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Dólar subiu 29,89% desde março e desvalorização do real preocupa
Economia

Dólar subiu 29,89% desde março e desvalorização do real preocupa

Recuo da moeda brasileira é maior do que de outros países em desenvolvimento. Falta de ações do governo na pandemia aumenta risco para investidores
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PRESIDENTE Bolsonaro e ministro Paulo Guedes (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação PRESIDENTE Bolsonaro e ministro Paulo Guedes

Em meio à pandemia do novo coronavírus, a desvalorização do real ante o dólar foi acentuada e chegou a 29,89% desde março. As perdas do real estavam acumuladas desde o início do ano e o total do recuo é de 44,57%. Além do desaquecimento econômico causado pelos efeitos do coronavírus, fatores como a falta de direcionamento no combate ao problema sanitário e instabilidades políticas aumentaram o risco de investir no Brasil.

A moeda brasileira se desvalorizou mais até do que outros de países em desenvolvimento, como México, Colômbia e Rússia. Enquanto no Brasil foi mais de 44%, neste ano, no México foi 29%, na Turquia 17%, e na África do Sul 32%.

O que se fala no mercado é que provavelmente a cotação da moeda norte-americana alcance os R$ 6. Para além da ideia de retomada das atividades econômicas, o doutor em Economia e pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da Universidade de Brasília (UnB), Newton Marques, diz que há falta de direcionamento da equipe econômica por outras alternativas que não sejam de trabalho imediato, mesmo em meio à crise de saúde.

Ele afirma que Paulo Guedes, ministro da Economia, firmou-se num modelo econômico muito ortodoxo, "mas foi pego no contrapé", num momento que exige diferentes tomadas de ação. "Eles acreditam que o livre mercado, privatizações e reformas resolveriam, mas a crise mudou tudo e eles não têm outra alternativa. Não têm plano B. Eles querem que volte a trabalhar, mas o confinamento não é conciliável com isso, pois não existem UTIs para todos".

Em meio à incerteza, continua a retirada de dólares em investimentos no Brasil. O economista explica que eles procuram um ambiente mais favorável, um "porto seguro". Ainda detalha fatores como a queda da atividade econômica, a postura do Banco Central em não utilizar as reservas cambiais para equilibrar o câmbio e as próprias instabilidades políticas e institucionais causadas pelas polêmicas do presidente.

Ontem, em reunião por videoconferência com empresários de São Paulo, Guedes e Jair Bolsonaro insistiram para que eles também pressionassem os governos estadual e municipal para liberação das atividades. O presidente pediu para empresários "jogarem pesado" com governador de São Paulo, João Dória (PSDB-SP). O ministro falou em um "sacrifício" por parte dos empresários e disse que a volta não depende do Governo Federal. "Uma coisa é você ficar um certo tempo fechado. A outra coisa é você de repente descontinuar a produção nacional e mergulhar em uma depressão", afirmou.

Veja comentário de Ricardo Coimbra, presidente do Corecon-CE, sobre a alta do dólar

O entendimento é que o Brasil não pode propor soluções parecidas com a que os Estados Unidos tomou, visto que uma das medidas da piora da percepção sobre o perfil de risco do Brasil é o comportamento recente do indicador que mede a chance de um país dar um calote na sua dívida externa, o Credit Default Swap (CDS). Somente neste ano, o CDS do Brasil subiu 255%. Como comparação, na América Latina, o do México avançou 175% e o do Chile teve aumento de 140% em igual período. Entre emergentes de outras regiões, o da África do Sul subiu 137%, o da Turquia ganhou 112% e o da Coreia do Sul 55%.

Para a doutora em economia e vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Silvana Parente, é uma contradição o presidente falar em melhorar a economia e não atuar em prol do combate à pandemia, gerando mais incerteza. "Todos os países estão passando por crise, e atuando bem mais no combate à crise financeira causada pela pandemia. Na Inglaterra, o governo paga 80% da folha das empresas. E aqui no Brasil ainda temos o agravante de uma crise política e institucional".

A economista ainda diz que o governo vai ter de discutir a ampliação dos auxílios, uma vez que o País não vai se recuperar em dois ou três. "Há também risco sobre o nível de emprego. É preciso forte ação do governo sobre os trabalhadores formais e informais".

Já nas casas de câmbio, a procura pela moeda norte-americana quase não existe. A demanda agora é por conta de pessoas que compraram dólares para viagens canceladas e agora querem vender os ativos. Breno Cysne, diretor de operações da Sadoc Corretora de Câmbio, diz que pessoas com dívidas no Exterior estão antecipando os pagamentos para evitar mais prejuízos com a alta no câmbio. "Tem muita gente antecipando os pagamentos com receio de que o dólar aumente ainda mais", afirma.

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Trump

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse que "é um ótimo momento para se ter um dólar forte", agora que as taxas de juros estão baixas, embora o comércio tenda a ser prejudicado.

 

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