trocas. “Hoje, o BNB está bem conduzido e tem buscado atender com a maior dimensão. Não sei se o Banco é para estar em discussão na política”, disse.

Já o Deputado estadual, Renato Roseno (PSOL), diz que uma substituição neste momento pode trazer impactos econômicos ainda mais duros. “O BNB é o nosso principal agente de fomento. Dos cinco milhões que se tornarão pobres em razão da pandemia, metade está no Nordeste. Precisaremos estar mais próximos das políticas distributivas e não fazer loteamento de cargos para salvar um iminente impeachment”. “Isso é um escárnio com a sociedade brasileira, especialmente, com os nordestinos. Se houver essa nomeação, teremos de levar ao Superior Tribunal Federal (STF)”, acrescenta.

Em dezembro de 2019, cogitava-se fundir o BNB com o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Projeto que não teve muita popularidade e foi guardado na gaveta. Procurado, o BNB não se pronunciou sobre a possibilidade da nomeação até o fechamento desta edição.

O POVO também tentou contato com o Partido Progressista (PP), mas não obteve retorno. Questionado sobre a situação, o deputado federal Heitor Freire (PSL) informou, por meio de assessoria, que prefere não comentar a questão. O deputado federal Júlio César (PSD-PI), coordenador da bancada do Nordeste na Câmara, também não atendeu as ligações.

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